sábado, 30 de junho de 2012

MEMÓRIAS SONORAS - XX - "THE PARTISAN"

Enquanto a França viveu sob a ocupação da Alemanha Nazi, durante a II Grande Guerra, formaram-se vários grupos de guerrilheiros que constituíram A Resistência. Um desses grupos denominava-se Partisans que combatiam apoiados pela força aglutinadora do seu hino “Le Chante de Partisan”, composto por Maurice Druon e Joseph Kessel. Porém, este hino baseou-se numa composição, em russo, de Anna Marly, com tradução posterior para inglês de Hy Zaret. Foi este “The Partisan” que o poeta e cantautor canadiano Leonard Cohen contribuiu para a sua divulgação junto da juventude dos anos 70, como homenagem à Resistência Francesa e contra toda a forma de imperialismos. O tema retrata a caminhada de um Partisan, na sua acção de resistência. “The Partisan” é uma das faixas incluídas no álbum “Songs From a Room” de 1969. Seguem-se os acessos ao You Tube e os poemas de cada um dos temas:

www.youtube.com/watch?v=oG4ndbhOkpI

"The Partisan"

When they poured across the border
I was cautioned to surrender,
this I could not do;
I took my gun and vanished.
I have changed my name so often,
I've lost my wife and children
but I have many friends,
and some of them are with me.

An old woman gave us shelter,
kept us hidden in the garret,
then the soldiers came;
she died without a whisper.

There were three of us this morning
I'm the only one this evening
but I must go on;
the frontiers are my prison.

Oh, the wind, the wind is blowing,
through the graves the wind is blowing,
freedom soon will come;
then we'll come from the shadows.

Les Allemands e'taient chez moi, (The Germans were at my home)
ils me dirent, "Signe toi," (They said, "Sign yourself,")
mais je n'ai pas peur; (But I am not afraid)
j'ai repris mon arme. (I have retaken my weapon.)

J'ai change' cent fois de nom, (I have changed names a hundred times)
j'ai perdu femme et enfants (I have lost wife and children)
mais j'ai tant d'amis; (But I have so many friends)
j'ai la France entie`re. (I have all of France)

Un vieil homme dans un grenier (An old man, in an attic)
pour la nuit nous a cache', (Hid us for the night)
les Allemands l'ont pris; (The Germans captured him)
il est mort sans surprise. (He died without surprise.)

Oh, the wind, the wind is blowing,
through the graves the wind is blowing,
freedom soon will come;
then we'll come from the shadows.

Anna Marly/ Hy Zaret


youtube.com/watch?v=QRhg-Ioik8c

Le chant des partisans
Ami, entends-tu le vol noir des corbeaux sur nos plaines ?
Ami, entends-tu les cris sourds du pays qu’on enchaîne ?
Ohé, partisans, ouvriers et paysans, c’est l’alarme.
Ce soir l’ennemi connaîtra le prix du sang et les larmes.
Montez de la mine, descendez des collines, camarades !
Sortez de la paille les fusils, la mitraille, les grenades.
Ohé, les tueurs à la balle et au couteau, tuez vite !
Ohé, saboteur, attention à ton fardeau : dynamite…
C’est nous qui brisons les barreaux des prisons pour nos frères.
La haine à nos trousses et la faim qui nous pousse, la misère.
Il y a des pays où les gens au creux des lits font des rêves.
Ici, nous, vois-tu, nous on marche et nous on tue, nous on crève…
Ici chacun sait ce qu’il veut, ce qu’il fait quand il passe.
Ami, si tu tombes un ami sort de l’ombre à ta place.
Demain du sang noir sèchera au grand soleil sur les routes.
Chantez, compagnons, dans la nuit la Liberté nous écoute…
Ami, entends-tu ces cris sourds du pays qu’on enchaîne ?
Ami, entends-tu le vol noir des corbeaux sur nos plaines ?
Oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh…
Maurice Druon/ Joseph Kessel
Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, directamente, no blogue, em 30 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 15H58.

MINIATURAS - XI

NO PEITO DO FUTURO PULSA O CORAÇÃO DO PASSADO.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado e escrito, directamente, no blogue, em 30 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H55.

MEMÓRIAS SONORAS - XIX - "CHERNOBYL BABY"

Tem-se vindo a notar, ultimamente, uma crescente insistência em discutir-se a utilização da energia nuclear, como uma das soluções tendentes a resolver os problemas energéticos que o planeta enfrenta, justificando-se a opção, com uma maior segurança oferecida pelos reactores de última geração. Contudo, será conveniente não esquecer-se os problemas que representam os resíduos radioactivos, para os quais ainda não se encontrou qualquer solução e que representam, igualmente, um factor de risco.
A este propósito fui pesquisar à memória os dois acidentes nucleares que durante estas discussões, não devem ser colocados de lado, como foram os casos mundialmente conhecidos de Three Mile Island, em 1979, no Estado da Pensilvânia, nos EUA e, sobretudo, o catastrófico acidente de Chernobyl, na ex-União Soviética, hoje Ucrânia, em Abril de 1986 e cujas consequências radioactivas, ainda, hoje, se fazem sentir.
Em 1987, Alan McGee, dono da editora independente Creation Records, com o auxílio de Nick Currie, decidiram formar um agrupamento feminino. Com esse objectivo deslocaram-se a uma das megas lojas da Virgin Records e abordaram e recrutaram três das suas empregadas, Jackie, Perule e Jo, sem qualquer preocupação com as suas qualidades musicais. Assim nasceram as Baby Amphetamine, cujo nome foi retirado da capa de um dos singles do grupo australiano Go Betweens. Alan McGee escreveu para as Baby Amphetamine a composição “Chernobyl Baby” que foi editada, em 7” e 12”, em 1987. Infelizmente por dificuldades operacionais não posso incluir nesta memória sonora a música do tema, nem me foi possível encontrá-la na net. Resta-me apenas a divulgação da letra.

CHERNOBYL BABY

I´m a Chernobyl Baby POW! POW! POW!
With radiation contamination waiting for an operation
Gillette software, Sony c.d.´s
Electronic toyland all a kid could be

WHO NEEDS THE GOVERNMENT!

I´m a Chernobyl Baby POW! POW! POW!
With a Matusi, John Belushi, radioactive type of sushi
Playgirl heir in Spy-Fi drama
Who needs Bananarama

WHO NEEDS THE GOVERNMENT!
Alan McGee
Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, directamente, no blogue, em 30 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H45.

AFLUENTES POEMÁTICOS - XXIV - RÉGUA DE VENTO

ESTA RÉGUA DE VENTO
QUE NOS MEDE A IDADE
COM DEDOS DE TALENTO
É A VOZ DA CIDADE
E DO SEU MOVIMENTO
EM VOLTA DE UMA POSE
QUE A MODA DESCOSE
P´RA QUE OS SONS DE UM RITO
SE TRANSFORMEM NO MITO
QUE A MIRAGEM HUMANA
ASSIMILA URBANA
NA CAMA DA MORAL
E NA CHAMA CARNAL.
ESTE TEMPO QUE PASSA
SEM SOMBRAS DE FUTURO
É A FRASE DEVASSA
DO PASSADO MADURO
QUE PERDIDO ESQUECE
A DOR QUE AMANHECE
E O PORVIR DA PRECE
QUE PARTE SEM PORTO
E RENEGA ABSORTO
A NOITE QUE SE AQUECE
AO CANTO DO AMOR
ÀS CHAGAS DA SUA FLOR.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado e escrito, directamente, no blogue, em 30 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, entre as 14H03 e as 14H37 do dia 30 de Junho de 2012.

MEMÓRIAS SONORAS - XVIII - "SHIPBUILDING"

Durante a guerra que se travou entre a Inglaterra e a Argentina em 1982, durante o reinado Tatcheriano em Inglaterra, foram muitas as formas de oposição ao conflito e, entre elas, destacaram-se algumas canções. Uma delas, foi composta por Elvis Costello que escreveu a letra e por Clive Langer que a musicou. A composição com o título de “Shipbuilding” faz parte do álbum “Punch the Clock”, editado em 1983 por Elvis Costello. Mas a minha memória sonora centra-se na notável versão de Robert Wyatt, que antes de cantar a solo, pertenceu a um dos melhores agrupamentos musicais que emergiram nos finais da década de sessenta na UK: os Soft Machine. Foi durante o período que Robert integrou o grupo que teve um estúpido acidente que lhe paralisou as pernas e o obrigou a deslocar-se em cadeira de rodas. O 7” de Robert Wyatt com o “Shipbuilding” trazia uma magnífica reprodução parcial de um quadro de Stanley Spencer (1891-1959), “Shipbuilding On The Clyde”, pintado durante a Segunda Grande Guerra. Da letra da canção saliento, especialmente, os significativos 5 últimos versos que resumem todo o pensamento sobre o conflito armado que opôs Ingleses a Argentinos.
Como é habitual, completo a memória indicando o acesso ao You Tube e a transcrição da letra da composição:

www.youtube.com/watch?v=Rh6IwFhG8G8
Robert Wyatt
Shipbuilding lyrics
Is it worth it
A new winter coat and shoes for the wife
And a bicycle on the boy's birthday
It's just a rumour that was spread around town
By the women and children
Soon we'll be shipbuilding
Well I ask you
The boy said 'DAD THEY'RE GOING TO TAKE ME TO TASK
BUT I'LL BE BACK BY CHRISTMAS'
It's just a rumour that was spread around town
Somebody said that someone got filled in
For saying that people get killed in
The result of this shipbuilding
With all the will in the world
Diving for dear life
When we could be diving for pearls
It's just a rumour that was spread around town
A telegram or a picture postcard
Within weeks they'll be re-opening the shipyards
And notifying the next of kin
Once again
It's all we're skilled in
We will be shipbuilding
WITH ALL THE WILL IN THE WORLD
DIVING FOR DEAR LIFE
WHEN WE COULD BE DIVING FOR PEARLS
Elvis Costello/Clive Langer
Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, directamente, no blogue, em 30 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H45. 

sexta-feira, 29 de junho de 2012

ZIPS SONOROS - XIV - "THROUGH THE TREES" - HANDSOME FAMILY

Brett e Rennie Sparks são o núcleo base de um dos melhores exemplares de Americana, os Handsome Family. Rennie é a liricista e, Brett, o criador sonoro. Às vezes, são ambos. "Through The Trees"  é um exemplo superior de criatividade. As composições são quadros pincelados pelas cores diversificadas do quotidiano. "Weighless Again", "Stalled", "Cathedrals" e "Bury Me" são tradições sonoras que se ouvem como se fossem o slow motion de fotografias que nos deleitam os tímpanos. Gosto do album, gosto do seu grafismo, gosto do Brett e da Rennie.   
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 28 de Junho de 2012, em casa, à volta das 22H27, sob influência do cd do grupo.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 29 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, entre as 13H58 e as 14H14 do dia 29 de Junho de 2012.

