sexta-feira, 8 de junho de 2012

CORRUPIOS - I

Não há pinturas que revelem o olhar da fome porque o pastel da fortuna é um parágrafo de Vikings nos mares da violência. A violência é a consciência da inconsciência que se rebela contra os quistos das sociedades que se pariram nos degraus da ascensão à insanidade. A vida é uma excentricidade das docas do tempo onde os veleiros das tempestades humanas registam, nos fusos horários das grelhas ridículas, os ímanes irresponsáveis das atracções mútuas. Os olhos são ímanes, as bocas, que desferem os golpes da hipocrisia, são paliativos mutantes na escala da degradação carnavalesca. Carnaval da carne, carnaval das ficções que seleccionam, nos actos dos seus capítulos, o ostracismo dos devotos orgânicos. O ostracismo é a fidelidade canina dos vícios amputados pela esquizofrenia das diásporas futuras. As diásporas são ruínas de tempo, no tempo das vicissitudes inamovíveis. Olha-se, descrê-se, e parte-se para onde qualquer vingança é o fruto de uma dinastia sabática. Os ritmos que se criam à moléstia das fibroses flibusteiras, avançam pelos guindastes que, nos cais das angústias, acicatam as luxúrias da penúria. A penúria é a sombra do medo, é o asfalto do alcatrão torturado pela azáfama dos cachimbos fumados sem a paz da conformidade voluntária. Escreve-se paz com os idiomas do ódio estampados nos estampidos das rotas corrompidas pela teatralidade da fonética rocambolesca. O surto da representação é o furto da solidão. A idade da caligrafia que a alimenta é um fenómeno cuja a existência se vinca para lá de todas as modéstias. E não há modéstia sem as vaidades comuns das idolatrias engraxadas pelas pomadas dos dinamismos eróticos. A prosa vai longa e a estima dos seus corredores são a incógnita dos seus apertos finais. Que os atacadores se desapertem e que o calçado se descalce. A vida continua porque eu sou filho da Lua e do Sol que se espanta com os raios da sua eloquência. A luz, em ambos, são tempêros da Vida ilustre. Que a sua resistência, resista.   
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 08 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 15H42.
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 08 de Junho de 2012, às 15H43, e, concluído, às 16H27 do dia 08 de Junho de 2012.

CANÇÃO - XI - ESTA CANÇÃO QUE ESCREVO

ESTA CANÇÃO QUE ESCREVO
È A KATEMBE QUE BEBO
P´RA ESQUECER O RELEVO
QUE OFEREÇO AO QUE CONCEBO
NO NEVOEIRO DA ILUSÃO
NO RIBEIRO DA POÇÃO

COM QUE UNTO A PELE NUA
E ME APAGA ESSE OLHAR
QUE EM ABRAÇOS DE LUAR
ME BEBE AO CORPO QUE SUA
LAMENTOS DE ODOR
ALENTOS DE AMOR.

ESTES VERSOS QUE VERCEJO
SOBRE AS TECLAS DE UM PIANO
SÃO PALAVRAS QUE DESEJO
SÃO AS LAVRAS DO URBANO
QUE TE BORDA A AURORA
COM A CORDA QUE TE CHORA

E ME AMARRA AO TORMENTO
DE NÃO BEBER O SORRISO
DE NÃO SORVER O PARAÍSO
QUE SE AGARRA AO UNGUENTO
QUE LIBERA A COR
DA QUIMERA EM FLOR.

TODO A TI ME ENTREGO
NESTA CÂMARA SEDENTA
TODO AQUI ME EMPREGO
ACTOR, TÂMARA CIUMENTA
DA BOCA QUE ME REPROVA
E OCA NÃO ME RENOVA

O SENTIDO DE SENTIR
O QUE O CORPO DORMENTE
ESQUECIDO SÓ DESMENTE
SE O OLHAR TEU SORRIR
À PELE QUE TOCA
COM O MEL DA ROCA.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criada, em 08 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H14.
Escrita, directamente, no blogue, no dia 08 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H16, e, concluída, às 14H50 do dia 08 de Junho de 2012.