terça-feira, 10 de julho de 2012

DIÁRIOS - II

Hoje acordei morto. Fingi que me lavei, vesti-me como se veste um vivo, tomei um pequeno-almoço qualquer e escapei de casa, dirigindo-me à estação de caminhos de ferro de Oeiras. Apanhei o comboio que pára em todas as estações, porque adoro apreciar os vivos que entram e saem  sugando vidas que desconhecem, abraçando com as pupilas os mortos que não se vêem e que não os vêem. Como, hoje, vivo morto, ninguém repara no cheiro a chá de cidreira que espalho por onde passo. Cheguei ao Cais do Sodré, subi a rua do Alecrim, cantando canções que ninguém ouvia. Quem se interessa pelos sons de um morto que vive a vida de um vivo que não se encontra vivo. Passei pelo Chiado e observei com minúcia a estátua do poeta cheio de nomes. Não gosto da estátua. Falta-lhe a arca e o poema do guardador de rebanhos. Rebanhos que, como eu, sobem e descem o Chiado, chilreando como passaritos sem poiso certo. Vivos ou mortos, como eu?
Parei em frente a uma montra na Rua do Carmo. Poderá um morto apaixonar-se por um manequim, exposto na montra de uma boutique? Afinal, com tantos manequins que se riem e conversam na rua, logo havia eu de me apaixonar por um manequim. Como morto, ninguém reparou que entrei na boutique, que surripiei o manequim e que fomos, ébrios de vida, dançar para o meio da rua. Parece que só eu ouvia a música que nos embalava, só eu era o metrómono do meu ritmo de morto. Assim que me cansei, devolvi o manequim à montra e enfiei-me no metro. Saí em São Sebastião e fui ao cinema, entusiasmado por poder ver um filme do grande detective Sherlock Holmes. Poderá um morto assassinar a morte de uma película cinematográfica? Descobri no final de uma desilusão que não, embora as minhas cavidades oculares estivessem em brasa, mas juro que não queimaram nada. Comi qualquer coisa na restauração do Corte Inglês, meti-me no metro e regressei a casa, acompanhado por uma multidão de vivos, ou, talvez, quem o saberá, de outros mortos como eu, mas sem que ainda se tenham apercebido de tal. À noite, vesti-me de vivo, deitei-me na cama e sonhei como morto. Sonhei com essa maldita pergunta que perdurou para além de toda a ciência flutuante. Estarei vivo, como vivo, ou vivo, como morto? Não sei, nem quero saber. Um morto, nunca quer saber de nada, excepto quando é embalado pelo prazer da vida.
Centro Cultural de Belém, 09/01/2010 - Jorge Brasil Mesquita - 16H16

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado e corrigido, directamente, no blogue, em 10 de Julho de 2012, na Biblioteca Nacional, entre as 16H18 e as 16H29 do dia 10 de Julho de 2012.

MEMÓRIAS SONORAS - XXII - "A HARD RAIN' S A-GONNA FALL"

A memória é uma espécie de computador onde se podem pesquisar factos históricos que justificam o nascimento de composições musicais que se tornaram em bandeiras ou em manifestações de oposição a erros políticos que inúmeras vezes se transformam em riscos para a Humanidade.
Estão, neste caso, os acontecimentos ocorridos entre 1961 e 1963, entre os EUA e a União Soviética, que graças à ingenuidade e imaturidade política do Presidente Kennedy dos EUA, provocaram o desastre da Baía dos Porcos. Sucederam-se a tentativa de envenenamento de Fidel de Castro, o bloqueio naval e, sobretudo, a crise dos mísseis, todos eles ligados a Cuba e que estiveram na origem de uma quase catástrofe nuclear. As oposições musicais que surgiram, especialmente, entre os Folk Singers estado-unidenses, contribuiram para o aumento da popularidade de Bob Dylan que já havia conquistado grande notoriedade com o tema “Blowing In The Wind” que não é a minha memória sonora. Esta refere-se a outra composição que Bob Dylan considerou como uma espécie de epitáfio musical, tal era a convicção do desespero que reinava nesse tempo. A composição chama-se “A Hard Rain´S Gonna Fall”. Seguindo o próprio pensamento de Dylan, o verso chave da canção é “The Pellets Of Poison Are Flooding Us All”. A canção foi escrita no final de 1962 e, incluída, no álbum “Freewheelin”, de 1963.
Como é habitual apresento a seguir o acesso ao You Tube e a letra da composição:

vids.myspace.com/index.cfm?fuseaction=vids.individual&videoid=31363243

A Hard Rain's A-Gonna Fall
Oh, where have you been, my blue-eyed son?
Oh, where have you been, my darling young one?
I've stumbled on the side of twelve misty mountains,
I've walked and I've crawled on six crooked highways,
I've stepped in the middle of seven sad forests,
I've been out in front of a dozen dead oceans,
I've been ten thousand miles in the mouth of a graveyard,
And it's a hard, and it's a hard, it's a hard, and it's a hard,
And it's a hard rain's a-gonna fall.
Oh, what did you see, my blue-eyed son?
Oh, what did you see, my darling young one?
I saw a newborn baby with wild wolves all around it
I saw a highway of diamonds with nobody on it,
I saw a black branch with blood that kept drippin',
I saw a room full of men with their hammers a-bleedin',
I saw a white ladder all covered with water,
I saw ten thousand talkers whose tongues were all broken,
I saw guns and sharp swords in the hands of young children,
And it's a hard, and it's a hard, it's a hard, it's a hard,
And it's a hard rain's a-gonna fall.
And what did you hear, my blue-eyed son?
And what did you hear, my darling young one?
I heard the sound of a thunder, it roared out a warnin',
Heard the roar of a wave that could drown the whole world,
Heard one hundred drummers whose hands were a-blazin',
Heard ten thousand whisperin' and nobody listenin',
Heard one person starve, I heard many people laughin',
Heard the song of a poet who died in the gutter,
Heard the sound of a clown who cried in the alley,
And it's a hard, and it's a hard, it's a hard, it's a hard,
And it's a hard rain's a-gonna fall.
Oh, who did you meet, my blue-eyed son?
Who did you meet, my darling young one?
I met a young child beside a dead pony,
I met a white man who walked a black dog,
I met a young woman whose body was burning,
I met a young girl, she gave me a rainbow,
I met one man who was wounded in love,
I met another man who was wounded with hatred,
And it's a hard, it's a hard, it's a hard, it's a hard,
It's a hard rain's a-gonna fall.
Oh, what'll you do now, my blue-eyed son?
Oh, what'll you do now, my darling young one?
I'm a-goin' back out 'fore the rain starts a-fallin',
I'll walk to the depths of the deepest black forest,
Where the people are many and their hands are all empty,
Where the pellets of poison are flooding their waters,
Where the home in the valley meets the damp dirty prison,
Where the executioner's face is always well hidden,
Where hunger is ugly, where souls are forgotten,
Where black is the color, where none is the number,
And I'll tell it and think it and speak it and breathe it,
And reflect it from the mountain so all souls can see it,
Then I'll stand on the ocean until I start sinkin',
But I'll know my song well before I start singin',
And it's a hard, it's a hard, it's a hard, it's a hard,
It's a hard rain's a-gonna fall.
Bob Dylan
Copyright ©1963; renewed 1991 Special Rider Music

Jorge Brasil Mesquita
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado e corrigido, em 10 de Julho de 2012, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, entre as 14H55 e as 15H03 do dia 10 de Julho de 2012.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

DIÁRIOS - I

Saí de casa, bem cedinho, com um caderninho e uma esferográfica na mão. Caminhava indiferente ao tempo chuvoso, enquanto ia cantarolando qualquer coisa imperceptível para enganar todos os pensamentos que me aprisionavam. Entrei num café, sentei-me numa mesa junto da janela e pedi um garrafa de água natural, sem gás. Assim que a depositaram na mesa, bebi uns quantos goles e, depois, abri o caderninho, e, de esferográfica em punho, fui escrevendo, ao acaso, uma cachoeira de palavras até que fui invadido pelo fastio. Fechei o caderninho, cruzei os braços sobre o peito e fechei os olhos, fingindo que dormitava. Desconheço o tempo que passou. Abri o caderninho e tentei descobrir no emaranhado das palavras escritas um sentido qualquer. Pareciam palavras isentas de honestidade, aprendidas como quem com elas se disfarça com o intuito de cozinhar um rodeo de segredos e de mentiras que rimam com as deontologias da ilusão. Tentei fazer com elas um alfabeto e desenhar, no meu pensamento, uma luz clara que a todos iluminasse o caminho da verdade. Foi uma leitura inútil. Quanto mais olhava para as palavras, mais poeira lançava para o interior de mim mesmo. Não que eu seja cego, mas quando se interlaçam os mistérios e os sons de uma floresta, é quase certo que rebenta uma disfunção cerebral qualquer que não me permite celebrar palavras que se riem de mim com as grossas gargalhadas de pavões que, com os seus leques abertos de cores, ficam óptimas em uma passerelle, onde os supra sumos da sapiência ditam as palavras das insuficiências culturais. As palavras escritas não se resumiam de maneira nenhuma, não explodiam em ideias, foram o reflexo de um dia chuvoso.
Paguei a água, levantei-me e abandonei o café, gastando o resto do dia em passeios ao acaso. Usei-os como um subterfúgio para me esconder de mim próprio. A noite crescia quando regressei a casa, onde, com um pouco de música, adormeci, rastejando pelo mundo envidraçado dos sonhos. E, assim, se passou mais um dia na vida de quem sabe que a vida é um mero segundo de palavras abertas e de sentidos desérticos.

Biblioteca de Oeiras, 09/01/2010 - Jorge Brasil Mesquita - 15H01
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, directamente, no blogue, em 09 de Julho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 16H03. Corrigido, em 10 de Julho de 2012, às 14H43.