FRICÇÕES - VII - FEDERAÇÃO DE ESTADOS

UMA FEDERAÇÃO DE ESTADOS NÃO É UMA FEDERAÇÃO DE NAÇÕES.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado e escrito, directamente, no blogue, no dia 29 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H40.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

AMIGOS DA ONÇA

Num destes dias, escutei com liberdade, numa mesa pública de um café da selva urbana, uma conversa de uma onça e dos seus amigos.
Começou por dizer que tentara comprar um GPS, mas o orçamento não lho permitia. Porém, conseguiu reunir um grupo de amigos e explicou-lhes o objectivo de tal aquisição. Que não se destinava à sua orientação num qualquer deserto e muito menos para se orientar nas ruas da selva. A sua ambição era outra. Com a ajuda de todos e de uma aparelhagem mais sofisticada, podia penetrar, habilmente, em uma qualquer casa de famosos, espiar-lhes as cenas mais picantes ou escabrosas, conforme os casos, e usá-las, de uma forma delicada, para cobrir as despesas dos tais aparelhos sofisticados. Mas a onça não se ficou por aí. Elaborou um plano e um método, em que podia espiar à vontade os rascunhos de certos jornalistas e, com eles, vender a jornalistas de jornais diferentes, revelações sensacionais, que cada um deles pudesse eventualmente dispor, identificando-se como sendo uma fonte privilegiada. Se as mesma notícias aparecessem em diversos jornais, quem se daria ao trabalho de acorrentar a fonte, perguntou a onça, com um sorriso nos lábios. Mas o sistema não parava por ali. Com estudos laboriosos, escolheria alguns escritores famosos portugueses e copiar-lhes-ia os originais que, rapidamente, espalharia por um mercado ávido de novidades literárias e com a possibilidade de aparecerem com o nome de outro autor. Pelo menos, dizia ele com uma grande dose de ironia, que por este processo nunca seria necessário roubar computadores de um qualquer escritor. Mas, verdadeiramente, o que mais interessava à onça, era poder copiar e manipular os discursos rabiscados dos políticos. Imaginava ele, o gozo que seria um político ir discursar a Condeixa-a-Nova e a população inteira rir-se às gargalhadas com os enganos do político, que é como quem diz, com os efeitos da onça. Afirmou a onça, descaradamente, que por este processo, viveríamos numa Democracia muito mais aberta. E a Justiça, alvitrou um dos amigos? Não me preocupo com a Justiça, porque essa anda meia perdida com as injustiças da Justiça. Garanto-vos que só assim viveríamos numa verdadeira Democracia, onde todos se tornarão em amigos da onça. As gargalhadas foram gerais, perante as doces e compensadoras perspectivas que toda uma selva destas lhes abria.
Mudo e quedo, levantei-me do café e percebi, finalmente, o "1984" de Orwell.
Biblioteca de Oeiras, 17/12/2009 - 14H01 - Jorge Brasil Mesquita
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 28 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 17H10. 

MEMÓRIAS SONORAS - XVII - "GHOST TOWN"

Nos finais da década de 70, formou-se, em Inglaterra, uma pequena editora discográfica, a Two-Tone, a que estiveram ligados na sua fase inicial, grupos como os Madness, os The Beat, os Selecter e, especialmente, os Specials, onde predominava a força impulsionadora e criadora da Two-Tone e do grupo, Jerry Dammers. A editora girava, musicalmente, à volta de uma mistura entre o Punk, a Soul, o Ska e o Reggae. Porém, a memória sonora que aqui pretendo recordar, pertence a uma composição de Dammers, de 1981, cujo título “Ghost Town” traduzia as consequências do declínio da indústria automóvel, em Coventry, terra natal da Dammers. Inesperadamente, a canção ganhou uma maior notoriedade porque o seu lançamento coincidiu com os motins registados no gueto de Brixton, transformando a composição numa espécie de fotografia sonora dos resultados gerados pelos motins.

www.youtube.com/watch?v=RZ2oXzrnti4

The Specials - Ghost Town

This town, is coming like a ghost town
All the clubs have been closed down
This place, is coming like a ghost town
Bands won't play no more
too much fighting on the dance floor

Do you remember the good old days
Before the ghost town?
We danced and sang,
And the music played inna de boomtown

This town, is coming like a ghost town
Why must the youth fight against themselves?
Government leaving the youth on the shelf
This place, is coming like a ghost town
No job to be found in this country
Can't go on no more
The people getting angry

This town, is coming like a ghost town
This town, is coming like a ghost town
This town, is coming like a ghost town
This town, is coming like a ghost town
Jerry Dammers
Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 28 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 16H56.

MEMÓRIAS SONORAS - XVI - "KLU KLUX KLAN"

O Reggae conheceu uma forte difusão, em Inglaterra, na década de 70. Um dos grupos ingleses que aderiu ao Reggae e ao Rastafarismo, foram os Steel Pulse que se formaram em 1975, na Handsworth School, em Birmingham, constituídos por David Hinds, Basil Gabbidon e Ronnie McQueen. A primeira gravação do grupo, “Kibudu, Mansetta and Abuku”, foi lançada na editora independente Dip e, musicalmente, estabelecia um compromisso entre os sons de uma juventude negra urbana e os da imagem de um grande lar africano. A segunda gravação saiu na Anchor com o tema “Nyah Love”. O grupo viu serem-lhes recusados espectáculos nos Midlands ingleses devido à sua adesão ao Rastafarismo. Participaram na organização do Rock Against Racism. Com a participação em espectáculos como suporte de uma grandes intérpretes jamaicanos de reggae, Burning Spear, proporcionou-lhes um contrato com a editora Island Records. “Klu Klux Klan” foi o primeiro lançamento da editora e o tema, que abordava os demónios do racismo daquela seita, é a memória sonora de hoje.
O Klu Klux Klan é o nome de uma seita, fundada nos Estados Unidos da América, em 24/12/1865, em Pulaski, sede de distrito, no Tennessee meridional, a 80 milhas de Nasheville, próximo do Estado do Alabama, por Calvin E. Jones, Frank O. McCord, Richard Reed, Jonh B. Kennedy, John C. Lester e James R. Crowe, todos eles desmobilizados do exército dos Confederados.
O nome da seita provém da palavra grega Kuklos – faixa ou círculo – que foi dividida em duas palavras: Ku e Klos que modificado se transformou em Ku Klux. Como todos tinham ascendência escocesa foi proposta e aceite a palavra escocesa Clan que se tornou em Klan.
Visto que o Klan visava, primordialmente, a pureza e a preservação do lar e a protecção das mulheres e das crianças e, em especial, das viúvas e dos órfãos dos soldados Confederados, o branco, símbolo da pureza, foi escolhido para as túnicas e para que fossem notadas e despertassem temor, o vermelho, símbolo do sangue, que os homens do Klan estavam dispostos a derramar em defesa dos fracos, foi escolhida para as guarnições.
No Covil de Pulaski, num lugar chamado “A Enseada”, um anfiteatro natural no fundo da floresta, ficou decidido que o futuro e a finalidade do Klu Klux Klan, fosse a manutenção da supremacia branca.
A estrutura primitiva formal do Klan era formada, em cada Estado por um Reino, governado por um Grande Dragão; cada distrito congressional era um Domínio, governado por um Grande Titã; e cada Condado, uma Província gerida por um Grande Gigante. Toda a área coberta pelo poder do Klan, constituía o Império Invisível.
A finalidade deste texto dedicado ao Klu Klux Klan, teve, apenas, como objectivo revelar a origem, a estrutura e a finalidade da seita nos seus primeiros anos de vida que foi baseado no livro “The Klu Klux Klan” – a Century of Infamy, de 1965 e da autoria dWilliam Peirce Randel.

www.youtube.com/watch?v=yULRZ3zLXc8

Steel Pulse - Ku Klux Klan Lyrics
Walking along just kicking stones
Minding my own business
I come face to face, with my foe
Disguised In violence from head to toe.
I holla and I bawl (Ku Klux Klan)
But dem naw let me go now
To let me go was not dem intention
Dem seh one nigger the less
The better for the show
Stand strong black skin and take your blow
It's the Ku, the Ku Klux Klan
Here to stamp out blackman yah
The Ku, the Ku Klux Klan heh!
To be taught a lesson not to walk alone
I was waiting for the Good Samaritan
But waiting was hopeless
It was all in vain
The Ku Klux Klan back again
I holla and I bawl (Ku Klux Klan)
Dem naw let me go now
Dem seh one nigger the less
The better the show
Stand strong blackskin and take your blow
The Ku, Ku Klux Klan
Rape, lynch, kill and maim
Things can't remain the same yah no!

