quinta-feira, 31 de maio de 2012

CISCOS DIÁRIOS - 31 DE MAIO DE 2012

Não há chuva que resista às tonterias das palavras rotas. Abro o guarda-chuva e descubro que o Sol é a resistência da noite. Fecho o guarda-chuva e abandono os meus cabelos às gotas da chuva que, embora sejam de água tépida, são pérolas que eu roubo aos descaramentos das nuvens que me perfumam com a linguagem do descrédito. Nesta vida de presunções coloridas, o importante não é a rosa, mas sim as pétalas que a adornam com a placidez do tempo esculpido pelas diatribes das bocas circunspectas. Molhado pela sopa do dia, aprendo, na rigidez muscular dos eventos, a prescrever, a mim próprio, os delírios de nada saber sobre os rigores das tempestades que danam e as bonanças que espumam as raivas adormecidas dos guizos que tilintam nos idílios campestres da levitação prematura. De que falo? De que escrevo? Eis um hábito que nem o monge veste. O tecido é tenebroso e quem o habita abomina os caprichos da natureza humana. São padrões de falácias que se ouvem pelos cantos da boca e que nidificam nas falésias do abstracto, quando, não mesmo, do absurdo. E por falar, em absurdo, eis-me perante a radiosa perspectiva de estes ciscos apresentarem no palco da altivez, as cenas absurdas de nada serem. Ipso facto.   
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 31 de Maio de 2012, na Biblioteca Nacional, às 17H58.
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 31 de Maio de 2012, às 17H59, e, concluído, às 18H26 do dia 31 de Maio de 2012.

AFLUENTES POEMÁTICOS - XIX - ATIRADIÇA

DESCONHEÇO AS SANDÁLIAS DA POSSE
E O AMOR SEM SEDUÇÃO
QUE NAS RODAS DA SOLIDÃO
É UMA GARGANTA QUE TOSSE
NÃO POR SER IRRITADIÇO,
MAS PORQUE A ASMA DO OLHAR
É UMA AMANTE QUE DÁ SUMIÇO
AO PRAZER DE DESNUDAR.
RECONHEÇO NO DOM DA POSE
AS PARCELAS DA INVENÇÃO
QUE ADORNAM O QUE SE COSE
NO FEITIÇO DO CORAÇÃO,
EMBORA O ÍMAN DA FRESTA
NOS BANQUETES DO TACTO
SEJA O ALGOZ QUE RESTA
À NATUREZA DO FACTO.
E POR MUITO QUE A MARÉ TORÇA
O TÉDIO DO VIL ROMANCE
HÁ SEMPRE A CLARA FORÇA
QUE IMPEDE QUE ELE AVANCE
OU PORQUE O SEU CAROÇO
É UM BALOIÇO SEM PAUSA,
OU PORQUE O SEU PESCOÇO
NÃO TEM REGRAS, NEM CAUSA.
E EIS QUE O TEMPO AVANÇA
E A NOITE SE ESGANIÇA 
NESTE POEMA SEM BONANÇA,
MAS DE TEZ ATIRADIÇA.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 31 de Maio de 2012, às 17H11, na Biblioteca Nacional.
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 31 de Maio de 2012, às 17H12, e, concluído, às 17H46 do dia 31 de Maio de 2012.

SUORES FICCIONISTAS - II - A BORBOLETA

Saí do Metro, na Estação do Rato. Segui, lentamente, pela Rua da Escola Politécnica. Por razão desconhecida, a não ser a da velhice precoce, senti-me cansado. Ao chegar ao Jardim do Prícipe Real, sentei-me em um dos seus bancos, bem próximo do velho e moribundo cipestre. Os olhos fugiam-me dos pensamentos e alugavam a sua vista aos prazeres remotos de uma distância invisível. Tudo observava, nada absorvia. Um encanto inesperado sacudiu-me a moleza. Uma borboleta de cores infinitas vercejava, à minha volta, poemas de beleza singular. Subitamente, ausentei-me para o interior do bailado que a borboleta tecia em vistosos círculos. A borboleta acariciou-me o olhar e pediu-me com uma voz encantantória que a levasse comigo. Que escolhesse onde, disse-lhe eu, embaraçado por desconhecer o que pretendia aquela beleza da natureza. Que abrisse a minha mão e a deixasse pousar nela. Estendi a mão aberta, ela pousou, suavemente, e pediu-me que a escondesse no bolso interior do meu blusão. Vais sofucar, disse-lhe eu, receoso. Disse-me que não me preocupasse porque as suas cores eram bolsas de ar. Como, entretanto, entardecera, levantei-me e, com passos rápidos, nem eu sabia porquê, desci a Rua do Alecrim, cheguei ao Cais do Sodré e apanhei o primeiro comboio que me levou para casa. Durante todo percurso, uma miríade de melopeias esconderam-se nos meus ouvidos, avivaram memórias de um futuro sem passado. Mal cheguei a casa, a borboleta abandonou o meu bolso, pediu-me que a afagasse e a colocasse na minha mesinha de cabeceira. Que fosse dormir, disse-me ela. Deitei-me e não tardei a adormecer. Sonhos de lugares e de pessoas de uma beleza estonteante passearam-se, sorridentes, pelos corredores de uma morte inofensiva, até que senti a borboleta abandonar o meu corpo, em um voo elegante e singular, que me acordou do sono profundo em que mergulhara. Para meu grande espanto, todo o quarto estava sob a intensidade de uma luz espantosa. No meio do quarto encontrava-se uma bela mulher que trajava um vestido comprido, luzindo como oiro, os cabelos longos, brilhando como raios de sol e uns olhos claros e límpidos como água. Belas lágrimas escorriam-lhe pelo rosto.
- Não te preocupes, são lágrimas de felicidade. Eu venho de um tempo em que não há tempo. Eu e outros, como eu, somos o orvalho do Universo. Quando a madrugada te acordar, em borboleta me encontrarás. Abre a janela que eu partirei a caminho de um outro qualquer destino. Quando chegar o tempo de partires em teu regaço me aninharei e mil e uma canções te cantarei. Agora é chegado o tempo de voltares a dormir. Mal a madrugada chegou, levantei-me e abri a janela. A borboleta levantou voo, bailou à volta de mim e esfumou-se na névoa da manhâ. Nunca mais voltei a ser o mesmo. Os meus olhos são borboletas de sonhos sedutores.              
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 31 de Maio de 2012, no Comboio da Linha do Estoril, às 11H40.
Escrito, directamente, no blogue, na Bilbioteca Nacional, no dia 31 de Maio de 2012, às 15H23, e, concluído, às 16H34 do dia 31 de Maio de 2012.

FISGADAS POLÍTICAS - VII - DEMISSÃO

A Política não é uma subjectividade eleita pela bondade dos eleitores, nem o Político é uma identidade anónima no seio da área governamental. Um cargo político, seja ele qual for, é um enunciado de responsabilidades, ao qual não se pode fugir, nem que seja para mendigar que a justiça política se abstenha de intervir logo que haja uma evidência de terem ocorrido erros factuais para os quais não há justificação possível. Não se pode afirmar, em política, que se assinam decretos-lei desconhecendo o seu conteúdo. Não se pode decretar inocência, quando factos, comprovados ou não, atingem, directamente, o responsável máximo da área governamental a que eles dizem respeito. Neste caso, há uma medida que se impõe de imediato: a demissão. Contrariamente ao que o visado pensará, não se trata de uma prova de culpabilidade, mas de assumir a posição correcta de se afastar de uma infecção que se instalou, propagou e o resposabiliza, ainda que, indirectamente, pelos factos ocorridos sob a jurisdicção da sua área governativa. O ar está poluído, há que o tornar respirável. A demissão, em política, é um acto responsável perante factos de natureza irresponsável.      
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 31 de Maio de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H18.
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 31 de Maio de 2012, às 14H19, e, concluído, às 14H59 do dia 31 de Maio de 2012.

