quarta-feira, 20 de junho de 2012

AFLUENTES POEMÁTICOS - XXI - DENÚNCIA

ESTA DENÚNCIA DO RISO MECÂNICO
NO VESTÍBULO DAS CONCHAS DIÁRIAS
É O FRAGOR DOS ROMANCES INERTES,
O ESPELHO DAS PINTURAS AGRESTES
NOS QUADROS DE UMA URGÊNCIA HOSTIL,
NOS CARTAZES DE UMA FÚRIA CALMA
DERRAMANDO NA MORFINA DO OLHAR
OS CLAMORES DA RAIVA DESUMANA,
OS ESCAPES INÚTEIS DAS VINGANÇAS
QUE ADORMECEM O SOSSEGO DAS ALMAS
REVELANDO AO ÓPIO DAS TORMENTAS
A BREVIDADE SINGULAR DO CAOS
NO ODOR SUMPTUOSO DA METAFÍSICA
EM QUE A REVOLTA DO ASSÉDIO À PAZ
É A SINGELA VOZ DA DECADÊNCIA
VERGASTANDO OS OSSOS DAS MORTALHAS
P´RA QUE SE CRIE À CORAGEM DA MORTE
AS PIROGAS DA VIDA TRANSCENDENTE.  
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 20 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 16H36.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 20 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 16H37, e, concluído, às 17H25 do dia 20 de Junho de 2012.

EPITÁFIOS - II - LEVON HELM

Fui apanhado de surpresa. Levon Helm morreu. Quem era Levon? O baterista e um dos três vocalistas de um dos grupos mais importantes de toda a música popular: The Band. A sua voz, singular e de características únicas, pode ser ouvida em algumas das canções mais notáveis do grupo, inseridas nos dois primeiros albuns da banda, "Music From de Big Pink" e "The Band", o primeiro dos quais com capa desenhada por Bob Dylan, representando o grupo a tocar, e o segundo com a fotografia sépia de todos os elementos da banda e que são, sem dúvida, dois dos maiores registos musicais de toda a música popular. Levon Helm pode ser ouvido nas composições "The Weight", "The Night They Drove Old Dixie Down" e "Rag Mama Rag", composições que são o epitáfio perfeito do grande músico que foi Levon Helm.     
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 20 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 16H12.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 20 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 16H12, e, concluído, às 16H30 do dia 20 de Junho de 2012.

QUEM GOSTA DE PESADELOS?

Vivemos no sonho de sonharmos o que nunca sonhámos. Desconhecemos a razão. Tentamos descobrir a incapacidade da nossa capacidade, mas somos leves demais. Não resistimos ao mais leve sopro de coragem porque não temos asas para não sermos as folhas incandescentes que se vão diluindo com o Outono das palavras mansas. Parecemos a fragilidade das gazelas assustadiças que povoam as imagens das consciências, aprisionadas aos amantes das terras áridas e secas. Temos sede, mas não sabemos que espécie de sede sentimos. Bebemos sonhos que sonhámos, mas não sonhamos com as celas que nos bebem as sedes que, incapazes, não deciframos, porque os livros que somos, são palavras de sedes que não se pontuam em dicionários de sonhos sem sinónimos. Inventamos sons para nos aliviarem a destreza de não sermos as gaivotas que aprenderam a fugir dos temporais, usando as asas que só os sonhos nos dão. Sonhamos que somos a resistência no paraíso da fraqueza e sorrimos à decadência, sonhando que plantamos a eloquência na aridez da vulgaridade e semeamos às raízes do tempo, as assinaturas dos nossos passos cadentes.
Tememos a fluência dos rios, mas não interpretamos os dialectos das nascentes.
Sabemos como acordamos dos sonhos, mas nunca aprendemos a conhecer, como e quando, eles nos ocultam as realidades das verdades que recusamos, porque, em vez de sonhos, são pesadelos. Pesadelos!? Quem gosta deles? Só o Freud.
Biblioteca de Oeiras, 10/12/2009 - 16H33 - Jorge Brasil Mesquita. Jorge Manuel Brasil Mesquita. Recriado, em 20 de Junho de 2012, na Bilioteca Nacional, às 16H07.

FISGADAS POLÍTICAS - X - CORTES DE SALÁRIOS

Ao promulgar o novo Código Laboral, o Senhor Aníbal Cavaco Silva, Presidente da República Portuguesa, abriu caminho, ainda que indirectamente, aos cortes de salário, algo contra o qual o Senhor Presidente se pronunciou, afirmando que seria inoportuno para o crescimento da economia portuguesa. Pelo o que a aprovação sugere, o Senhor Presidente mudou de opinião. Por outro lado, não se opôs à extinção do feriado do 5 de Outubro que celebra a implantação da República, em Portugal, o que me leva a crer que não se oporia, igualmente, à extinção do cargo de Presidente da República, o que o faria feliz por poder ir para casa mais cedo do que esperava, aproveitando, de caminho, para levar consigo o Senhor Pedro Passos Coelho, Primeiro-Ministro de Portugal, que se transformou em um relógio de repetições. Bem vistas as coisas, eram dois cortes de salário que muito contribuiriam para a diminuição do défice público.    
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 19 de Junho de 2012, em casa, à noite, às 22H05.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 20 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 15H09, e, concluído, às 15H25 do dia 20 de Junho de 2012.