Blackman do unto the Klan
AS they would do to you
In this case hate they neighbour
Those cowards only kill who they fear
That's why they hide behind
The hoods and cloaks they wear
I holla and I bawl, Ku Klux Klan
Dem naw let me go no, Ku Klux Klan
Oh no, oh no...
Here to stamp out black man yah
Rape, lynch, kill and maim
Things can't remain the same yah
No, no, no, no.
David Hinds, Basil Gabbidon e Ronnie McQueen
Oeiras, 01/11/2009 – Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 28 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H44.

CRITICARTE - XVII - "PEDRO PÁRAMO"

Será um escritor um redactor de palavras que nos reinventa em passagens que todos reconhecemos nos filtros do tempo ou será um bálsamo que nos denuncia o cume das profundezas humanas, onde há existências que desconhecem as vidas que vivem?
O escritor mexicano Juan Rulfo (1918 – 1986), escreveu em 1959 a obra “Pedro Páramo”, cujo enredo se desenrola numa pequena aldeia do interior do México, onde os habitantes que a habitam, sobrevivem à morte aparente dos seus destinos, entre as portas que escondem o real ou o fantástico.
“Entreabre os olhos. Vê através dos cabelos uma sombra no tecto com a cabeça em cima do seu rosto. E em frente a figura embaçada, por detrás da chama das suas pestanas. Uma luz difusa, uma luz no lugar do coração, em forma de coração pequeno que palpita como chama pestanejante. – Está a morrer de pena o teu coração – pensa – já sei que vens dizer-me que Florêncio morreu, mas isso já eu sei. Não te aflijas com os outros, não te preocupes comigo. Eu tenho guardada a minha dor num lugar seguro. Não deixes que se apague o coração.”
Carlos Fuentes, outro grande escritor mexicano, afirmou que “a arte de Juan Rulfo exprime-se tão profundamente através da transfiguração mítica das suas personagens que esta acaba por incorporar a temática do campo e da revolução mexicana num contexto universal.”
“Pedro Páramo” não deixa de ser um cenário minimalista da globalização humana.
Oeiras – 07/10/2009 – Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 28 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H36.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

MEMÓRIAS SONORAS - XV - "GENO"

O cantor de Soul, Geno Washington, nascido em 1943, em Indiana, EUA, integrado na Força Aérea do EUA, foi colocado em East Anglia, Inglaterra, na década de 60, onde como cantor de Soul ganhou o estatuto de culto, ao liderar o grupo de Soul, Ram Jam Band que imprimia nas suas actuações, um ritmo frenético, através de uma selecção de números de Soul, sem interrupções, o que provocava na assistência, delírios de cortar a respiração. Geno regressou, posteriormente, aos EUA, onde só voltou aos palcos nos finais da década de 70.
No entanto, Geno voltou à ribalta, quando o grupo inglês Dexy´s Midnight Runners gravou o tema “Geno”, em sua homenagem.
Os Dexy´s Midnight Runners formaram-se, em Birmingham, Inglaterra no ano de 1978, tendo como núcleo inicial Kevin Rowland e Al Archer e o nome de Killjoys. Juntamente com a mudança do nome do grupo, juntaram-se-lhes Pete Williams, J.B.Blyte, Steve Spooner, Pete Saunders, Big Jim Patterson e Bobby Júnior. O nome escolhido pelo grupo foi retirado da Amphetamine Dexetine, um estimulante muito apreciado pelos cantores Soul do nordeste britânico. O grupo ganhou a fama pela sua aversão às drogas e ao álcool, enquanto Kevin Rowland baseava a sua imagem na elegância dos estivadores italianos do filme “Mean Streets” de 1973, realizado por Martin Scorcese e interpretado por Robert de Niro. Sonoramente, os Dexy´s praticavam a Soul Music e foram, de certa forma, os seus revitalizadores, na Inglaterra.
Em 1980, “Geno” dos Dexy´s Midnight Runners lançou-os para a ribalta do sucesso, reavivou o interesse em Geno Washington e é, igualmente, a memória sonora de hoje.

www.youtube.com/watch?v=FJc_q8eH2ng

Dexy's Midnight Runners - Geno Lyrics

Geno! Geno! Geno! Geno! Geno! ...

Back in '68 in a sweaty club
Oh, Geno
Before Jimmy's Machine and The Rocksteady Rub
Oh-oh-oh Geno-o
On a night when flowers didn't suit my shoes
After a week of flunkin' and bunkin' school
The lowest head in the crowd that night
Just practicin' steps and keepin' outta the fights

Academic inspiration, you gave me none
But you were Michael the lover
The fighter that won
But now just look at me
I'm looking down at you
No, I?m not bein? flash
It?s what I?m built to do

That man took the stage, his towel was swingin' high
Oh Geno
This man was my bombers, my Dexy's, my high
Oh-oh-oh Geno-o
The crowd they all hailed you, and chanted your name
But they never knew like we knew
Me and you were the same
And now you're all over, your song is so tame, brrrrr
You fed me, you bred me, I'll remember your name

Academic inspiration, you gave me none
You were Michael the lover
The fighter that won
But now just look at me
I'm looking down at you
No, I?m not bein? flash
It?s what I?m built to do

Oh Geno, Woh-oh-oh Geno-o
Oh Geno, Woh-oh-oh Geno-o

Kevin Rowland/Al Archer
Oeiras, 18/10/2009 – Jorge Brasil Mesquita
Jorge Manuel Brasil Mesquita

Recriado, em 27 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 15H35.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

MINIATURAS - X

A HISTÓRIA NÃO SE REPETE, SÓ OS SEUS IDIOMAS, LINFÁTICOS E ENFÁTICOS.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 25 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 15H53.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 25 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 15H54.

AFLUENTES POEMÁTICOS - XXIII - OLHOS DE CAMPINA

OS TEUS OLHOS DE CAMPINA
SÃO A ÁGUA DOCE DO LUAR
QUE A BELEZA DA RAPINA
ROUBA AOS BRAÇOS DO MAR
PARA QUE A FONTE DO VENTO
ASSOMBRE AS ASAS DO ALENTO
COM OS MOINHOS DO AMOR
MOENDO AO TRIGO DA DOR
AS BAGAS LOUCAS DA COR
E OS AROMAS DO VENENO
QUE, PLENAS DE DOCE CHEIRO,
PINTAM AO RUBOR AMENO
A AMARGURA DO VELEIRO
QUE SEM PORTO DE ABRIGO
É A BOCA DO CASTIGO
QUE SE BEIJA À DISTÂNCIA
ESCRAVA DA FRAGRÂNCIA
E FAMINTA DA RECUSA
QUE O SEU CORPO DE MEDUSA
ALIMENTA COM A FOME
QUE O PRAZER NÃO CONSOME
POR REVELAR AO TORMENTO
OS SILÊNCIOS DA IDADE
E A MORTE DA VERDADE
QUE ATRAVESSA TODO O SER
SEM A ARTE DE A MORDER
COM O GRITO DA FERIDA
QUE A TODOS PRENDE À VIDA.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 25 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H46.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 25 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H47, e, concluído, às 15H42 do dia 25 de Junho de 2012.

MOLICEIRO DE FANTASIAS

Olá amor da minha distância.
Às vezes, sou um moliceiro vogando nas fantasias românticas de memórias aveirenses que se esvaem no bulício das Feiras de Março, lá pelas horas do almoço, entre a última aula da manhã e a primeira aula da tarde, do Liceu de Aveiro. Outras vezes, relembro com um certo rebuliço de saudades, as viagens do Lérias, o cavalo a vapor do Ramal do Vouga, que me largava na Estação de Aveiro, cheinha de barricas de ovos e que assistia à revoada dos pardalitos estudantis que seguiam, a pé, pela Avenida até ao Liceu. Verdadeiras aventuras de delírios adolescentes. Já fui de Aveiro; hoje, não sei bem donde sou. Sou um pardalito sem pouso certo, mas sabem-me bem estes voos inesperados, onde vejo o que não via e onde quero o que não queria. Eis que assim pude observar, neste Centro Cultural, um quadro que muito apreciei: "Daqui Lavei As Minhas Mãos", de um pintor que não conhecia, Nuno Viegas, e de quem me tornei admirador. Como podes imaginar, estou aí e estou aqui. Como moliceiro rego-me de palavras doces, como Lérias, fujo ao tempo e encontro a riqueza das palavras breves que definem os actos que se arrumam nas prateleiras dos sentimentos que devoram distâncias e semeiam as ilusões da vida que é o fogo do momento.
Os sentidos não reconhecem distâncias, mas as distâncias reconhecem nos sentidos, os moliceiros da vida, os Lérias dos carvões em brasa. Somos passageiros sem passagens marcadas nesta viagem de pouca terra, pouca terra. Pouca terra, distância à vista, entre a liberdade de ser moliço e de ser brasa, em brasa. As palavras são o cavalo a vapor do nosso moliceiro.
Centro Cultural de Belém, 08/12/2009 - 15H58 - Jorge Brasil Mesquita
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 25 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H38.