ZIPS SONOROS - VI - 23 SKIDOO

Uma das bandas que mais me entusiasmou, nos inícios da década de 80, foram os 23 Skidoo que retiraram o seu nome do livro "Book of Lies" de Aleister Crowley.A banda formou-se, em 1979, na cidade inglesa de Londres, por J.C.M.(Johnny) Turbull, A.U.(Alex Turnbull) e Fritz Haaman. Depois de um primeiro 7" "Ethics", muito incipiente, aderiram, sonoramente, aos chamados sons industriais, embora prefira conotá-los com os sons das selvas urbanas, onde se encontram mixagens de sons africanos, indonésios e industriais. O grupo que foi, muitas vezes, comparasdo aos Cabaret Voltaire e aos Throbbing Gristle, sofreram, igualmente, influências dos This Heat e dos A Certain Ratio. Ao assinarem pela editora independente Fetish, beneficiaram do prazer de verem as suas capas discográficas serem tratadas graficamente por Neville Brody.Para se perceber melhor a sonoridade dos 23 Skidoo, aterro numa das suas actuações na WOMAD, em Julho de 1982, a propósito da qual Alex Turbull afirmou "em vez de optarmos pela World Music, usámos ruídos urbanos, latas de gás e explosões. Foi uma barreira de ruídos. Um terço da assistência fugiu imediatamente, mas o que resolveram permanecer, expressaram-se com um "Wow, foi completamente surpreendente."Da discografia dos 23 Skidoo aconselho, vivamente, o 12" "Last Words" e o mini LP "Seven Songs".DISCOGRAFIA:Pineaple:Julho de 1981 - 7" - Ethics/Another Baby´s FaceFetish:Setembro de 1981 - 7" - Last Words/VersionOutubro de 1981 - 12" - The Gospel Comes To New Guinea/Last WordsFevereiro de 1982 - mini LP - Seven SongsMaio de 1982 - 12" - Tearing Up The Plans/Just Like Everybody GregoukaOperation Twilight:Fevereiro de 1982 - LP - The Culling Is ComingEmbora tenham gravado mais alguns 7" e um LP "Urban Gamelan", os 23 Skidoo, em minha opinião, já haviam perdido a sonoridade capilar que mais me deliciava.Fontes: "Rip It Up and Start Again" de Simon Reynolds e "The Great Alternative Indie Discography" de Martin C. Strong.Cascais, 04/12/2009 - Jorge Brasil Mesquita. Jorge Manuel Brasil Mesquita Recriado, em 31 de Maio de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H51.

CRITICARTE - VII - DANTE

No início do século XIII, a cidade italiana de Florença era considerada a cidade mais florescente do centro da Itália, apoiada na manufatura de tecidos, no comércio da lã e dos cereais, além dos negócios financeiros, especialmente importantes devido aos empréstimos concedidos à cúria pontifícia. Em 1252, com o aparecimento do florim, moeda em ouro, constituiu-se uma etapa decisiva da história económica europeia.A partir de 1216, a aristrocacia florentina dividiu-se em duas facções que se opunham uma à outra: os Gibelinos que apoiavam o Imperador Frederico II e os Guelfos que apoiavam o Papa. De 1260 a 1266, o Podestá(autoridade suprema da cidade) e os conselhos foram dominados pelos Gibelinos que se apoiavam em Manfredo, rei da Sicília e filho de Frederico II.Em 1266, os Guelfos derrotaram os Gibelinos, em Benevento, onde Manfredo é morto e passaram a controlar a cidade com o apoio dos franceses de Carlos d Ánjou que foi nomeado Podestá de Florença por um período de sete anos.Em 1289, os Guelfos dividiram-se em duas facções: os "negros"(conservadores) e os "brancos"(comerciantes e banqueiros). Em 1301, a facção dos "negros" passou a controlar os destinos da cidade de Florença.Dante Aligheri nasceu na cidade de Florença, em 1265, no seio de uma família de Guelfos. Em 1288, participou como soldado de cavalaria, em Capaldino, contra Antrinos e Gibelinos Toscanos. Dante apoiante da facção dos "brancos" foi obrigado a exilar-se, em 1301, ano em que a facção dos "negros" ascenderam ao poder. Dante nunca mais regressou a Florença e veio a falecer na cidade de Ravena, em 1321.Literariamente, Dante cultivou o lirismo e a epopeia e transformou a história do homem numa aventura espiritual à luz da revolução cristã, enquanto a poesia condensa o pensamento científico, filosófico e teólogo da Idade Média.Das obras de Dante fazem parte a "Vita Nuova" que é, acima de tudo, um relato poético do amor da sua juventude, Beatriz; o "Convívio" que é composto por três canções e os seus respectivos comentários, complementados por um capítulo de introdução. É, essencialmente, o resultado dos seus estudos filosóficos; "De Monarchia" é um tratado onde Dante expõe problemas políticos, sob um ponto de vista teórico. O tratado está dividido em três livros; finalmente, a obra prima de Dante "A Divina Comédia" que é um poema estruturado em três partes - o Inferno, o Purgatório e o Paraíso - com um total de 33 Cantos.o Inferno, a primeira parte, é um abismo em forma de funil, composto por nove círculos que se vão estreitando até acabarem no centro da Terra, lugar do apoio do vértice, onde Lúcifer habita.Canto Sexto - Terceiro Círculo do Inferno:"Cérbero, fera cruel e monstruosaCom três goelas ladra como um cãoSobre a gente que ali jaz submersa Ele tem olhos avermelhados, a barba engorduradaE o ventre enormeE as patas com unhas arranha, esfola e esquartejaO espírito dos gulosos!A chuva fá-los uivar como cães: ao voltar um Lado do corpo dão alívio ao outro lado; por issoSe revezam muitas vezes os mísero réprobos.O Purgatório, a segunda parte, é o oposto do Inferno. Banhado por praias e rodeado por um vale, é na verdade uma montanha em cujo cume se encontra o Paraíso.Canto XV - Terceiro Círculo"O meu guia que me podia verAgir como um homem que desperta do sonoDisse: "que tens que não te podes ter de péE percorreste uma boa extensão do caminhoCom os olhos fechados e as pernas vacilantesComo um homem vencido pelo vinho ou pelo sono?"Ó meu doce pai, se queres escutar-medir-te-ei o que me apareceu quando meFoi tirado o livre uso das pernas."O Paraíso, terceira e última parte, a que Dante e Beatriz ascendem através de uma esfera de fogo, do Paraíso terrestre ao Celestial, entrando nos diversos céus. O paraíso encontra-se divido em dez círculos que coincidem com as esferas astronómicas e metafísicas.Canto XX:"Quando aquele que tudo iluminajá desce do nosso hemisférioE a luz do dia por toda a parte terminaO céu que dele só há pouco se aclaravaSubitamente aparece luminosoPor muitas luzes que reflictam a sua;E este fenómeno do céu que vem à menteQuando a insígnia do mundo e dos imperadoresNão movem mais o bico a falar""A Divina Comédia", sendo uma obra alegórica, radica a sua originalidade na ordenação, na estruturação que objectiva uma ideia determinada e orientada, respeitando a ideologia da sua época.Biblioteca de Oeiras, 05/06/01/2010 - Jorge Brasil Mesquita - 16H10. Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 31 de Maio de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H40.

MEMÓRIAS SONORAS - IV - PAVLOV´S DOG

Quem se recorda, ainda hoje, de uma banda com o nome de Pavlov´s Dog?. Acredito que restem muito poucos. A banda formou-se em St. Louis, no estado norte-americano do Missouri, em 1973, composta por David Surkamp, Doug Rayburn, David Hamilton, Steve Scorfina e Siegfried Carver, formação que gravou o LP "Pampered Menial" que se tornou, ao longo de todos estes anos, alvo de algum culto. Totalmente composto por temas originais e, revelando, na época em que foi editado, algumas marcas de inovação sonora, o grupo vivia muito à custa do vigor vocal e corporal de David Surkamp, a quem um dos seus poucos seguidores classificou como "um menino de coro em alta velocidade." Além deste LP, os Pavlov´s Dog gravaram, unicamente, um outro, entitulado "At The Sound Of The Bell", em 1976.Provavelmente, a maior importância deste grupo, reside no seu nome que é uma homenagem ao fisiologista russo, Ivan Pavlov (1849 - 1936), prémio Nobel de 1904, que teve o mérito de conceber e desenvolver a reflexologia, estudo do condicionamento dos reflexos, pela qual se pode explicar toda a vida elementar, utilizando cães para executar as suas experiências que lhe permitiram alcançar as conclusões a que chegou. Pavlov encontra-se na origem do parto sem dor, segundo o método "pericoprepilático". A Educação, a Religião, a Propaganda e a Publicidade, fundamentam-se no mecanismo dos reflexos condicionados."A Psicologia apresenta-se-me, nas suas investigações, tal como um homem que caminha na obscuridade, empunhando uma pequena lanterna que apenas ilumina zonas muito pequenas. Compreendereis que com tal lanterna é difícil explorar toda a região. "Tudo são trevas na alma do próximo", proclama o provérbio. As novas investigações objectivas sobre os fenómenos nervosos complexos dos animais superiores permitem, ao invés, a firme esperança do próximo descobrimento, pelos fisiologistas das leis fundamentais que a espantosa complexidade desse mundo interior oculta, tal como se nos revela actualmente."Como é evidente, este texto apenas se preocupou com uma analogia entre o nome de uma banda musical e o investigador das origens dos estudos que levaram à interpretação dos reflexos condicionados, Ivan Pavlov.Fontes: "A Psicologia" de Denis Huisman e excertos de "Les Reflexes Conditionnels" de Ivan Pavlov.Cinemateca, 02/12/2009 - Jorge Brasil Mesquita. Jorge Manuel Brasil Mesquita. Recriado, em 31 de Maio de 2012, às 13H31, na Biblioteca Nacional.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