ALGURES NUMA TAVERNA

Perdi a rota do meu destino, mas um caracol com os pauzinhos ao sol iluminou-me um trilho, cujo final era uma taverna, onde pedaços de memórias me saudaram com sorrisos e com todo um arco-íris de borboletas que me perfumaram com os hálitos frescos de canções a que o meu corpo não resistiu. E, eu que não sabia dançar, senti que os meus pés se moviam, sincronizados, com os ritmos das cores que embelezavam a taverna, onde cumprimentei as saudades do futuro com apertos de mão que o passado não soube apascentar. A taverna tinha tudo o que eu não tinha: a beleza dos sorrisos, a franqueza das ideias e os abraços que abraçavam cada distância, encobrindo estes corredores de mediocridade com os saldos dos meus pensamentos. Nesta taverna fui alimentado com todas as descobertas que o meu corpo escanzelado sempre suprimira, em devaneios de perturbações eloquentes. Aprendi a ter asas de borboletas que ignorava e lambi a todos os voos de pássaros que jamais conhecera, as refeições da minha imaginação perdida nos rudimentos de farsas humanas que eram representadas nos palcos dos teatros caseiros; encetei as viagens perdidas ao mundo secreto das magias que enriquecem a fraqueza dos corpos com os brincos sexuais das sensualidades, dos erotismos e dos orgasmos românticos.
A taverna não era um sonho, mas uma fonte inesgotável do saber, que a ignorância recusava, por ter medo de ser a fonte do seu medo.
Agarrado às conversas de todos os tempos, julguei que fugindo de mim mesmo, encontraria nas raízes que plantara, a encruzilhada de ideias a que nunca quis decifrar os códigos porque os teclados que dirigiam redes digitais, nasciam alucinadas com as realidades de uma qualquer negação.
Nesta taverna nada se nega, não se questionam as perguntas e há sempre o fruto das respostas que, conforme os sabores, racionalizam a aprendizagem de qual dos ventos é o jazz dos nossos desejos mais íntimos. Ao ouvir os cancioneiros tradicionais de uma ética popular, abandonei a taverna para ouvir os limites lunares da minha regeneração histórica, assobiando uma velha trova que atravessou a noite como um silvo de um comboio, que corria, tal como eu, ao encontro do seu destino.
Sem que a verdade me escapasse, dominei a solidão nocturna e descarrilei, inebriado pela pureza das sombras nocturnas. Adeus rota da ignorância, adeus casa sem destino, adeus a tudo o que resta ao que não vejo, porque descobri neste engano de rotas a solidez nocturna da luz, nascida de um caracol com os pauzinhos ao sol.
Biblioteca de Oeiras, 12/12/2009 - 17H57
Biblioteca de Oeiras, 21/12/2009 - 14H23
Jorge Brasil Mesquita. Jorge Manuel Brasil Mesquita. Recriado, em 20 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H37.

MINIATURAS - VIII

CABER EM TUDO O QUE É TUDO, CABENDO EM LUGAR NENHUM.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 19 de Junho de 2012, na Avenida da República, às 18H49.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 20 de Junho de 2012, às 14H25. 

SONETOS - II - ABUTRES SÉRIOS

Para que não haja sonhos em vão
há os lábios que abraçam às vidas
os desejos que sugam as feridas
aos olhos sujos da sua solidão

as verdades e as suas mentiras são
um bailado de larvas bem tecidas
em honra de palavras mal vestidas
que circulam no caos do alcatrão

choques entre a natureza humana
e o frio glaciar da falência urbana
fantasmas que povoam os cemitérios

onde ululam os abutres sérios
que pululam nos ritos mais etéreos
p´ra celebrarem a farsa mundana.
Centro Cultural de Belém, 29/11/2009 - Jorge Brasil Mesquita
P.S. Espero que tenham percebido que o título "Abutres Sérios" é uma ironia. Um abutre é sempre um abutre, senão nunca será um abutre a sério...

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 20 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H18.

ZIPS SONOROS - X - GO-BETWEENS

Encerramos este espaço escocês da editora independente Postcard de Alan Horne com a sua quarta contratação, embora esporádica. Tratou-se do grupo australiano Go-Betweens que se formou em Brisbane, Austrália, em 1978, tendo como núcleo central os compositores e instrumentistas, Robert Forster e Grant McLennan, a quem mais tarde se juntaram, Dennis Cantwell e Lindy Morrisson.
Bob Dylan, Velvet Underground, Monkees, Television, Talking Heads e Patti Smith, influenciaram as criações escritas e sonoras dos Go-Betweens.
Quando o grupo assinou pela Postcard, o grupo já havia gravado dois 7” para a editora independente australiana Abel. Após a rápida passagem pela Postcard, o grupo voltou à Austrália onde gravou o seu primeiro LP para a Missing Link que serviu de ponto de partida para serem contratados pela editora londrina Rough Trade.
Eis a discografia independente dos Go-Betweens:

Austrália – Abel
Outubro de 1978 – 7” – Lee Remick/Karen
Outubro de 1979 – 7” – People Say/Don´t Let Him Come Back

Escócia – Postcard
Novembro de 1980 – 7” – I Need Two Heads/Stop Before You Say It

Londres – Rough Trade
Junho de 1982 – LP – Send Me a Lullaby
Julho de 1982 – 7” – Hammer The Hammer/By Chance
Fevereiro de 1983 – 7” – Cattle and Cane/Heaven Says
Setembro de 1983 – LP – Before Hollywood
Outubro de 1983 – 7” – Man O´Sand To Girl O´Sea/This Girl Black Girl

Aconselho vivamente a audição do LP “Send Me a Lullaby” e do 7” “Cattle and Cane”
Oeiras, 16/10/2009 – Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 20 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H06.

FRICÇÕES - III - EDUCAÇÃO

Em Educação, sou, totalmente, a favor do sistema de avaliação contínua, e, visceralmente, contra o sistema de exames finais. Na Educação, respira-se e transpira-se, "Reviver o Passado em Escuridão". A ausência de fricção é uma falha educativa. 
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 19 de Junho de 2012, à noite, em casa, às 22H10.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 20 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H50, e, concluído, às 13H56 do dia 20 de Junho de 2012.

ASAS EM PLENO VOO

Levantei voo. Não com as asas do que era, mas com as asas do que sou. Sem asas não há voos e sem voos não há sonhos que se realizem. Por cada passo que dei, construí um Futuro que hoje não passa de um passado; por cada passo que darei, desconheço o Futuro que serei, embora saiba que sinta sobre mim, o voo dos abutres que consideram que eu sou uma presa de facilidades. Haverá sonhos que nunca sonharei, porque sei que a realidade que sou, é um sonho de ninguém e ninguém será o pássaro em que me tornarei com as asas que não se verão porque estes voos incomparáveis sem as asas do que era e do que serei, serão apenas voos de uma liberdade que a expressão não conhece. Serei tempo, vento e memória de todos os voos que voarei, para além de tudo o que é imaginável, simplesmente, porque sou um sonho de asas em pleno voo. Sesimbra, 30/12/2009 - 12h22 - Jorge Brasil Mesquita
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 20 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H44.

MINIATURAS - VII

A COERÊNCIA É UM DOMÍNIO QUE POUCOS DOMINAM.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 20 de Junho de 2012, na Estação do Metro de Entrecampos, às 12H10.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 20 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H34.

CRITICARTE - XIII - ALBERT CAMUS

Será que a realidade em que todos vivemos, não passa de um absurdo, absorvendo toda a simplicidade planetária que, em rotações sucessivas de 24 horas, nos esconde ou nos revela a pirataria humana, de sendo o que não se é, desperta a vontade de se ser o absurdo que se respira, não respirando nada, para se ser o nada que se é?
O absurdo de “O Estrangeiro” de Albert Camus é a obra crucial de um escritor que se ultrapassou, ultrapassando a vulgaridade, para se encarnar no pedestal da posteridade.
Albert Camus nasceu em Mondovi, na Argélia, em 7 de Novembro de 1913. Frequentou a Universidade de Argel, sendo obrigado, para custear os seus estudos, a exercer as profissões de vendedor de acessórios de automóveis, de empregado de escritório, de meteorologista e de amanuense da Prefeitura. Camus licenciou-se em Filosofia. Devido a doença, abandonou o professorado e dedicou-se ao jornalismo, primeiro em Argélia, no Alger Republicain, depois no Combat, integrado na Resistência Francesa durante a II Grande Guerra. Após a guerra, para além de se dedicar ao Desporto, foi um dos impulsionadores de um grupo de teatro: L´Equipe.
Em 1952, recebe o Prémio Nobel da Literatura e, em 1960, morre num desastre de automóvel.
Camus é um tradutor de percursos humanos que se projectam entre um sol violento, produtor de luz e, paisagens, onde se movem geografias de sombras.
O livro de Camus a que eu, hoje, dou vida é a “Queda” de 1956, que é, praticamente, um monólogo, onde se cruzam a ironia, o sarcasmo e uma variedade de pecadilhos humanos.
“O que é um juiz penitente? Ah! Deixei-o intrigado com esta história. Não ponha nisso malícia alguma, acredite, e posso explicar com mais clareza.
Há alguns anos, eu era advogado em Paris e, palavra, um advogado bastante conhecido, tinha uma especialidade: as causas nobres. Bastava-me, no entanto, farejar num réu o mais leve cheiro a vítima para que as minhas mangas entrassem acção. E que acção! Uma tempestade! Além disso eu era animado por dois sentimentos sinceros: a satisfação de estar do lado bom da barra e um desprezo instintivo pelos juízes, em geral.”
Actualmente, Camus, talvez, passe por ser um escritor de estante, o que será uma ingratidão da parte de quem é um estrangeiro em si mesmo.
Oeiras, 27/10/2009 – Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 20 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H27.