CRITICARTE - XVI - SOMERSET MAUGHAM

O que acontece a um homem ao descobrir, que, ainda, não descobriu qual é o seu verdadeiro caminho no Mundo que nunca o descobriu? De quanto tempo precisará ele para fugir de si próprio, até compreender que o ponto de encontro é o mesmo que o lugar do desencontro? Eis o valor do tempo no percurso de uma viagem sem preço.
Este preâmbulo relaciona-se com o escritor e o livro que serão a razão deste amontoado de palavras.
O escritor inglês William Somerset Maugham nasceu em Paris, em 1874 e faleceu em Saint-Jean-Cap-Ferrat, em 1965. O escritor fez os seus estudos na King´s School, em Canterbury, Inglaterra, na universidade alemã ocidental de Heidelberg e exerceu medicina no hospital de St. Thomas, tornando-se pela vida fora num viajante inveterado.
A sua primeira obra, “Liza, a Pecadora” foi escrita em 1897 e um dos seus mais famosos livros “A Servidão Humana”, em 1915. Somerset Maugham possuía um “talento de narrador e paisagista, o sentido penetrante da caracterização psicológica e a arte incomparável da dramatização.” Todos estes ingredientes de escrita se encontram no livro “O Fio da Navalha” de 1944. Para esboçar o conteúdo do livro, que melhor pena, senão a do próprio escritor, que escreve na sua introdução: “nunca senti maior apreensão ao começar um romance. E se digo romance é por não saber que outro nome lhe dê. Não tem grande enredo, não acaba com morte ou casamento. Este livro consiste das recordações que tenho de um homem com quem, em épocas muito espaçadas, tive íntimo contacto; mas pouco sei do que lhe aconteceu nos intervalos. Creio que recorrendo à imaginação, poderia preencher plausivelmente as lacunas e tornar mais coerente a minha narrativa, mas a tal não me sinto atraído. Quero unicamente relatar factos de que tenho conhecimento.”
Pelo “O Fio da Navalha” passam muitas das palavras que nos perguntam, respondem ou nos deixam vazios, durante os jogos da vida que vivemos.
Oeiras, 21/10/2009 – Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 25 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H27.

MEMÓRIAS SONORAS - XIV - "JACQUES DERRIDA"

Em 1978, na cidade de Leeds, UK, três estudantes de Arte, Tom Morley, Nial Jenki e Green Strohmeyer Gartside formaram o grupo musical Scritti Politti, cujo nome foi extraído dos escritos do fundador do Partido Comunista Italiano (PCI), António Gramsci (1891 – 1937). O grupo girava, essencialmente, à volta de Green (ex-jovem comunista), compositor do seu reportório. Green era um ferveroso adepto do Do It Yourself (DIY). O DIY consistiu numa espécie de movimento, iniciado no final da década de 70 e no início da de 80, visando autopromover a edição e a promoção de cassetes e discos de 7” de grupos e interpretes de uma forma independente, isto é, fora do circuito das grandes editoras, originando o aparecimento das editoras independentes, mais conhecidas por Indies. O primeiro single editado pelos Scritti Politti, “Skanc Blog Bologna”, apareceu na sua editora St. Pancras. O single viria a ser editado em 1979 pela editora independente Rough Trade, alinhada com os ideais do Labour. De 1979 a 1981, o grupo, além de proceder a algumas alterações dos seus elementos, refinou o seu estilo musical através de uma fusão de Soul, Jazz, Pop e Reggae, da qual resultaram os temas “The Sweetest Girl” de 1981, “Faithless”, “Asylums In Jerusalem” e do álbum “Songs To Remember” todos de 1982. além da evolução musical, as letras das composições reflectiram a evolução do pensamento de Green, grandemente influenciado pelo filósofo francês Jacques Derrida (1930 – 2004) que foi o introdutor do Descontrutivismo que, em síntese, é um processo de decomposição de um texto, com o objectivo de lhe encontrar sentidos ocultos. O Deconstrutivismo foi elaborado a partir da teoria da Fenomenologia Pura e da Ciência da Essência do filósofo alemão Edmund Husserl (1859 – 1938) e da reflexão do poeta francês Stephane Mallarmé (1842 – 1898), sobre a escrita e a interpretação do filósofo alemão Martin Heidegger (1889 – 1976), realizada pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844 – 1900) que escreveu “Cultura de Energia Vital” e “Vontade de Poder”.
Foi no lado B do 7” “Asylums In Jerusalem e no álbum “Songs To Remember” que Green incluiu a sua composição “Jacques Derrida”, dedicada ao filósofo francês e que é a memória sonora de hoje.

www.youtube.com/watch?v=_h6oC3bQ4Cw

Scritti Politti - Jacques Derrida Lyrics

I'm in love with the bossonova
He's the one with the cashanova
I'm in love with his heart of steel
I'm in love
I'm in love with the bossonova
He's the one with the cashanova
I'm in love with his heart of steel
I'm in love

How come no-one ever told me
Who I'm working for
Down among the rich men baby
And the poor

Here comes love forever
And it's here comes love for no-one
Oh here comes love for Marilyn
And it's oh my baby oh-oh my baby
What you gonna do?
In the reason - in the rain

Still support the revolution

I want it I want it I want that too
B'baby B'baby it's up to you
To find out somethin' that you need to do
Because

I'm in love with a Jacques Derrida
Read a page and know what I need to
Take apart my baby's heart
I'm in love
I'm in love with a Jacques Derrida
Read a page and know what I need to
Take apart my baby's heart
I'm in love

To err is to be human
To forgive is too divine
I was like an industry
Depressed and in decline

Here comes love for ever
And it's here comes love for no-one
Oh here comes love for Marilyn
And it's oh my baby oh my baby
What you gonna do?
In the reason - in the rain

Still support the revolution

I want it I want it I want that too
B'baby B'baby it's up to you
To find out somethin' that you need to do
Because

Oh I'm in love with bop sh'dayo
Out of Camden Town for a day - oh
I'm in love with just gettin' away
I'm in love
Oh I'm in love with militante
Reads Unita and reads Avanti
I'm in love with her heart of steel
I'm in love

He held it like a cigarette
Behind a squadee's back
He held it so he hid its length
And so he hid its lack - oh
An' it seems so very sad
(all right!)

Well I want better than you can give
But then I'll take whatever you got
Cos I'm a grand libertine with the
Kinda demeanour to overthrow the lot
I said rapacious
Rapacious you can never satiate
(ate what?!) desire is so voracious
I wanna eat your nation state

I got incentive that you can't handle
I got the needs you can't assuage
I got demands you can't meet
'n' stay on your feet
I want more than your living wage

Well I want better than you can give
But then I'll take whatever you got
Cos I'm a grand libertine with the
Kinda demeanour to overthrow the lot
I said rapacious
Rapacious you can never satiate
(ate what?!) desire is so voracious
I wanna eat your nation state.

Green Strohmeyer GartsideJorge Brasil Mesquita
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 25 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H15.

sábado, 23 de junho de 2012

SONETO - IV - ENXAME DE FEL

O teu perfume sabe-me a mel
mas o zumbido da abelha mestre
é o aviso do solo equestre
que derrama o enxame do fel.

O desejo que me afecta a pele
é o lacre que nasce do cipestre
e esfola o deserto campestre
com as gargalhadas da boca cruel.

Invento a noite à velha lanterna
que deprime a cama de luzerna
onde o amor é um funeral.

Nada mais resta ao fresco coral
do que os cânticos do velho imoral
que dança aos sons de quem o inferna.

Caixa das Histórias de Paula Rego, Cascais, 04/12/2009 - Jorge Brasil Mesquita. Jorge Manuel Brasil Mesquita. Recriado, em 23 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 17H06.

O OBJECTIVO DE UMA OBJECTIVA SEM OBJECTIVO

Finalmente, cheguei à Cinemateca, depois de sair do Saldanha, de ter percorrido a pé a Fontes Pereira de Melo e meia Avenida da Liberdade. Entrei na Barata Salgueiro e, aqui estou eu, sentado no bar-restaurante das memórias que os fotogramas devoram com as lentes dos pigmentos mentais.
Sentado a bebericar uma água, deixei de ser quem sou, para me transformar numa objectiva, vasculhando o vazio que se impregnou em mim. Aos saltos, a objectiva assalta, meia embriagada, a memória dos olhos que me beberam a sexualidade muda, assusta-se com a penumbra que encontra, quando tenta penetrar nesse filme que se me grudou à pele, sem que lhe reconheça os lamentos do seu argumento: "Five Corners" de Tony Bill, com Jodie Foster e Tim Robbins.
A objectiva reconhece no esforço da banalidade, a grandeza de uma escolha: John Carpenter. A objectiva enlaça-se com o ritual do "The Fog", assusta-se com o remake "The Thing", desenha uma sequência de afinidades com o "The Starman", mergulha maravilhada nessa grande metáfora do "They Live", delira com a prisão imaginária de uma Nova Iorque prisioneira de si mesmo, descarrila com a fantasmagórica "Christine" e recolhe os delírios da actualidade no magnífico "Vampires" com esse excelente e mal compreendido actor James Woods.
Quem é John Carpenter?, Quem sou eu?, Objectiva sem objectivo na eloquência cinéfila de um cinéfilo perdido no fascínio de um B. A objectiva solta uma gargalhada e repara na fama dos afamados. Não sei bem porquê, mas Pavlov, objectiva-me a objectiva. É um olho de muitos olhares, é o encontro de uma duna com um arranha céus na fronteira marítima deste argumento que nada argumenta. É uma objectiva, nada mais que uma objectiva.
Cinemateca, 02/12/2009 - Jorge Brasil Mesquita. Jorge Manuel Brasil Mesquita. Recriado, em 23 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 16H57.

FALHOU-ME A LUCIDEZ....