AFLUENTES POEMÁTICOS - XVIII - HUMANIDADE

NOS CASEBRES DA LOUCURA
ONDE HÁ VULTOS SEM TRIGO
PALAVRAS COMEM ABISMOS
E DECIFRAM OS SEGREDOS
DOS QUE CEGAM A CEGUEIRA
PARA LAMBEREM OS DEDOS
DESSA FOME TÃO ANTIGA
QUE SÓ O AMOR OS CASTIGA
CO´O  RISO FÉRTIL DA DOR
PARA QUE SAIBAM NASCER
ONDE A NOITE É MAIS FUNDA
E A MANHÃ A MAIS LAVADA.
NAS TEMPESTADES DA SEDE
ONDE OS CORPOS SÃO FEBRE
DA ÁGUA MAIS SEDENTA
E DO SANGUE MAIS AMANTE
AÍ FLUI E REFLUI O GRITO
DA MAIS BELA HUMANIDADE.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 30 de Maio de 2012, às 17H28, na Biblioteca Nacional.
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 30 de Maio de 2012, às 17H30, e, concluído, às 17H52 do dia 30 de Maio de 2012.

CISCOS DIÁRIOS - 30 DE MAIO DE 2012

Como eu me rio com a franqueza com que me encanto. São gargalhadas inaudíveis. Permanecem obscuras nos epílogos das minhas noites. Tranformam-se em um rio de palavras que transtorna os sentidos do seu sentido. Desliza transparente, alheio a todas formas de poluição crepuscular. Corre frontal sem que haja o diagnóstico da foz que tudo engole e nada interpreta. Passeio a sua solidão pelas avenidas da vida onde cabe toda uma cidade a fervilhar de sentimentos e de agulhas que lhes mudam, a toda a hora, os rumos dos seus objectivos. As suas águas confundem gargalhadas com mágoas, apanhando-me distraído nas refregas internas que se movem entre as dúvidas que subjugam e as reflexões que distendem os músculos da razão. Das mágoas às saudades vai um rio de horizontes sem as margens dos seus conflitos. Podiam ser lágrimas, mas o rio tudo absolve, tudo absorve com o seu imenso prazer de partir para onde o leito de sonhos lhe afaga as sensações de renascer sem que o lagar das trevas lhe corroa o instinto de sobrevivência. O rio, este rio, de gargalhadas, imensas e transparentes, são um fado que não se canta, mas um segredo que tudo encanta. O rio corre, e, eu, nele, respiro a saúde de ser. 
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 30 de Maio de 2012, às 16H29, na Biblioteca Nacional.
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 30 de Maio de 2012, às 16H30, e, concluído, às 17H07 do dia 30 de Maio de 2012.

CRITICARTE - VI - "O SEGREDO DO BOSQUE VELHO"

De novo, na tranquilidade do bar-restaurante da Cinemateca, escuto os barulhos usuais dos empregados a trabalhar nas suas tarefas habituais, enquanto eu me recordo que no meu blogue "O Comboio do Tempo", havia um espaço intitulado "Um Escritor, Um Livro", onde, em um deles, resumi um pouco da vida do escritor italiano Dino Buzzati (1906 - 1972) e do seu livro mais famoso "O Deserto dos Tártaros" de 1940.Hoje, regresso a Buzzati para escrever sobre outro dos seus livros que me fascinou, imensamente, "O Segredo do Bosque Velho", porque ao abordar o problema do bem e do mal, mistura a fantasia e o fantástico, representados pela intervenção humanizada de uma natureza florestal e as ambições despóticas do Coronel Sebastiano Procolo com o objectivo de rentabilizar o lugar ocupado pela floresta, de que era, em parte, o dono, não hesitando, em pôr em risco de vida, o seu sobrinho Benvenuto Procolo de 12 anos e herdeiro de outra parte da floresta, provocando uma guerra entre os génios, os espíritos e as forças ocultas que povoam a floresta e o velho Procolo.É um livro para se ler de um só fôlego."Parece ter sido uma lebre que, pelas 23:55, divulgou a notícia pela floresta: "O Coronel está a morrer". A frase propagou-se como por encanto, chegou aos confins do Bosque Velho, desceu ao fundo do vale, penetrou nas pradarias desabitadas, atingiu a crista das montanhas.Os pássaros despertados do seu sono, balbuciaram palavras de incredulidade e voltaram a meter a cabeça sob a asa. Mas a notícia tornou-se insistente, repetida pelos esquilos, pelas raposas, pelas marmotas e por muitos outros animais, despertados subitamente do letargo. Os próprios ventos a repetiram, os ventos que se tinham proposto deixarem a floresta em paz pelo início do ano. Evaristo, em pessoa, interrompendo o repouso, girou por todo o lado a divulgar a notícia.Assim na valeira do Lentaccio, na orla dos abetos,reuniram-se os animais da floresta que pareciam ter feito um armistício para a ocasião. Até um velhíssimo urso, diz-se, o último sobrevivente de uma raça, apareceu entre as sombras dos troncos, também ele com a curiosidade de ver como é que Procolo morria. E as árvores em redor ficaram apinhadas de pássaros que disputavam com raivosas bicadas os melhores postos de observação. Por fim, chegaram os génios do Bosque Velho; não todos, pois não teria havido lugares que chegassem. Seriam uns trezentos ou uns quatrocentos e entre eles talvez estivesse Bernardi. Também eles se detiveram entre as árvores para que o Coronel não os lobrigasse."Tornei-me admirador de Buzzati com o "O Deserto dos Tártaros e acabei amante do seu estilo fascinante, em transformar, o vento Evaristo, numa arte de pensamento.Cinemateca, 09/12/2009 - 16H43 - Jorge Brasil Mesquita . Jorge Manuel Brasil MesquitaRecriado, em 30 de Maio de 2012, às 16H07, na Biblioteca Nacional.

CANÇÃO - IX - CEIFA DA NUDEZ

ME PEGUE PELO OLHAR
E, NELE, DOCE SE VEJA
QUE, EU, RONDA DESSE MAR
QUE O CORPO SEU DESEJA
SOU ESTE PORTO DE ABRIGO
ONDE SEU AMOR É LEI
E, EU, CASTO E AMIGO
ME PRENDO A ELE PORQUE SEI
QUE UM AMOR SEM AMOR
É UM CASTIGO DE DOR.

CEIFA DA NUDEZ
NAS ASAS DO CANTO
E EM TI ME PLANTO
COM A FOZ DA TEZ
E A VOZ DO ENCANTO.

SE ESPANTE COM O VENTO
QUE É VIAJANTE DA FESTA
QUE LHE MOLHA O ALENTO
E LHE ARRENDA A SESTA
ONDE O CUPIDO MANDA
E ESTE AMOR CIRANDA.

CEIFA DA NUDEZ...
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 30 de Maio de 2012, às 15H20, na Biblioteca Nacional.
Escrito, directamente, no blogue, na Bilbioteca Nacional, no dia 30 de Maio de 2012, às 15H21, e, concluído, às 15H52 do dia 30 de Maio de 2012.

MEMÓRIAS SONORAS - III - "BÉLA LUGOSI´S DEAD"

Secundando o Manifesto da Bauhaus, o arquitecto alemão Walter Gropius (1883-1969) fundou na Alemanha, em 1919, a Bauhaus – escola de artes e ofícios – inspirando um movimento de Arte de origens socialistas, em que se pretendia anular as barreiras entre os artesãos e os artistas, como se mencionava no Manifesto.
Em Inglaterra, em 1978, nasce uma banda de características góticas que adopta o nome de Bauhaus, inspirado naquele movimento. A memória sonora que aqui se recorda dá pelo nome de “Béla Lugosi´s Dead”, primeiro 12” lançado pelos Bauhaus, em 1978. A composição é dedicada ao actor húngaro Bela Lugosi (1882-1956) que se especializou em papeis de terror, com realce para o papel de Drácula, num filme baseado na história de Bram Stoker (1847-1912).

www.youtube.com/watch?v=zq7xyjU-jsU


Bela Lugosi's Dead
White on white translucent black capes
Back on the rack
Bela Lugosi's dead
The bats have left the bell tower
The victims have been bled
Red velvet lines the black box
Bela Lugosi's dead
Undead undead undead
The virginal brides file past his tomb
Strewn with time's dead flowers
Bereft in deathly bloom
Alone in a darkened room
The count
Bela Logosi's dead
Undead undead undead
Peter Murphy, Kevin Haskins, Daniel Ash e David Haskins.

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 30 de Maio de 2012, às 15H00, na Biblioteca Nacional

HARMONICA BLUES - IV

Os diabitos rubros com os rabinhos dourados, ao aperceberem-se de que havia um veículo estacionado na auto-estrada 999 e que o seu ocupante auscultava o horizonte, regressaram aos meus olhos e eles regressaram à sua cor original: o azulado marítimo. Ao aproximar-me, reconheci o ocupante do veículo. Era Rick Deckard, o famoso caçador de replicantes.
- Andas à caça, Deckard?
- Não, vigio-me a mim próprio.
- Sentes medo, ou julgas-te replicante?
- Nem uma coisa, nem outra. Não gosto da Morte.
- Julgava que um caçador não pensava, só caçava.
- Penso, quando sou obrigado a pensar.
- E será que os replicantes não pensam e gostam do sabor da Morte?
- Não sei, não sou pago para pensar.
- Pensa como um replicante.
- Não me ensinaram a pensar pelos outros. 
Dito isto, Deckard, entrou no veículo e partiu em direcção ao Poente, onde as neblinas do Rato e os Homens se cruzavam em Festins Nus. 
Mal, Deckard, partiu, os meus olhos regressaram ao rubro e, deles, saltaram os diabitos de rabinhos dourados que, felizes, fizeram os skates voar, sempre, em direcção ao Norte e, eu, para os não assustar, levei a harmónica aos lábios e deliciei-os com esse maravilhoso blues "Dust My Broom".  
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 30 de Maio de 2012, às 14H14, na Biblioteca Nacional.
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 30 de Maio de 2012, às 14H15, e, concluído, às 14H48 do dia 30 de Maio de 2012.

QIN

Fala-se, frequentemente, do poderio económico chinês, classificado como uma economia emergente e sobre as consequências que daí poderão resultar para a globalização e para a fragilização das alterações climáticas. Porém a China de que quero falar, circunscreve-se às suas tradições musicais, especificamente, a um dos seus instrumentos tradicionais mais antigos e que melhor exemplificam o seu ancestralismo musical. O instrumento chama-se Qin (pronuncia-se Chin), sendo, igualmente, conhecido por Guquin. O Qin foi, inicialmente, conotado com os ensinamentos de Confúncio e, igualmente, com a filosofia ancestral do Daoismo místico - baseada na união entre a contemplação e a natureza, onde o silêncio é tão importante como o som. Os instrumentos que se compatibilizam com o Qin, são a voz do próprio instrumentista que interpreta, introvertidamente, poemas ancestrais e o Xiao - uma variante de flauta. Os registos únicos e complexos da música para o Qin são conhecidos desde a dinastia de Tang. As anotações musicais - Shenqui Mipu - foram redigidas pelo príncipe Ming, Zhu Quan, em 1425. Desde 1950 que tem sido recreadas algumas das peças musicais dos registos de 1425.O Qin é ouvido, especialmente, pelos seus apreciadores, concentrados na Beijing Qin Association, liderada por LiXiangting do Conservatório Central chinês. Zha Fuxi, Guan Pinghu, Zhang Zijian, Wu Jingghu e Wu Zhaoji são considerados os grandes mestres instrumentistas do Qin e, entre os mais jovens, destacam-se Li Xiangting, Wu Wen´s guang, Li Youren e Cooreg Yi.O Qin é uma variedade de cítara, dotada de sete cordas, tradicionalmente de seda, dedilhadas por instrumentistas de Taiwan e Hong-Kong. Na China propriamente dita, são usadas cordas de metal, prática introduzida com a Revolução Cultural. O Qin, quando tocado, produz sonoridades equivalentes a harmonias etéreas.Sugiro dois discos essenciais dedicados à música do Qin: "Favourite Qin Pieces of Guan Pinghu" de Guan Pinghu e "Chine: L´Art de Qin" de Li Xiangting.Fonte: "World Music" - Volume 2 da Rough Guide.Centro Cultural de Belém, 08/12/2009 - 15H15 - Jorge Brasil Mesquita. Jorge Manuel Brasil MesquitaRecriado, em 30 de Maio de 2012, às 14H04, na Biblioteca Nacional.

FUGAS CULINÁRIAS - III - TRUTA-SALMONADA

Invente-se uma receita, prescreva-se a doce suavidade de um novo sabor.
Compre-se uma truta-salmonada de tamanho médio. Lave-se, muito bem, o peixinho. Corte-se-lhe a cabeça. Abra-se, cuidadosamente, ao meio, a truta-salmonada. Retire-se a espinha central. Tenham à mão de semear, morangos maduros, presunto de Chaves e um melão bem maduro. Lavem-se os morangos, retire-se-lhes as carapuças verdes e cortem-nos em vários pedacinhos. Coloquem-nos na parte inferior da truta-salmonada. Sobre os morangos estendam uma bela fatia de presunto de Chaves, e, por cima desta, uma fatia de melão. Após este preparo, reponham a parte superior da truta-salmonada por forma a que o peixe fique completamente harmonioso. Espetem, na truta-salmonada três palitos para que as duas partes fiquem bem presas. Depois, acenda-se o grelhador, e grelhe-se a truta-salmonada. Para acompanhamento, uma simples salada. Numa saladeira coloque-se umas folhinhas de alface bem lavado, milho doce, rodelas de tomate, ervilhas e uvas brancas. Para a temperar, use-se, apenas, sumo de limão. Depois da confecção, eis que a papinha se encontra pronta a ser deglutida com os prazeres dos deuses.      
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 30 de Maio de 2012, às 13H30, na Biblioteca Nacional.
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 30 de Maio de 2012, às 13H31, e, concluído, às 13H52 do dia 30 de Maio de 2012.

terça-feira, 29 de maio de 2012

ESPIRROS - III - DISSONÂNCIA

A DISSONÂNCIA DA CONSCIÊNCIA É A COERÊNCIA DO SUBCONSCIENTE.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 29 de Maio de 2012, às 18H23, na Biblioteca Nacional.
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 29 de Maio de 2012, às 18H24, e, concluído, às 18H26 do dia 29 de Maio de 2012. 

CISCOS DIÁRIOS - 29 DE MAIO DE 2012

Por muito que saiba o que não sei, só saberei que sei o que não sei. São os limites desses horizontes onde o meu corpo desagua e onde os delírios do pensamento se revoltam contra a maré-baixa dos meus pudores intelectuais. Abandonei a aprendizagem de me aprender para lá do que vivi e para além do que sofro na gasolina diária do meu tanque inerte. Não se trata de inércia. Não, trata-se do tratado que assino, diariamente, para me manter vivo na especulação voluntária de me reinventar, em cada passo que escrevo, em cada nota, em que me imagino, na inocência de uma dor inevitável. Sou um sumário de raízes involuntárias, semeado ao acaso, na impertinência de uma voz que se ama. Os frutos do seu ócio, embora pareçam amargos, revelam, no instante da prova, uma doçura, essa doçura que um edílio amoroso desfruta na gestação do seu paladar. Posso parecer o que não pareço, em horas de cólera, amplificada pelos duches de independência mental e pelos arrebatamentos de violência domesticada, mas a consciência da minha consciência é vítima de uma coerência que deslimita os limites da franqueza e da honestidade para com os caroços das minhas acções. Faço, da sua prática, um oleaduto de naturezas humanas que transmite, nos seus percursos de qualidades congénitas e de argúcias diversas, os estímulos nervóticos dos seus sinónimos prazenteiros. Sabendo o que sei de tudo quanto não sei, direi que sou a subversão da minha sobrevivência.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 29 de Maio de 2012, às 16H18, na Biblioteca Nacional.
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 29 de Maio de 2012, às 16H19, e, concluído, às 16H58 do dia 29 de Maio de 2012.

AFLUENTE POEMÁTICOS - XVII - O AMOR DOS NOSSOS LÍRIOS

NADA HÁ QUE SE INSIRA
NESTE OLHAR DE GEMIDOS,
NEM A BOCA QUE OS SUSPIRA,
NEM OS PÁSSAROS FERIDOS
QUE ME SUGAM PENSAMENTOS
COM AS REVOLTAS DOS VENTOS.
NESTA URGÊNCIA DE VOAR
P´RA ALÉM DA RESISTÊNCIA
QUE ME ABSORVE O SUAR
E A FEBRE DA INCLEMÊNCIA
HÁ O DRAMA DO PAVIO
QUE PERDEU O SEU ESTIO.
E SE ESTE ERRO PARTILHO
COM AS CORDAS DO DESTINO,
MAL ACENDO O RASTILHO
AOS BELOS SONS DO VIOLINO,
EIS QUE A NEVE DA BROCHURA
ME AFAGA A LONJURA.
PERDIDA A AVE DA DISTÂNCIA
E O SONO DA TRISTEZA
É DESCOBRIR A FRAGRÂNCIA
AOS PUDORES DA INCERTEZA
E ENFEITAR COM DELÍRIOS
O AMOR DOS NOSSOS LÍRIOS.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 29 de Maio de 2012, às 15H29, na Biblioteca Nacional.
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 29 de Maio de 2012, às 15H30, e, concluído, às 15H59 do dia 29 de Maio de 2012.