Esta história não usa regras de lógica, coisa que ignoro.Tem todos os temperos da irracionalidade. Usei o meu escalpe como um troféu e pendurei-o numa tela branca pintada com as cores de uma romã rachada ao meio. Pus as minhas barbas de molho. O molho era de abacate. Senti que as verbas climáticas da minha temperatura de 0 graus, se traduziriam no investimento do meu corpo, que expunha a sua nudez esquelética, como um exemplo de escultura, para além do pós-moderno.
Optei por fazer um discurso, mesmo no centro da praça do Rossio, usando como retórica, as palavras mais bárbaras que conhecia. Ouvi algumas gargalhadas sem sentido e engoli todos os insultos com o maior dos à vontades, uma vez que a troca de línguas, é um linguado acústico, presenteado com uma feira de vaidades, onde todos se registam e nenhum resiste às labaredas saudáveis da irresponsabilidade moribunda. Quis suicidar-me no metropolitano para causar consternações, pânico e satisfações por haver menos um militante da vida. Contudo, cheguei à conclusão que os espectadores mereciam melhor espectáculo, pelo que resolvi estilizar-me como uma estátua da morte, todo vestido de branco, o que era um contra-senso, segundo alguns comentários atrozes que escutei, sugerindo que devia enforcar-me em público, reparem, não fingindo, mas usando uma realidade, em vez de uma farsa, o que me deu, pensei eu, a brilhante ideia de me transformar num farsante, mas concluí, rapidamente, que a concorrência seria muita e, num ápice, iria à falência.
Afinal, optei por ser um mentiroso convicto, o que daria grandeza à minha alma e espiritualidade ao meu raciocínio que, como já afirmei, é totalmente irracional.
Cansado de não ser famoso, anunciei ao mundo, em geral, que descendia directamente de uma iguana dos Galápagos e, tal como ela, considerava-me, em vias de extinção, o que, implicitamente, me ofereceria todas as garantias de uma vida faustosa. Adepto invertebrado da inveja, ri-me espalhafatosamente de todos os olhos que me devoravam com admiração, sem na realidade saberem bem porquê. Transformei-me numa encenação colectiva do amor em estado de guerra, sem qualquer ideia de paz.
Como esta ocasião é uma caixinha de surpresas, saltei e esmolei, como qualquer palhaço politiqueiro, por 15 minutos de fama, o que soprando numa gaita de foles, me daria direito à comissão do fole que afoguearia qualquer pardieiro, pelo que brandi com a maior falta de sobriedade, o gamanço de umas quantas palavras que me dessem direito à composição do século.
Com toda a singeleza, confesso que, repentinamente, me distraí e me perdi do objectivo que projectava, com objectivas filtradas pelos cenários grotescos dos flibusteiros pós-modernistas. E, como nada mais há do que esta confissão descolorida, pisgo-me para onde as realidades, nunca serão verdades factuais. Ámen.
Biblioteca de Oeiras, 14/12/2009 - 15H28 - Jorge Brasil Mesquita
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 23 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 16H45.

AFLUENTES POEMÁTICOS - XXII - ACORDAR A DOR DA INOCÊNCIA

A distância não afecta
a fome de ser quem sou
um vulto que se infecta
com a raiva que negou
o vírus que nos detecta
o bobo que nos julgou
sem conhecer o profeta
que nada profetizou.

Acordar a dor da inocência
com a fuga de uma pureza
é vestir a cor da violência
co´a morte velha da beleza.

As farsas do quotidiano
são viveiros de cultura,
nacos do mito ufano
em versos de tortura
e réus de corpo insano
que viajam na tontura
de não verterem o dano
às facas do véu humano.

Ouvir as forcas do ocaso
na virgindade da nascente
é inventar o mortal prazo
à agua de uma semente.

E nada será urgente
no berço da nossa idade
nem a coragem carente
nem a fluência da verdade
roendo o caruncho vidente
que se alarga à vontade
de cobrir o nosso poente
co´o caos da Humanidade.
Centro Cultural de Belém, 29/11/2009 - Jorge Brasil Mesquita. Jorge Manuel Brasil Mesquita. Recriado, em 23 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H22.

ZIPS SONOROS - XIII - AU PAIRS

“Tudo é político, tudo o que se faz na vida, a forma como as pessoas se relacionam entre si é político”, afirmou Lesley Woods, vocalista e letrista, do grupo Au Pairs, à East Village Eye.
O grupo inglês Au Pairs formou-se, em 1979, na cidade de Birmingham, por Lesley Woods, Paul Foad, Jane Munro e Pete Hammond. Musicalmente, o grupo aliava, a uma certa dose de experimentalismo sonoro, as influências musicais do Ska, do Reggae e da Pop. As letras de Lesley Woods eram consideradas provocativas no modo como perspectivavam o feminismo, quanto ao género e quanto à sexualidade. “You´re equal but different” é uma das expressões que se pode ouvir numa das suas melhores composições “It´s Obvious”, o que exemplifica, claramente, a faceta de Lesley Woods na construção das suas letras.
Como é habitual, segue-se a discografia dos Au Pairs e das editoras independentes por onde passaram.

021:
1980 – 7” – You/Domestic Departure/Kerb Crawler.
Novembro de 1980 – 7” – It´s Obvious/Diet

Human:
Abril de 1981 – LP – Playing With a Different Sex
Julho de 1981 – 7” – Inconvenience/Pretty Boys

Kamera:
Agosto de 1982 – LP – Sense and Sensuality.

Os Au Pairs é um dos meus grupos preferidos da Indielândia, com destaques para o já referido “It´s Obvious” e para o LP “Playing With a Different Sex” que inclui uma versão alargada do “It´s Obvious”.
Oeiras, 07/11/2009 – Jorge Brasil Mesquita
Moinho das Antas, 10/01/2010 - Jorge Brasil Mesquita - 12H02

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 23 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H07.

FRICÇÕES - VI - RIO+20

O Senhor Moço de Recados da União Europeia empertigou-se, bombeou uma dica de pólvora seca, e, depois, feliz da vida, regressou, silencioso, ao convés pantanoso das trivialidades atmosféricas.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 22 de Junho de 2012, à noite, na cama, por volta das 22H20.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 23 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H56. 

CRITICARTE - XV - JIM THOMPSON

É comum afirmar-se, entre os críticos literários, que os livros policiais correspondem a um género de literatura menor. Felizmente, que eu sou susceptível a qualquer tipo de literatura, desde que o livro que leia, seja um prazer de subtilezas, de clarins de sentimentos, muitas vezes desencontrados, ou um rumor de florescências que desembocam em prazeres de vários idiomas.
É o caso do livro e do escritor que, hoje, escolhi, como exemplo de uma riqueza esfusiante.
O escritor Jim Thompson (1906 – 1976), exerceu durante a sua vida os ofícios de empregado de hotel, de actor, de escritor de espectáculos cómicos, de especialista em explosivos, de jogador profissional de jogos de azar e de colaborador de vários jornais. Foi argumentista dos filmes “Um Roubo no Hipódromo” e “Paths of Glory” de Stanley Kubrick. Participou com pequeno papel numa nova versão de “Farewell My Lady” de Dick Richards, baseado no policial de Raymond Chandler, com o mesmo título.
Foram adaptados ao cinema os seus livros “Getaway” de Sam Peckimpah e “Pop 1280” de Bertrandt Tavernier.
“Pop 1280” de Thompson é o livro escolhido de hoje. O enredo tem como epicentro Nick Corey que passa por ser um xerife psicopata que vive numa aldeia com 1280 almas, onde a corrupção o cerca por todos os lados. Ao decidir limpar tudo, provocou consequências terríveis. Este é um mundo sem Deus, povoado por pessoas para quem o homicídio não é mais do que um biscate ocasional.
“ Eu já tinha estado naquela casa algumas cem vezes; naquela e noutras do mesmo tipo, mas era a primeira vez que as via tal como eram. Não eram casas nem espaços para as pessoas viverem, nem nada, apenas paredes em pinho a cercarem o vazio. Não havia fotografias, nem livros, nada para onde olhar ou reflectir. Apenas o vazio que começava a impregnar-me aqui, por todo o lado, em todas as casas como esta. De repente este vazio ficou preenchido com som e imagem em todas as coisas tristes e terríveis que esse vazio tinha trazido às pessoas.”
Este livro é um belo exemplo do romance de humor negro americano.
Penso que é importante, explicar que, da minha parte, estas escolhas se baseiam em gostos pessoais de leituras feitas. É claro, que elas se sustentam em críticas que foram, igualmente, lidas, mas nunca deixarão de ser escolhas pessoalíssimas.
Oeiras, 16/10/2009 – Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 23 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H48.

MEMÓRIAS SONORAS - XIII - "SIR DUKE"

Um negro de nome Berry Gordy, ex-pugilista, ex-dono de uma discoteca, ex-trabalhador de uma linha de montagem de automóveis, em Detroit, EUA e compositor de “Reete Petite”, interpretada por Jackie Wilson e de “Money”, cantada por Barret Strong, fundou em Detroit a editora Tamla Motown num edifício da cidade intitulado Hitsville, USA, editora que Gordy considerava como “The Sound of Young América”. A Tamla Motown era dirigida por negros e, praticamente, todos os grupos e intérpretes da editora, também o eram. Sem dúvida que a Motown foi uma das várias fatias negras que contribuíram para que, hoje, haja um Senhor Obama negro, como Presidente dos EUA. A editora era controlada, sonoramente, e sofisticada em políticas de educação social, até aos mais pequenos pormenores, inserida numa linha de compositores, como, por exemplo, Smokey Robinson e a tripla Holland-Dozier-Holland que produziram canções que todo o mundo consumiu nas vozes dos Smokey Robinson and The Miracles, das Supremes, dos Temptations, dos Four Tops, de Marvin Gaye, dos Jackson Five e de Stevie Wonder.
Stevie Wonder nasceu em Saginaw, Michigan a 13 de Abril de 1950, cegando durante a sua infância. O seu nome Steveland Morris foi alterado para Little Stevie Wonder quando assinou o contrato com a Motown. A harmónica tornou-se numa das suas imagens de marca, a partir das suas primeiras gravações, em que se inclui o seu primeiro grande sucesso “Fingertips-Pt2”, em 1963, a que se seguiram inúmeras composições que o guindaram ao estrelato, até que, ao atingir os 21 anos em 1971, Stevie Wonder se libertou das amarras que o privavam da sua liberdade criativa. Os álbuns “Music f My Mind” e “Talking Book” de 1972 e “Innervisions” de 1973, são os primeiros passos do seu processo criativo, nomeadamente, “Talking Book”. Em 1976, Stevie lançou o duplo álbum “Songs In The Key Of Life” onde se inclui um tributo a um dos gigantes do jazz, Duke Ellington, através da composição “Sir Duke”.
A cultura do jazz é uma viagem humana que se aprende e ensina com a linguagem sonora do improviso individual e colectivo, desde as raízes da sua origem, até aos frutos da sua eternidade.
Duke Ellington ( 29 de Abril de 1899 – 24 de Maio de 1976), nasceu em Washington e desde muito criança aprendeu a tocar piano e harmonia. Em 1914 compôs os seus primeiros temas. Lidera vários grupos a partir de 1918 e em 1924 forma a banda Washingtonians que, entre 1927 e 1931, actua no Cotton Club, em Harlem, clube onde só actuavam músicos negros e a assistência era exclusivamente composta por brancos. As actuações no Cotton Club proporcionaram-lhe uma enorme projecção, dentro e fora dos EUA, abrindo-lhe as portas da Europa, onde efectuou um sem número de digressões. Durante a década de 50 Ellington passou por fase de declínio que, posteriormente, viria a ser alterada com a sua presença no Newport Jazz Festival em 1956 que reavivou a sua popularidade que se prolongaria até à sua morte em 1974.
Com uma longa discografia, não só como músico, mas, igualmente, como compositor, destaco a contribuição musical e uma pequena participação, em 1959, no filme “Anatomy of a Murder” de Otto Preminger e as suas composições “Sophisticated Lady”, “In a Sentimental Mood” e “Mood Índigo”. A música de Ellington é a “marca de uma verdadeira sofisticação que é uma audaciosa simplicidade”.
“Sir Duke” de Stevie Wonder é a memória sonora de hoje.