ZIPS SONOROS - V - "DO YOU BELIEVE IN MAGIC"

Sendo velhote como sou, atravessei já muitas décadas de sons, ouvindo, aprendendo a gostar e a desprezar os que me deleitam e os que não me agradam. Sou o que se pode dizer um filho predilecto dos anos 60, onde tudo aconteceu, nasceu e morreu como as papoilas da mocidade. De entre os muios sons que a década produziu, saboreio sempre que posso, os temas refrescantes dos Lovin´ Spoonful, um dos grupos que mais me marcaram, vocabular e sonoramente. O grupo, reconheço, não tem a estatura musical, por exemplo, de uns Doors ou de uns Byrds, mas souberam reproduzir a muita da frescura que os anos 60 produziram e mataram. A história dos Spoonful é interessante porque se cruza com outro dos grupos que foram importantes, do ponto de vista do seu estilo musical, dos velhos anos 60: os Mama´s and Papa´s.John Sebastian, Zal Yanosvsky, Cass Elliot e Denny Doherty formaram os Mugwumps nos inícios dos anos 60, em Nova Iorque. Mais tarde, em 1965, John Sebastian, Zal Yanovsky, Joe Butler e Steve Boone juntaram-se e formaram os Lovin´Spoonful, enquanto Cass Elliot, Denny Doherty fundaram com John Phillips e a sua mulher Michelle Gillian, os Mama´s and Papa´s. Os Spoonful fixaram residência no famoso clube Nova Iorquino, Night Owl Cafe e, graças a isso, conseguiram um contrato com a Kama Sutra Records, gravando o seu primeiro 7", precisamente, com o tema "Do you Believe in Magic". Reconheço que esta introdução, com toda a certeza, é demasiado longa, só para consagrar um dos temas que melhor definem o som dos Spoonful e o seu compositor John Sebastian: "Do you Believe In Magic". Porém, devo afirmar, peremptoriamente, que acredito ma magia da música, quando a ouço, e dos efeitos que ela pode reproduzir no rejuvesnecimento mental de quem a souber ouvir. Com este tema, os Spoonful provaram-no, sem recorrerem a artifícios ou a romagens aos cemitérios sonoros das decadências militantes. Ouve-se, segue-se e concorda-se com o final da magia saboreada: "Believe In The Magic That Can Set You Free", ou "Do You Believe Like I Believe?".Eu creio, que neste país , nesta hora de urgências, permanentemente adiadas, eu acredito na magia que nos liberta de tudo o que nos acorrenta. Obrigado Sebastian, obrigado Lovin´. É claro, que para a juventude de hoje, o tema é uma banalidade que nada tem a ver com os sons por si consumidos: o Heavy Metal, o Rock, o Techno e os seus variantes, o Hip-Hop, o Rap, os Indies, os descendentes do Grunge, o Kunduro e todo um manancial de rótulos sonoros que servem de escape mental ao stress do seu dia a dia. Para os jovens que se interessam pelas origens de todas estas novas sonoridades, talvez encontrem algumas surpresas durante as suas pesquisas. Por mim, arrisco-me a afirmar que dos actuais sons que conheço, agradam-me os dos Editors, dos Strokes, dos Arcade Fire, dos King of Convenience, dos MGMT ("TIme To Pretend"), das senhoras Amy Macdonald, Lily Allen e Katie Melua e, muito especialmente, Andrew Bird, para além da sedutora e sexy Beth Ditto dos The Gossip, apesar da sua envergadura física. Ouçam-na e vejam-na no "Heavy Cross". Enfim, gostos estão aí para se discutirem e ouvirem. Bons sons.Biblioteca de Oeiras, 10/12/2009 - 14H34 - Lisboa, 11/12/2009 - 15H06 e 15H42. Jorge Brasil Mesquita. Jorge Manuel Brasil Mesquita. Recriado, em 29 de Maio de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H52.

SUORES FICCIONISTAS - I - HÁ TRINTA E UM ANOS - III

Percorri a estrada poeirenta que me separava da praia da Comporta. Encontrei as minhas amigas sentadas no alpendre do restaurante que se debruçava sobre o mar. Bebiam umas cervejolas para matarem a sede. Beijei-lhes as faces e sentei-me junto delas. Mandei vir uma cerveja. 
- Tiveste dificuldade em cá chegares? - Perguntou-me a Isa.
- Nenhumas. Os transportes foram preciosos na colaboração que me deram. 
- Pronto para montares a tenda? - Quis saber a Gina com um ar meio trocista.
- Claro! - Percebi com clareza as tonalidades provocadoras da Gina. Era a primeira vez que acampava e nunca tinha montado uma tenda. Para não dar parte de fraco, bebi a cerveja, e disse-lhes que estava pronto para o que desse e viesse. 
- O local onde estão acampadas fica longe daqui?
- Não, fica perto donde estamos. - Respondeu-me a Ana, sossegando-me o cansaço que dava muito nas vistas.
Pagámos a cervejas, levantámo-nos e dirigimo-nos para o lugar que elas tinham escolhido para acampar. Ficava junto à praia. Coloquei a mochila na areia e, dela, retirei tudo o que era necessário para montar a tenda.
- Tens a certeza que não precisas de ajuda, Necas? - Perguntou a Isa, percebendo, à vista desarmada, todas dificuldades que iria ter.
- Não, de maneira nenhuma!
Estendi a base na areia, enterrei os pregos com as cordas e levantei o resto da tenda com as varas que a sustinham. O resultado degenerou em trapalhada, pois não havia maneira de a tenda se manter em pé. As minhas amigas riam-se, em silêncio, até que a Isa me perguntou se tinha trazido um martelo e se não era bem melhor que todas me ajudassem. Remoendo as minhas reticências, agradeci-lhes a ajuda, e, como bem depressa percebi, era fácil montar a tenda. Compreendi que a minha inexperiência teria merecido, desde o início, outro tipo de atitude, outra razoabilidade da minha parte, em encarar o facto de que há sempre uma primeira vez para tudo, há que aprender a desnudar a ignorância. Montada a tenda, a Ana, olhando para o relógio, informou-nos que os nossos estômagos careciam de ser alimentados. Nem disso me lembrara quando parti a caminho da praia. Aguardava-me uma surpresa...              
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 29 de Maio de 2012, às 13H49, na Biblioteca Nacional.
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 29 de Maio de 2012, às 13H50, e, concluído, às 14H37 do dia 29 de Maio de 2012.

CRITICARTE - V - ITALO CALVINO

Quando me lanço à leitura de certos escritores, sou, geralmente, atiçado pelos princípios dos estímulos sensoriais que se agitam no meu interior, provocados pelos seus actos de criação literária. Italo Calvino, confesso, foi paixão à primeira vista. Italo Calvino nasceu em Santiago de las Vegas, Cuba, no ano de 1923 e faleceu em Siena, Itália, em 1985. Sendo italiano, permaneceu em Itália quase toda a sua vida, com a excepção dos 13 anos vividos em Paris, França.Estudou em San Remo até aos 20 anos, incorporando-se na resistência contra o fascismo e contra a ocupação nazi, aderindo ao Partido Comunista Italiano que abandonou, a quando da insurreição húngara. Instalou-se em Turim, após a II Grande Guerra Mundial e ingressou na editora Einaudio, aproveitando para se licenciar em Letras e ocupando o lugar de consultor literário da mesma editora.Na temática das suas criações literárias pode-se encontrar a coexistência do realismo com a fantasia, dando vida a uma realidade transfigurada.De todas as suas obras, seduziram-me, além da trilogia "Os Nossos Antepassados", composta pelo "Visconde Cortado ao Meio" de 1952, "O Barão Trepador" de 1957 e o "Cavaleiro Inexistente" de 1959, os livros "Cosmicómicas" de 1965, "As Cidades Invisíveis" de 1972 e "Palomar" de 1983.Como aperitivo literário, apresentarei pequenos resumos e alguns excertos de alguns dos livros mencionados."O Visconde Cortado ao Meio": um clássico da literatura fantástica em que o real e o imaginário se fundem numa unidade perfeita. A fantasia, a fábula, a ironia são um desafio contínuo à frieza inumana do mundo moderno."Não há noites de lua em que, nos animais perversos, as ideias pérfidas não se enredam como ninhadas de serpentes e em que, os animais bondosos, não floresçam lírios de renúncia e dedicação. Deste modo, as duas metades de Medardo vagueavam atormentadas por diferentes e opostos propósitos pelos despenhadeiros de Terralba.""Cosmicómicas": Qfwfq, protagonista do livro conta as suas aventuras nas épocas mais remotas da história cosmológica, astronómica, geológica e biológica, afirmado ter sido testemunha ocular de todos os conhecimentos ocorridos desde o Big Bang."E no fundo em cada um dos olhos habitava eu, ou seja, habitava outro eu, uma das imagens de mim e encontrava-me com a imagem dela, no ultramundo que se abre ao atravessar a esfera semi-líquida das íris, o escuro das pupilas, o palácio dos espelhos das retinas, o nosso verdadeiro elemento que se estende sem margens nem confins.""Palomar": será possível encontrarmos um sentido nas coisas do mundo à nossa volta? E dentro de nós próprios? O Sr. Palomar está muito longe de ter a certeza quanto a tudo isso. Todavia, continua à procura. O Sr. Palomar é sem dúvida o autor, mas não só. Somos todos nós os leitores deste livro."O Sr. Palomar caminha ao longo de uma praia solitária. Encontra poucos banhistas. Uma mulher jovem está estendida na areia, apanhando sol com os seios descobertos. Palomar, homem discreto, volve o seu olhar para o horizonte marinho. Sabe que em semelhantes circunstâncias quando um desconhecido se aproxima, as mulheres, geralmente, apressam a cobrir-se e isso não lhe parece bem; porque é aborrecido para a banhista que apanha sol tranquilamente; porque o homem que passa importuna; porque o tabu da nudez fica implicitamente confirmado; porque as convenções não inteiramente respeitadas propagam a insegurança e a incoerência no comportamento, em vez da liberdade e da fraqueza."A conversa entre mim e o escritor Italo Calvino, talvez tenha sido longa demais, mas foi concerteza saborosa para quem apreciar leituras que estimulem os navios que nunca naufragam porque conhecem bem as rotas que traçaram.Biblioteca de Oeiras, 03/12/2009 - Jorge Manuel Brasil Mesquita. Recriado, em 29 de Maio de 2012, na Biblioteca Nacional,às 13H37.

ESPIRROS - II - COMICHÃO

A COMICHÃO QUE AS DORES HUMANAS CAUSAM, É A OFERTA GRACIOSA DAS CÓCEGAS POLÍTICAS COM QUE OS POLÍTICOS SE DISFARÇAM PARA DELA TIRAREM O MÁXIMO PROVEITO.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 29 de Maio de 2012, às 13H21, na Biblioteca Nacional.
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 29 de Maio de 2012, às 13H22, e, concluído, às 13h29 DO DIA 29 DE mAIO DE 2012.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

CISCOS DIÁRIOS - 28 DE MAIO DE 2012

Não há sorrisos que despontem no poente da vida sem que o sol da noite efabule o silêncio das pupilas. Os remos da coragem são ramos de pranto escondido nos refúgios da mente que saboreia as doçuras dos seus frutos e, delas, recebe as carícias do tempo que engana a Morte com anúncios de Vida. O corpo manifesta o prazer de se sentir, sentindo o que não se sente nos segredos de uma natureza morta. Este seu pincel, que é uma dádiva de cores, besunta-me a pele de cinza com a realidade dos sentimentos que chora a alegria de uma mudez que, em cânticos de pureza, restaura a serenidade das águas que me modelam as mágoas com os assombros de uma aurora redentora. Nascente serei, onde o Poente desfalece.  
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 28 de Maio de 2012, às 17H48, na Biblioteca Nacional.
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 28 de Maio de 2012, às 17H49, e, concluído, às 18H17 do dia 28 de Maio de 2012.

AFLUENTES POEMÁTICOS - XVI - DOR DE FERA CRUA

NESTE LONGO CAMINHO
DE ACIDEZ DANINHA
JÁ SE PESCA À LINHA
O RISO DO MINDINHO
QUE SOBRE O ASFALTO
DA PARADA IMORTAL
LEVANTA A MORAL
À NOITE DO BASALTO
E ACENDE AO DIA CRUEL
AS ALGEMAS DO MEL.
DE CELAS NÃO SE FALA
NEM DO SEU CORAÇÃO,
MAS QUANDO SE RESVALA
P´LA COSTELA DE ADÃO
É EVA QUEM SE AQUECE
E NÃO A SUA RAZÃO
QUE AO CALOR ESTREMECE
E AO FRIO EMUDECE.
E SE A DOR SE ENFRENTA
COM A FOZ DA MALÍCIA
EIS QUE A CARNE INVENTA
À SUA VOZ, A CARÍCIA
QUE EM TUDO DESCOBRE
O DOCE VÉU DO COBRE
QUE AO TEMPO ENCOBRE
A FEBRE DE MORRER
NO AMOR DE NASCER
P´RA QUE O TEMPO DILUA
A DOR DA FERA CRUA.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 28 de Maio de 2012, às 14H50, na Biblioteca Nacional.
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 28 de Maio de 2012, às 14H51, e, concluído, às 15H29 do dia 28 de Maio de 2012.

METAL HURLANT

Um quarteto, amantes da Banda Desenhada, composto por Jean Giraud, Philippe Druillet, Jean Pierre Dionnet e Bernard Farkas fundou, em 1975, um periódico dedicado à ficção científica, entitulando-a Metal Hurlant. Com uma periocidade trimestral, a revista no seu primeiro número continha 16 páginas a cor e 52 a preto e branco, contando com as participações de Jean Giraud/Moebius (com Arzach), Philippe Druillet (com Gail), Richard Cobern e Jean Claude Gal (com Les Armées du Conquerant e cenários de Jean-Pierre Dionnert).Em 1976, a revista passou de bimestral a mensal. A Metal Hurlant ganhou importância entre os amantes da Banda Desenhada devido aos imensos talentos que foi revelando ao longo da sua vida. Em 1978, a Metal Hurlant tornou-se numa revista de temática abrangente, abandonado a exclusividade da ficção científica. Com a sucessiva partida dos seus quatro fundadores e após uma série de vicissitudes a Metal Hurlant interrompeu a sua publicação, em Agosto de 1987.
Biblioteca de Oeiras, 03/12/2009 - Jorge Brasil Mesquita
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 28 de Maio de 2012, às 14H33, na Biblioteca Nacional.

MEMÓRIAS SONORAS - II - CORTEZ THE KILLER

A memória sonora de hoje relaciona-se com factos acontecidos com o povo Azteca, povo oriundo do Norte do território a que hoje se chama México e que se instalou junto do lago Texcoco, em 1312, fundando a cidade de Tenochtitlan (actual cidade do México), em 1325, dando origem a uma próspera e desenvolvida civilização Azteca.
Em 1519, o conquistador espanhol Hernan Cortés (1485 – 1547) tentou penetrar no território Azteca, mas encontrou a oposição do Imperador Montezuma II (1466 – 1520). Inebriado pelas riquezas do reino dos Azteca, Cortés insistiu com o Imperador, até que este cedeu, contra a vontade do seu povo que se revoltou e enfrentou os espanhóis que invadiram e bombardearam Tenochtitlan, cuja população enfraquecida pela varíola, se submeteu a Cortés que, entre 1523 e 1525, dizimou completamente a civilização Azteca, o que hoje seria considerado um genocídio. O Imperador viria a morrer de fome em 1520, em consequência do conflito.
Em 1975, Neil Young, um dos notáveis sobreviventes dos anos sessenta, editou o álbum “Zuma”. O projecto inicial do álbum tinha como objectivo abordar as civilizações Maia e Azteca. Infelizmente, apenas restaram do projecto, o título do álbum que é a parte final do nome do Imperador Monte(zuma) e esta memória sonora de hoje “Cortez The Killer”.

www.youtube.com/watch?v=pSj5yOK_mt4
Cortez The Killer
by Neil Young
He came dancing across the water
With his galleons and guns
Looking for the new world
In that palace in the sun.

On the shore lay Montezuma
With his coca leaves and pearls
In his halls he often wondered
With the secrets of the worlds.

And his subjects gathered 'round him
Like the leaves around a tree
In their clothes of many colors
For the angry gods to see.

And the women all were beautiful
And the men stood straight and strong
They offered life in sacrifice
So that others could go on.

Hate was just a legend
And war was never known
The people worked together
And they lifted many stones.

They carried them to the flatlands
And they died along the way
But they built up with their bare hands
What we still can't do today.

And I know she's living there
And she loves me to this day
I still can't remember when
Or how I lost my way.

He came dancing across the water
Cortez, Cortez
What a killer.

Neil Young
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 28 de Maio de 2012, às 14H14, na Biblioteca Nacional.