www.youtube.com/watch?v=6sIjSNTS7Fs

Sir Duke Lyrics

Music is a world within itself
With a language we all understand
With an equal opportunity
For all to sing, dance and clap their hands
But just because a record has a groove
Dont make it in the groove
But you can tell right away at letter a
When the people start to move

They can feel it all over
They can feel it all over people
They can feel it all over
They can feel it all over people

Music knows it is and always will
Be one of the things that life just wont quit
But here are some of musics pioneers
That time will not allow us to forget
For theres basie, miller, satchmo
And the king of all sir duke
And with a voice like ellas ringing out
Theres no way the band can lose

You can feel it all over
You can feel it all over people
You can feel it all over
You can feel it all over people

You can feel it all over
You can feel it all over people
You can feel it all over
You can feel it all over people

You can feel it all over
You can feel it all over people
You can feel it all over
You can feel it all over people

You can feel it all over
You can feel it all over people
You can feel it all over
I can feel it all over-all over now people

Cant you feel it all over
Come on lets feel it all over people
You can feel it all over
Everybody-all over people

Stevie Wonder

Jorge Brasil Mesquita
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 23 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H34.

FRICÇÕES - V - PARTIDO SOCIALISTA

O Partido Socilaista é o pneu furado da esquerda portuguesa. Esquerda? O que é isso, perguntam eles de beiços caídos. Santa ignorância!
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 23 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H19.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 23 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, ás 13H20.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

COLMEIA DE PALAVRAS

Li o que li e li o que não li; agora esqueço-me de ler o que não sei ler e o que não quero ler. Por puro prazer. Criei uma colmeia de palavras e provei-lhe todo o género de sentidos; depois, abandonei-a num deserto de que não me lembro o nome. Um corvo todo vestido de negro pousou no parapeito da janela e com hábil mestria abriu-me a janela dos pensamentos; as palavras ao sentirem-se livres, fugiram de mim e eu nada fiz para recuperá-las. Hoje, ao cruzar a rua dos sentidos, não me iludo com o semáforo das suas paisagens. Sei que o vento reconhecê-las-á, mal o Outono as amadureça, ao anoitecê-las. Quando for o que não fui, a colmeia das palavras descobrirá, finalmente, a espécie de deserto que sou. Biblioteca de Oeiras, 28/12/2009 - 11H38 - Jorge Brasil Mesquita. Jorge Manuel Brasil Mesquita. Recriado, em 22 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 15H06.

MINIATURAS - IX

O FANATISMO É O ÓCIO DO ÓDIO.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 22 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H54.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 22 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H57.

ZIPS SONOROS - XII - GIRLS AT OUR BEST

Se grupo houve que me tivesse deliciado os sentidos, no início da década de 80, foram os Girls At Our Best que, na sua meteórica existência, nos legaram como herança, em minha opinião, um conjunto de discos de excelente recorte sonoro e um estilo personalizado que os distinguiu de qualquer outro grupo da época.
James Alan, Gerald Swift e a estudante de arte Judy Evans, formaram, em 1979, na cidade inglesa de Leeds, os Butterflies. Com a inclusão de Chris Oldroyd, em 1980, o grupo passou a denominar-se Girls At Our Best, nome extraído da composição “Warm Girls” que apareceu na primeira gravação do grupo, no mesmo ano.
Sonoramente, os temas do grupo eram uma espécie de compromisso entre o Punk, o Pop e a crítica política, visível no tema “Politics”, em que o estilo das campanhas políticas Estado Unidenses, era satiricamente criticado.
Os Girls At Our Best desfizeram-se em 1982.
Segue-se, como é habitual, a discografia do grupo e das editoras independentes, para as quais gravaram os seus discos:

Record Records:
Abril de 1980 – 7” – Getting Nowhere Fast/Warm Girls
Novembro de 1980 – 7” – Politics/It´s Fashion

Happy Birthday Records:
Junho de 1981 – 7” – Go For Gold/I´m Beautiful Now
Outubro de 1981 – LP – Pleasure
Outubro de 1981 – 7” – Fastboy Friends/This train

God Records.
Maio de 1982 – 7” – Heaven/ £600.000
Oeiras, 28/10/2009 – Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 22 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H46.

SONETOS - III - PINGOS DE CHUVA

DESLIZAM PINGOS DE CHUVA DIDÁCTICA
PELO ROSTO VELHO DAS MORTES DIÁRIAS.
SECAM AO SOL NAS VIELAS MILENÁRIAS
E SÃO FILHOS DA MENTIRA SIMPÁTICA.

SOAM TROMBETAS DA TRAÇA PROFILÁCTICA
NOS ARNEIROS MENTAIS DAS RUAS AGRÁRIAS
ONDE SÓ SE PLANTAM FAVELAS VIÁRIAS
GRAÇAS AO DISCURSO DA PRAGA ASMÁTICA.

OUVEM-SE AS GARGALHADAS DAS PLATEIAS
NOS VASTOS AUDITÓRIOS DOS ESCOLHOS
QUE ENCALHAM NA FEBRE DOS REPOLHOS.

NOTA-SE O APRUMO DAS VELHAS TEIAS
QUE ADORAM AS CRISES DAS SUAS AMEIAS
E AMAM AS ORGIAS FANÁTICAS DOS PIOLHOS.
cENTRO cULTURAL DE bELÉM, 13/12/2009 - 12H38 - jORGE bRASIL mESQUITA

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado e corrigido, em 22 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H28.

CRITICARTE - XIV - "O VELHO E O MAR"

De que nos serve a natureza, quando a natureza humana não a sabe respeitar, ao entrar em confronto com ela? Porém, há confrontos onde prevalece o respeito mútuo, em que este se pode transformar num acto poético de beleza salgada, quando o mar é disso testemunha.
O escritor Ernest Hemingway nasceu, em 21 de Julho de 1899, em Ilinóis, EUA. Exerceu a actividade de jornalista e correspondente de guerra, tendo participado na Primeira Grande Guerra (1914 – 1918), onde foi gravemente ferido na frente italiana, em 1918. Fixou residência em Paris, entre 1921 e 1928, aproveitando a estadia para conhecer grande parte da Europa Ocidental e do Leste. Participa, igualmente, na Guerra Civil de Espanha, ao lado dos Republicanos, entre 1936 e 1939 e na Segunda Grande Guerra, entre 1939 e 1945. Recebe os prémios Pulitzer, em 1953 e o prémio Nobel, em 1954.
Em 1952, o escritor escreve uma das suas mais belas obras “O Velho e o Mar.”
O escritor português Jorge de Sena (1919 – 1978), escreveu no prefácio da tradução que fez do “O Velho e o Mar” que se está perante “um poema em prosa, uma epopeia de simples trama singularmente narrada. Um breviário nobilíssimo da dignidade humana escrita com a mais requintada das artes. Poucas vezes, no nosso tempo, terá sido concebida e realizada uma obra tão pura, em que a natureza e a humanidade sejam, frente a frente, tão verdade.”
Matar sem consciência o que é do domínio da natureza, será o mesmo do que ter consciência de que se matou, sabendo a razão porque se o fez, respeitando quem se mata? A natureza como uma metáfora.
“Não mataste o peixe só para viver e vendê-lo para ser comido. Mataste-o por amor-próprio e porque és um pescador. Amáva-lo quando estava vivo, e ama-lo depois de morto. Se o amas não é pecado matá-lo. Ou será mais?
- Tu pensas demais, velhote – disse em voz alta.
“Mas gozaste com a morte do dentudo, pensou. Vive de peixe como tu. Não é dos que andam aos restos, nem um apetite ambulante como alguns tubarões são. É belo e nobre e não conhece o medo…Pescar mata-me, exactamente, como me mantém vivo…Não devo iludir-me mais.”
Com imensas obras publicadas, Hemingway suicidou-se com um tiro de caçadeira, em Julho de 1961, aos 62 anos, na sua propriedade de Sun Valley, Idaho, EUA, ao tomar conhecimento de que tinha um cancro.
Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 22 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H15.