FISGADAS POLÍTICAS - VI - GRÉCIA

Vivemos em tempos áridos nos bonsais da política. Afirma-se que se vive em Democracia, mas quando se fala em Democracias domésticas, assiste-se a toda uma série de intromissões externas de personalidades que são as vespas venenosas das Democracias policiadas. As pressões que são exercidas sobre a Grécia não passam de ameaças ideológicas e de chantagens políticas visando colocar no poder quem dobre a espinha às visões especulativas da Kaiser Fraulein Angela Merkel e aos empréstimos infectados dessa Troika que prestaria um favor à Europa evaporando-se para os vales terciários das ignorâncias que revelam quando propõem directivas que, em vez de fortalecerem economias, as enterram nas profundezas do inferno. A Grécia faria um grande favor à Europa se votasse, sem constrangimentos, no Syriza, para que, este, assuma os destinos gregos, e se recusasse, sem receios de qualquer natureza, abandonar o Euro. A Troika que vá lamber as feridas das suas ideias arcaicas para os porões das economias que lhes engolem os favos das recessões que provocam e que afogue as suas mágoas nos domínios de Hades, onde o seu destino será memorável. Truca, truca na Troika!        
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 28 de Maio de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H32.
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 28 de Maio de 2012, às 13H33, e concluído, às 14H01 do dia 28 de Maio de 2012.

sábado, 26 de maio de 2012

AFLUENTES POEMÁTICOS - XV - AMOR DOS INSTANTES PRECISOS

OUVE OS GAMOS DO VENTO
E NÃO TE ESQUEÇAS,
AMOR DOS INSTANTES PRECISOS,
DE CONVERSAR COM OS MEUS LÁBIOS,
DE BEIJAR O MEU OLHAR
COM AS CARÍCIAS DAS PALAVRAS
QUE ROMPEM NÉVOAS DE TRISTEZA
QUE PURIFICAM AS IDEIAS SUBTIS
DOS DEDOS SENSÍVEIS
À TERNURA DOS DESEJOS,
DOS SORRISOS CAMPESINOS
QUE, EM PÉTALAS DE PERFUME,
SÃO OS DELÍRIOS DA FOME
QUE SÓ A PELE DA NUDEZ ME COBRE,
AMANTE DOS INSTANTES PRECISOS. 
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 26 de Maio de 2012, às 14H44, na Biblioteca Nacional.
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 26 de Maio de 2912, às 14H45, e, concluído, às 14H57 do dia 26 de Maio de 2012.

CISCOS DIÁRIOS - 26 DE MAIO DE 2012

Que sei eu de mim neste cemitério de ideias onde as flores da memória são pedaços de vida violada pelas sombras de um Passado que se esmeram nos confrontos do seu Futuro. Diariamente, sou arrebatado pela incoerência das minhas coerências na sublevação de uma consciência que se afoga em realidades. Em que realidade pairam os sonhos do mesmo sonho que toca a reunir na parada das avenidas e das vielas que cruzam a cidade com os rumores do seu frenesim carnal? Subo, sob uma aurora de várias sonoridades, e, desço, atravessado pelo rio precioso das águas sedentas de uma foz que lhes cante o irracionalismo de uma poesia racional. As luzes da noite banham as águas do meu olhar. Os versos que a decoram são bailados urbanos de fugas tempestuosas, de brisas encantadas que pernoitam no cansaço dos corpos. Corpos que são gritos de agitação fluvial, argumentos de uma película que se vislumbram nos grandes ecrãs da vida. Por ti, passam estas horas de nada e, regado pelos encantos dos teus lábios silenciosos, adormeço, abraçado a um prazer que desconheço, carente de um afago de fogo celestial. Afinal, eu, sou este apetite sensorial que se move por entre os lençóis da noite, descobrindo, aos ponteiros do tempo, a realidade de uma viagem madura.    
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 26 de Maio de 2012, às 14H03, na Biblioteca Nacional.
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 26 de Maio de 2012, às 14H04, e, concluído, às 14H33 do dia 26 de Maio de 2012.

HARMONICA BLUES - III

A poeira do tempo é a sobra das memórias. A harmónica é a absolvição da memória e, eu, sou a poeira do seu tempo. O meu olhar vidrado perturbou-se com o aparecimento de uma pequena nuvem cósmica que, esfumada, revelou uma presença feminina e a sua bicicleta colorida. O seu corpo era alto e magro. os seus olhos, a luz do céu. O seu cabelo assemelhava-se ao feno solar, onde se via um rabo de cavalo que transmitia ao seu rosto magro uma jovialidade, fresca e pueril. Vestia umas calças floridas e uma blusa roxa. O seu olhar penetrou, profundamente, no meu e, eu senti, uma espécie de longevidade a aconchegar-se na trivialidade da minha vida. A sua voz melodiosa fez-se ouvir naquele espaço desértico e poeirento:
- Sabes onde fica a Desolation Row, de Dylan?
- Thomas?
- Não, Bob.
- Ah! O da auto-estrada 61?
- Esse mesmo.
Levantei o braço e com o indicador esticado apontei-lhe o caminho do Sul.
- Fica para além do labirintíco Finisterra, entre a Guerra dos Cem Dias e a Guerra das Rosas. Depois assinas o Tratado de Versalhes e obténs o salvo-conduto para a Desolation Row.
-Obrigada.
Dita a informação, colocou, na cabeça, um capacete de cores várias, saltou para cima da bike e perdeu-se na invisibilidade de uma despedida inútil. 
Os diabitos rubros com rabinhos dourados vendo a súbita  tristeza que pairava no meu olhar, pegaram em mim, colocaram-me em cima dos skates e conduziram-me a caminho do Norte. Levei a harmónica aos lábios e entrelacei a atmosfera com as notas do blues On The Road Again. Com diabos à solta a vida é um prego a fundo. Queimam-se memórias, avivam-se os boatos do Futuro.     
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 26 de Maio de 2012, às 12H59, na Biblioteca Nacional.
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 26 de Maio de 2012, às 13H00, e, concluído, às 13H35 do dia 26 de Maio de 2012.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

AFLUENTES POEMÁTICOS - XIV - PASSOS CIRCUNFLEXOS

ESTES PASSOS CIRCUNFLEXOS
DEDILHAM COMPASSOS SEM NEXO,
PALMILHAM PODEROSOS AMPLEXOS
EM ESPELHOS SEM REFLEXO,
INUNDAM ÍTACAS DE FOGO
E ÉBRIOS DE TRAGÉDIA
INVENTAM PRÓLOGOS DE JOGO
QUE PASTOREIAM A IDADE MÉDIA
E REMATAM CONSELHOS DE TÉDIO
COM FULGURÂNCIAS IMPRUDENTES
E ACTOS DE PEÇAS SEM REMÉDIO
ENTRE CULTURAS IMPOTENTES
E AMOSTRAS DE ASSÉDIO
QUE RASTEJAM COMO VIS SERPENTES
NOS BRAÇOS REPELENTES DO TÉDIO.
NESTES BISTURIS DE VELHACO
RONDAM AS BACANTES DE BACO
QUE, EM HORDAS FÁLICAS,
BRANDEM AS ORGIAS METÁLICAS
DOS PASSOS CIRCUNFLEXOS
NAS ESCRITURAS DOS SEUS ANEXOS.
AH!AH!AH!AH!
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 25 de Maio de 2012, na Biblioteca Nacional, às 15H59.
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 25 de Maio de 2012, às 15H59, e concluído, às 16H22 do dia 25 de Maio de 2012.