PIRILAMPOS

Eis a cura que não cura este remédio da verdade: apaixonei-me pelos pirilampos. São sinónimos do cérebro humano; quando luzem, faiscam as ideias, luminosas e inconciliáveis, da Humanidade; quando se desligam, são os esconderijos perfeitos de amantes invioláveis e de todos os abrigos dos segredos que a Humanidade desconhece. Uma vez, uma única vez, assisti ao grande bailado dos pirilampos numa noite de serenidades; fui regado com a Aurora Boreal de uma Eternidade desconhecida. Quando o bailado cessou, perdi-me na floresta impenetrável da sobrevivência. Só os pirilampos das suas memórias conhecem o paradeiro do seu labirinto, onde eu me fiz, sabendo o nada do saber. Biblioteca de Oeiras, 28/12/2009 - 10H35 - Jorge Brasil Mesquita
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 22 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H05.

MEMÓRIAS SONORAS - XII - "ENOLA GAY"

Paul Humphreys e Andy McCluskey formaram, em 1978, a banda escolar Equinox, em West Kirby, na cidade inglesa de Liverpool que evoluiu para as bandas VCL XI, Hitlerz Underpantz, ID e, finalmente, a Orchestral Manoeuvres In The Dark que gravaram o 7” “Electricity” para a editora independente Factory de Tony Wilson, em Manchester. A subsidiária DinDisc da Virgin Records reeditou o 7” que se transformou num sucesso. Seguiram-se dois outros grandes sucessos do grupo, os 7” “Messages” e, especialmente, “Enola Gay” que recorda o nome do bombardeiro que lançou a bomba atómica sobre Hiroxima e que é a memória sonora de hoje.
Embora o lançamento da bomba esteja inserido num certo número de factos históricos ligados à Segunda Grande Guerra, vou cingir-me, apenas, aos momentos essenciais que historiam factos ligados ao lançamento da bomba atómica.
Em Agosto de 1942, Franklin Delano Roosevelt (1882 – 1945), Presidente dos Estados Unidos da América, decide que se fabrique a bomba atómica. As operações de carácter militar ficaram a cargo do General Leslie R. Groves. No Outono de 1942, Robert Oppenheimer, professor de Física de Berkeley, acompanhado pelos Físicos, Fermi, Bohr, Beth e Teller, formam a equipa que vai trabalhar na criação da bomba atómica e instalam-se num laboratório, localizado em Los Álamos, no Novo México, na Primavera de 1943.
Em 16 de Julho de 1945, dão-se dois acontecimentos históricos de grande importância: a mensagem de paz do Imperador Hiro Hito do Japão e a explosão da primeira bomba atómica às 5h29´25”, em Alomogordo, no deserto do Novo México.
A 11 de Junho de 1945, sete sábios: J. Franck, E. Rabinovitch, D. Hughes, T. Hogness, G. Seaborg e S. Nickon, redigem o relatório Franck, contra a utilização da bomba atómica.
A 26 de Julho de 1945, Harry Truman (1884 – 1972), novo Presidente dos EUA, envia um ultimato, com o apoio da Grã-Bretanha e da China, ao Japão que o recusa. Truman ordena que se recorra à bomba atómica. O General Spaatz reúne o urânio e o plutónio, necessários à bomba, na ilha de Tinian de onde descolou o Boeing B-29 “Enola Gay” que a 6 de Agosto de 1945, às 8h15´ largou a bomba sobre a cidade japonesa de Hiroxima. O bombardeiro foi comandado por Paul Tibbets Jr., Comandante do 509 Agrupamento Aéreo e responsável pelo nome dado ao bombardeiro, em homenagem à sua mãe.
A justificação para o uso da bomba, visava acabar com a guerra no Pacífico e representava uma tentativa para equilibrar as potências do Mundo.
O Físico Britânico Blackell conclui no seu livro, publicado em 1948: assim, na verdade concluímos que o lançamento de bombas atómicas, não foi tanto o último acto militar da Segunda Guerra Mundial, mas como o primeiro acto da guerra diplomática fria que, actualmente, se desenrola com a Rússia.

www.youtube.com/watch?v=craC9eT71EI

ORCHESTRAL MANOEUVRES IN THE DARK - ENOLA GAY LYRICS

Enola Gay, you should have stayed at home yesterday
Oho it can't describe the feeling and the way you lied
These games you play, they're gonna end it all in tears someday
Oho Enola Gay, it shouldn't ever have to end this way
It's 8:15, that's the time that it's always been
We got your message on the radio, condition's normal and you're coming home
Enola Gay, is mother proud of little boy today
Oho, this kiss you give, it's never ever gonna fade away
Enola Gay, it shouldn't ever have to end this way
Oho Enola Gay, it should've faded our dreams away
It's 8:15, oh that's the time that it's always been
We got your message on the radio, condition's normal and you're coming home
Enola Gay, is mother proud of little boy today
Oho, this you give, it's never ever gonna fade away
Oeiras, 08/11/2009 – Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 22 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H51.

FRICÇÕES - IV - ERC

A ENTIDADE REGULADORA DA COMUNICAÇÃO (ERC) É UM NONE SENSE PORTUGUÊS.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 22 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H45.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 22 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H45.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

NÃO SEI

Quem sou eu nesta terra de ninguém? Não sei. Ulysses a caminho de Ítaca, não sou. Não sei. Nem Kant me alivia a Razão. Alguém me espera nos cantos do amor? "Never More", diz-me o Corvo curvado sobre a minha falta de identidade humana. Que culpa se gera no ômega da indiferença? Não sei. Não sou réu da vida que se debruça sobre o vento e que apalpa as palavras do pensamento. Serei o desejo da noite mais obscura? Não sei. Sou demoníaco na lavra da mensagem, mas austero na impertinência da coragem. Que desespêro é este que refulge na balança dos justos? Não sei. A espada da eternidade pende sobre a cabeça do fogo e os dedos de veneno saudável revolvem-se como serpentes de uma vingança que desconheço, mas Medusa não sou. Serei a esfinge de uma demagogia simplória abraçando a ditadura democrática que me asfixia? Não sei. Desconheço a farsa que me modela a razão, mas não me disfarço perante os demagogos a quem os hábitos do monge se perfilham como a clorofila das suas agonias mordazes. Quem sou nestas gerações de beat claustrofóbico? Não sei. Murmuro, assobio, e pergunto ao país, mas o verso nada me diz. Não sei, mas sei que não sei.  
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 21 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H44.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 21 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H45, e, concluído, às 14H17 do dia 21 de Junho de 2012.

A TORRE DA VERDADE

Olhei para os ponteiros do relógio, no alto da Torre da Verdade.Não se moviam, nem para um lado, nem para o outro. Simplesmente inamovíveis.
O Sol, uma bola de fogo implacável, escouceava ao acaso. Por precaução, abri o guarda-chuva protector. Tinha a noção exacta do tempo que ia fazer. Tinha a certeza que o Sol ia chover, a qualquer momento. Os fios de luz intensa assemelhavam-se a picadas precisas que atingiam os neurónios com a distinção da morte da vida humana. Atravessei a rua com a lentidão de um camaleão, sem que houvesse simulação de cores. Habituara-me à sede insaciável, bebendo as minhas próprias lágrimas, que paridas de verdade, serviam-me de bússola na passadeira da vida.
Quando a chuva parava, secava o silêncio, e eu ouvia na brisa do vento, a eternidade dos anúncios às vidas breves. Olhei, de novo, para o relógio da Torre sabendo que era um painel, piscando os códigos indicifráveis de cada segundo que fustigava o ritmo do seu colapso. Não me sentia afectado, porque as florestas impenetráveis desta minha razão, rugiam, inconsoláveis, às células da inércia.
Por vezes, permitia que um naco de luz iluminasse recantos que eu próprio desconhecia habitarem na floresta em que me tornei. A floresta representava uma torneira que se fechava, fechando-me a fonte das rotas que podiam abrir as clareiras do conhecimento que me desconhecia.
O espanto apossava-se de mim, ao ver que, ciclicamente, o Sol não forçava a penetração desta floresta, o que produzia em mim uma espécie de frescura que eu abraçava como um amor escondido na noite do infinito.
Todos os dias subia, num estado de embriaguês vivificadora sufocante, ao alto da velha e decrépita urbe que não resistira ao colapso da vida. Deste modo ia gastando as memórias que me restavam e atravessava a minha floresta com todas as imagens que ainda povoavam os povoados que separavam os mistérios dos segredos. Acabavam por ser a fome da minha fome que estava reduzida ao silêncio que tudo consumia. Não havia sombras que me acolhessem em lugar algum. A floresta tornara-se num refúgio interior que eu reconhecia ser inútil, quando todo eu não fosse mais do que um poente irrepetível.
Cansado de ser um guarda-chuva de mim mesmo, deixei que o Sol queimasse cada pedaço da minha floresta e olhei, temerariamente, para aquela luz incandescente, sorrindo, e permiti que cada intimidade do meu corpo escorresse como lava e, sem que uma lágrima me bebesse, juntei-me às cinzas que eram o mar da realidade que se podia observar no relógio fossilizado, no alto da Torre da Verdade.
Costa da Caparica, 16/12/2009
Biblioteca de Oeiras, 22/12/2009 - 14H08
Jorge Brasil Mesquita
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 21 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H39.

ZIPS SONOROS - XI - FIRE ENGINES

Se é certo que no último capítulo destes espaços dedicados a bandas que nasceram e se ligaram a editoras independentes, abandonámos a editora Postcard, a verdade é que continuaremos na Escócia para falarmos de outra banda de Edimburgo, formada, em 1979, por Davey Henderson, Murray Slade, Graham Main e Russel Burn que adoptaram o nome de Fire Engines, nome extraído de uma das faixas do LP “The Psychedelic Sounds of: 13th Floor Elevators” dos 13th Floor Elevators, de 1966. Sonoramente, os Fire Engines beberam as suas influências em Captain Beefheart, no grupo Estado-Unidense, Contortions e nos grupos ingleses Pop Group e Gang of Four.
A banda, nos seus primeiros tempos de vida, não fazia concertos com mais do que 15 minutos porque, segundo o vocalista Davey Hendersen, “que interesse há em manter a audiência enfastiada?!”.
Ao gravarem o seu primeiro 7”, o grupo comentou que “queríamos fazer um “mau” 7” que fosse grandioso e fizémo-lo”: “Get Up and Use Me”. Uma completa anarquia sonora – acrescento eu. Em 1981, os Fire Engines assinaram contrato com Bob Last, outro editor discográfico escocês independente que competia com Alan Horne, primeiro para a Fast Product que se transformou em Pop: Aural. Da discografia do grupo, que enunciarei, como é usual, gosto, particularmente, do tema “Candy Skin”.

Codex Communications:
Dezembro de 1980 – 7” – Get Up and Use Me/Everything´s Roses

Fast Product:
Janeiro de 1981 – LP – Lubrificate Your Room

Pop: Aural:
Maio de 1981 – 7” – Candy Skin/Meat Whiplash
Novembro de 1981 – 7” – Big Gold Dream/Sympathetic Anaesthetic.

Fontes: “Rip It Up and Start Again”, livro de Simon Reynolds e o jornal New Musical Express.
Oeiras, 22/10/2009 – Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 21 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H27.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

AFLUENTES POEMÁTICOS - XXI - DENÚNCIA

ESTA DENÚNCIA DO RISO MECÂNICO
NO VESTÍBULO DAS CONCHAS DIÁRIAS
É O FRAGOR DOS ROMANCES INERTES,
O ESPELHO DAS PINTURAS AGRESTES
NOS QUADROS DE UMA URGÊNCIA HOSTIL,
NOS CARTAZES DE UMA FÚRIA CALMA
DERRAMANDO NA MORFINA DO OLHAR
OS CLAMORES DA RAIVA DESUMANA,
OS ESCAPES INÚTEIS DAS VINGANÇAS
QUE ADORMECEM O SOSSEGO DAS ALMAS
REVELANDO AO ÓPIO DAS TORMENTAS
A BREVIDADE SINGULAR DO CAOS
NO ODOR SUMPTUOSO DA METAFÍSICA
EM QUE A REVOLTA DO ASSÉDIO À PAZ
É A SINGELA VOZ DA DECADÊNCIA
VERGASTANDO OS OSSOS DAS MORTALHAS
P´RA QUE SE CRIE À CORAGEM DA MORTE
AS PIROGAS DA VIDA TRANSCENDENTE.  
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 20 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 16H36.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 20 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 16H37, e, concluído, às 17H25 do dia 20 de Junho de 2012.

EPITÁFIOS - II - LEVON HELM

Fui apanhado de surpresa. Levon Helm morreu. Quem era Levon? O baterista e um dos três vocalistas de um dos grupos mais importantes de toda a música popular: The Band. A sua voz, singular e de características únicas, pode ser ouvida em algumas das canções mais notáveis do grupo, inseridas nos dois primeiros albuns da banda, "Music From de Big Pink" e "The Band", o primeiro dos quais com capa desenhada por Bob Dylan, representando o grupo a tocar, e o segundo com a fotografia sépia de todos os elementos da banda e que são, sem dúvida, dois dos maiores registos musicais de toda a música popular. Levon Helm pode ser ouvido nas composições "The Weight", "The Night They Drove Old Dixie Down" e "Rag Mama Rag", composições que são o epitáfio perfeito do grande músico que foi Levon Helm.     
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 20 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 16H12.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 20 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 16H12, e, concluído, às 16H30 do dia 20 de Junho de 2012.

QUEM GOSTA DE PESADELOS?

Vivemos no sonho de sonharmos o que nunca sonhámos. Desconhecemos a razão. Tentamos descobrir a incapacidade da nossa capacidade, mas somos leves demais. Não resistimos ao mais leve sopro de coragem porque não temos asas para não sermos as folhas incandescentes que se vão diluindo com o Outono das palavras mansas. Parecemos a fragilidade das gazelas assustadiças que povoam as imagens das consciências, aprisionadas aos amantes das terras áridas e secas. Temos sede, mas não sabemos que espécie de sede sentimos. Bebemos sonhos que sonhámos, mas não sonhamos com as celas que nos bebem as sedes que, incapazes, não deciframos, porque os livros que somos, são palavras de sedes que não se pontuam em dicionários de sonhos sem sinónimos. Inventamos sons para nos aliviarem a destreza de não sermos as gaivotas que aprenderam a fugir dos temporais, usando as asas que só os sonhos nos dão. Sonhamos que somos a resistência no paraíso da fraqueza e sorrimos à decadência, sonhando que plantamos a eloquência na aridez da vulgaridade e semeamos às raízes do tempo, as assinaturas dos nossos passos cadentes.
Tememos a fluência dos rios, mas não interpretamos os dialectos das nascentes.
Sabemos como acordamos dos sonhos, mas nunca aprendemos a conhecer, como e quando, eles nos ocultam as realidades das verdades que recusamos, porque, em vez de sonhos, são pesadelos. Pesadelos!? Quem gosta deles? Só o Freud.
Biblioteca de Oeiras, 10/12/2009 - 16H33 - Jorge Brasil Mesquita. Jorge Manuel Brasil Mesquita. Recriado, em 20 de Junho de 2012, na Bilioteca Nacional, às 16H07.

FISGADAS POLÍTICAS - X - CORTES DE SALÁRIOS

Ao promulgar o novo Código Laboral, o Senhor Aníbal Cavaco Silva, Presidente da República Portuguesa, abriu caminho, ainda que indirectamente, aos cortes de salário, algo contra o qual o Senhor Presidente se pronunciou, afirmando que seria inoportuno para o crescimento da economia portuguesa. Pelo o que a aprovação sugere, o Senhor Presidente mudou de opinião. Por outro lado, não se opôs à extinção do feriado do 5 de Outubro que celebra a implantação da República, em Portugal, o que me leva a crer que não se oporia, igualmente, à extinção do cargo de Presidente da República, o que o faria feliz por poder ir para casa mais cedo do que esperava, aproveitando, de caminho, para levar consigo o Senhor Pedro Passos Coelho, Primeiro-Ministro de Portugal, que se transformou em um relógio de repetições. Bem vistas as coisas, eram dois cortes de salário que muito contribuiriam para a diminuição do défice público.    
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 19 de Junho de 2012, em casa, à noite, às 22H05.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 20 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 15H09, e, concluído, às 15H25 do dia 20 de Junho de 2012.

ALGURES NUMA TAVERNA

Perdi a rota do meu destino, mas um caracol com os pauzinhos ao sol iluminou-me um trilho, cujo final era uma taverna, onde pedaços de memórias me saudaram com sorrisos e com todo um arco-íris de borboletas que me perfumaram com os hálitos frescos de canções a que o meu corpo não resistiu. E, eu que não sabia dançar, senti que os meus pés se moviam, sincronizados, com os ritmos das cores que embelezavam a taverna, onde cumprimentei as saudades do futuro com apertos de mão que o passado não soube apascentar. A taverna tinha tudo o que eu não tinha: a beleza dos sorrisos, a franqueza das ideias e os abraços que abraçavam cada distância, encobrindo estes corredores de mediocridade com os saldos dos meus pensamentos. Nesta taverna fui alimentado com todas as descobertas que o meu corpo escanzelado sempre suprimira, em devaneios de perturbações eloquentes. Aprendi a ter asas de borboletas que ignorava e lambi a todos os voos de pássaros que jamais conhecera, as refeições da minha imaginação perdida nos rudimentos de farsas humanas que eram representadas nos palcos dos teatros caseiros; encetei as viagens perdidas ao mundo secreto das magias que enriquecem a fraqueza dos corpos com os brincos sexuais das sensualidades, dos erotismos e dos orgasmos românticos.
A taverna não era um sonho, mas uma fonte inesgotável do saber, que a ignorância recusava, por ter medo de ser a fonte do seu medo.
Agarrado às conversas de todos os tempos, julguei que fugindo de mim mesmo, encontraria nas raízes que plantara, a encruzilhada de ideias a que nunca quis decifrar os códigos porque os teclados que dirigiam redes digitais, nasciam alucinadas com as realidades de uma qualquer negação.
Nesta taverna nada se nega, não se questionam as perguntas e há sempre o fruto das respostas que, conforme os sabores, racionalizam a aprendizagem de qual dos ventos é o jazz dos nossos desejos mais íntimos. Ao ouvir os cancioneiros tradicionais de uma ética popular, abandonei a taverna para ouvir os limites lunares da minha regeneração histórica, assobiando uma velha trova que atravessou a noite como um silvo de um comboio, que corria, tal como eu, ao encontro do seu destino.
Sem que a verdade me escapasse, dominei a solidão nocturna e descarrilei, inebriado pela pureza das sombras nocturnas. Adeus rota da ignorância, adeus casa sem destino, adeus a tudo o que resta ao que não vejo, porque descobri neste engano de rotas a solidez nocturna da luz, nascida de um caracol com os pauzinhos ao sol.
Biblioteca de Oeiras, 12/12/2009 - 17H57
Biblioteca de Oeiras, 21/12/2009 - 14H23
Jorge Brasil Mesquita. Jorge Manuel Brasil Mesquita. Recriado, em 20 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H37.

MINIATURAS - VIII

CABER EM TUDO O QUE É TUDO, CABENDO EM LUGAR NENHUM.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 19 de Junho de 2012, na Avenida da República, às 18H49.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 20 de Junho de 2012, às 14H25.