CRITICARTE - IV - CONSTRUTIVISMO RUSSO

Quando gastei um post  com o excelente gráfico inglês Neville Brody, este especificou que uma das suas grandes influências tinha sido o Construtivismo Russo."Dicionariamente", o Construtivismo foi um movimento do primeiro quartel do século XX, com origem na Rússia, que preconizava a construção geométrica das formas, recorrendo a elementos não figurativos e valorizando os aspectos técnicos da obra.O Conctrutivismo Russo acompanhou, paralelamente, as experiências artísticas da Bauhaus, na Alemanha e da escola de De Stijl, na Holanda,- outra das influências de Neville Brody - que foram caracterizadas pelo interesse na abstracção pictórica e pela sua adesão (pelo menos parcial) ao pensamento socialista.O crítico Kikolaj Punin foi quem primeiro utilizou a palavra Construtivismo, referindo-se aos contra-relevos do escultor e arquitecto russo Vladimir Tatlin (1885 - 1953), realizados entre 1913 e 1914. O movimento só se torna realmente efectivo com o Manifesto Realista dos irmãos ex-russos, o escultor Naum Gabo (Naoun Pevsner)(1890 - 1977), naturalizado Estado-Unidense e o escultor Anton Pevsner (1886 - 1962), naturalizado francês, e pelas teses produtivistas do artista russo multifacetado Alexandr Rodchenko (1891 - 1956).Com a revolução russa surge a simbiose entre a arte e a política, em que são discutidas ou rejeitadas as tendências artísticas da época, tais como, o Cubismo, o Dadaísmo e o Futurismo. Assiste-se ao repúdio da arte burguesa ao consumismo cultural estandardizado. O pintor russo Kasimir Malevich (1878 - 1935) formula o Suprematismo, em 1913, que consiste na "supremacia da ideia e da sensação pura", exemplificado pela série dos seus quadrados "Quadrado Branco sobre Fundo Branco", de 1917.A Frente de Esquerda das Artes (LEF)do cineasta russo Serguei Eisentein (1898 - 1948), do escritor russo Vladimir Maiakovski (1894 - 1948)e do escritor e jornalista Isaac Babel (1894 - 1940)apresentavam como teoria artística "a arte colectiva do presente é a vida construtiva", concebendo a técnica como a abolição das tradições burguesas.O termo "obra" é substituído por "coisa" (objecto), onde se incluem a luz, o espaço, o plano, a cor e o volume.Outro dos artistas fundamentais do Construtivismo Russo foi o arquitecto, gráfico e pintor Lazar El Lissitzky (1890 - 1941)que define a função do artista como sendo a do "construtor de um novo universo de objectos". Aderindo ao Suprematismo, Lazer serve-se do termo Proun para definir projectos concretos, sínteses de forma e matéria que vai desenvolver em obras do grafismo publicitário, da edição, da arquitectura e do design, como, por exemplo, se pode observar nas suas obras no campo tipográfico "De Dois Quadrados, Em Voz Alta, As Quatro Operações", que foram utilizadas no processo educativo de gerações inteiras de artistas gráficos.No Construtivismo Russo, o sonho da arte ao serviço da sociedade exprime-se, igualmente, através da execução de obras de arquitectura pública, de que foram exemplos a maqueta preparatória do Monumento à III Internacional de 1919, os projectos para o Palácio do Trabalho e para os escritórios do jornal Pravda, em Leninegrado, o Pavilhão para a Exposição de Artes Decorativas de Paris, em 1925. Destaca-se, também, na década de 20 o génio urbanístico de Ivan Leonidov (1902 - 1959).Porém, com a ascensão ao poder de Josef Estaline (1879 - 1953), a partir dos anos 30, o pensamento livre deixa de existir e o Construtivismo, juntamente com toda a actividade artística de vanguarda, cessa o seu processo de desenvolvimento criativo.
Lisboa, 11/12/2009 - 15H34Biblioteca de Oeiras, 12/12/2009 - 12H41Centro Cultural de Belém, 13/12/2009 - 16h07Biblioteca de Oeiras, 14/12/2009 - 11H00Jorge Brasil Mesquita
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 25de Maio de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H52.

APITOS BOLÍSTICOS - II - SELECÇÃO NACIONAL

É já, ali, ao virar da esquina, que sobre o relvado fresco e, com a bola, saltitando, poeticamente, entre as botas dos jogadores, se dará início aos compassos de mais uma composição suada por parte da selecção portuguesa, no Campeonato da Europa de 2012. O Grupo em que participamos não é pêra doce. Teremos que enfrentar a fortaleza alemã, o dinamismo fogoso dinamarquês e a fibra criativa holandesa. Que estratégia, que táctica arquitectar para todos ultrapassar como se tudo se tratasse de uma filigrana das descobertas. Colocando-nos na pele do Senhor Paulo Bento e, ao observarmos, a massa muscular e criativa dos nossos jogadores, eis o que um adepto de bancada teceria para que as hostes portuguesas delirassem com o sabor das vitórias. Avaliar, estudar os ritmos, estruturar a geometria necessária ao fio de jogo que permita à selecção prostrar a seus pés as arrogâncias dos nossos adversários. Como não podia deixar de ser optaria por um 1x4x4x2 maleável que tanto se poderia transformar em um 1x4x3x1x2 como em um 1x4x1x3x2. Que jogadores utilizar para satisfazer tais requesitos? Simples, no raciocínio, complicado, na prática. Rui Patrício na baliza; Miguel Lopes, Pepe, Bruno Alves e Fábio Coenrão, o quarteto defensivo. Riscado o fácil, passemos ao difícil: Custódio, Raul Meireles, Hugo Viana e João Moutinho seriam os actores do meio campo que tanto seria um quadrado - Custódio e Meireles os dois mais recuados e Hugo Viana e João Moutinho, os mais avançados - como um losango - Custódio, o mais atrasado, Meireles e Viana, nas laterais e Moutinho, no topo. Ronaldo e Nani, os avançados. Sem ponta de lança? É uma realidade. Ambos seriam avançados volantes em toda a largura do terreno. Em todo este sistema, que pretende formar um grupo compacto, não me esqueci que qualquer dos médios é bom a rematar, quer de meia distância, quer dentro da área. No caso de se optar por Ronaldo e um ponta-de-lança a escolha depende do opositor. Hugo Almeida, para os jogos com a Alemanha e com a Dinamarca e, Helder Postiga, contra a Holanda. Tudo acaba por se tornar fácil quando se examina à lupa a matéria humana de que se dispõe, mas torna-se complicado quando, nós os adeptos de bancada, não estamos em contacto diário com os jogadores, nem estamos por dentro da filosofia, estratégica e táctica, do Senhor Paulo Bento que, muito melhor do que nós, tem capacidade para avaliar situações que a todos nós nos escapam por não convivermos, diariamente, com as vicissitudes do treino. A minha intenção é gabar as virtudes que encontro na selecção nacional e, sem pinta de vaidade, contribuir para um pensamento futebolístico que, avaliado, ou não, não passa disso mesmo: uma visão global para uma minúcia elementar. Para já, os desejos de um boa preparação, os desejos de um bom princípio futebolístico.     
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 25 de Maio de 2012, às 13H21, na Biblioteca Nacional.
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 25 de Maio de 2012, às 13H23, e, concluído, às 14H28 do dia 25 de Maio de 2012.

NEVILLE BRODY

Durante as décadas de 80 e 90, Neville Brody foi considerado como um dos mais importantes e inovadores gráficos da UK.
Neville Brody nasceu em 1957, na Escócia e cresceu nos subúrbio nortenhos da cidade inglesa de Londres. Em 1975, entrou para a Hornsey College of Art, cuja reputação para o experimentalismo e para o debate floresceu após a ocupação estudantil de 1968. Em Hornsey, foi confrontado pelos conflitos que se geravam entre as artes de excelência e a aplicação das mesmas comercialmente. em 1976, frequentou um curso de desenho gráfico no London College of Printing. Contudo, Brody sentiu-se limitado e optou por se lançar na arena do desenho gráfico de uma pictórica e emocional.
Ao recordar as suas ambições iniciais, afirmou que "sentiu que no interior da comunicação de massas, o aspecto humano foi completamente posto de parte. Quis compreender as imagens diárias que o rodeavam naquela altura e o processo de manipulação,particularmente, no interior da arte publicitária. Ao entender os mecanismos a um nível básico, esperava produzir o efeito contrário ao interiorizá-las na mente humana."
Os seus primeiros trabalhos foram desenvolvidos nas editoras independentes Stiff e Fetish, influenciados pelo Construtivismo Russo e pela escola holandesa de De Stijl. Em 1981, foi convidado por Nick Logan da revista Face, considerada a "revista mais bem vestida do mundo"que sob a direcção de Brody se transformou na Bíblia do Estilo de toda uma geração, que em 1983foi votada a revista do ano e cognominada "o barómetro do estilo pop". Brody utilizava o desenho gráfico como o seu principal instrumento de trabalho em detrimento das fotografias e da cópia estrutural.
As técnicas de Brody rejeitavam a linearidade e o seu estilo foi sendo amplificado e desenvolvido na World Wide World. Por outras palavras,Brody desenhou a Net na página impressa, muito antes que alguém soubesse que tal existisse. Em 1984, Brody renovou graficamente a Face e no ano seguinte a Photographer´s Gallery apresentou uma retrospectiva da revista Face, enquanto Brody foi, ele mesmo, alvo de uma exposição no Victoria and Albert Museum. Em 1986, Brody desenhou a revista New Socialist que se afirmou como uma espécie de forum para a política cultural de esquerda.
Em 1990, Brody co-fundou a Fontworks, uma companhia de desenho tipográfico preparada para a era digital.
Em 1998, Brody trabalhou para a Nike, a Swatch e para o New York Museum of Modern Art.
Brody foi um inovador dos tempos modernos, mas considera-se, igualmente, enraizado nas tradições da arte pura aplicada e um violador de regras, sabendo quais as regras que foi rasgando.

Monumental Saldanha, Lisboa, 06/12/2009 - Jorge Brasil Mesquita
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 25 de Maio de 2012, às 12H54, na Biblioteca Nacional.