MEMÓRIAS SONORAS - XXI - "WOODSTOCK"

O Festival de Woodstock, realizado nos dias 15, 16 e 17 de Agosto de 1969, na herdade de Max Yasgur, Estado de Nova Iorque, foi, simultaneamente, o apogeu e o início do declínio do movimento de contra-cultura e hippie, iniciado em San Francisco e tendo como mentores os elementos fundadores da Beat Generation e que foi engolido pelo Sistema com a maior das naturalidades. Contudo, não é com o Festival que preencherei esta memória sonora, mas sim com a composição “Woodstock” que é uma celebração do Festival e que foi composta por essa grande senhora da música popular, Joni Mitchell, em 1969 e editada no seu álbum “Ladies of The Canyon” de 1970. Porém, não é a sua versão, nem a dos seus amigos e companheiros Crosby, Stills, Nash and Young que se encontra no álbum “Deja Vu” de 1970. Esta memória sonora pertence ao grupo Matthews Southern Comfort de Ian Matthews, que, entretanto, havia abandonado os Fairport Convention. A versão é uma mistura de Folk, açúcar e harmonias vocais que brilham pela limpidez e que traduzem, em minha opinião, o ambiente que se viveu no Festival.


www.youtube.com/watch?v=pyTUF5gP2KE

Woodstock Lyrics

I came upon a child of God
He was walking along the road
And I asked him, "Where are you going?"
And this he told me...

I'm going on down to Yasgur's Farm,
I'm gonna join in a rock and roll band.
I'm gonna camp out on the land.
I'm gonna get my soul free.

We are stardust.
We are golden.
And we've got to get ourselves back to the garden.

Then can I walk beside you?
I have come here to lose the smog,
And I feel to be a cog in something turning.

Well maybe it is just the time of year,
Or maybe it's the time of man.
I don't know who I am,
But you know life is for learning.

We are stardust.
We are golden.
And we've got to get ourselves back to the garden.

By the time we got to Woodstock,
We were half a million strong
And Everywhere there was song and celebration.

And I dreamed I saw the bombers
Riding shotgun in the sky,
And they were turning into butterflies
Above our nation.

We are stardust..
We are golden..
And we've got to get ourselves back to the garden.
Joni Mitchell

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, directamente, no blogue, em 09 de Julho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H22.

sábado, 7 de julho de 2012

FRICÇÕES - VIII - VETO AOS SUBSÍDOS

CORTES DOS SUBSÍDIOS DE FÉRIAS E DO NATAL: O TRIBUNAL CONSTITUCIONAL VETA E NÃO VETA, O GOVERNO EMBOLSA O VETO COM O SEU MEIO VETO. SERÁ QUE O MEIO VETO NÃO É INCONSTITUCIONAL?
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, escrito e corrigido, directamente, no blogue, em 07 de Julho de 2012, na Biblioteca Nacional, entre as 13H31 e as 13H35 do dia 07 de Julho de 2012 e, às 15H24.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

AFLUENTES POEMÁTICOS - XXV - MURAL

NO SILÊNCIO QUE SE ADORA
HÁ PRISÕES DE ASFALTO
QUE ATRAVESSAM A HORA
COM O RISO DE QUEM CHORA
E A FEBRE DE UM ASSALTO
À SOLIDÃO QUE RESVALA
ENTRE A DOR QUE TUDO EMBALA
E A CORTE DA AGONIA
QUE EM TUDO FANTASIA.
SÃO AS JORNAS DO DESTINO
NAS OLHEIRAS DOS AFAGOS
ESSES CÂNTICOS SEM TINO
QUE ROMPEM VAGAS E BAGOS
ÀS GARGANTAS DO SEGREDO
E ÀS CAMAS DO DEGREDO.
NO SILÊNCIO QUE DEVORA
A ESPERA DA ESPERANÇA
HÁ UM AMOR QUE NAMORA
A TRISTEZA DE QUEM DANÇA
E O FUTURO DA CORAGEM
NA PINTURA DA MENSAGEM
QUE SE ABRAÇA AO MURAL
DO FASCÍNIO MAIS CARNAL.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado e escrito, directamente, no blogue, em 04 de Julho de 2012, na Biblioteca Nacional, entre as 16H17 e as 16H51 do dia 04 de Julho de 2012.

CRITICARTE - XVIII - "OS COMBOIOS VÃO PARA O PURGATÓRIO"

Um escritor é tanto mais suculento quanto maior for a sua capacidade de transformar em um delírio contínuo o sumo ritmado da sua prosa musculada. Um breve comentário introdutório para, resumidamente, abordar um livro que encantou a minha sensibilidade: "Os Comboios Vão para o Purgatório", de Hernán Rivera Letelier. Um comboio atravessa as entranhas do deserto de Atacama, no Chile, levando no seu interior uma multidão de sabores, um mercado de emoções e de paixões que se vão criando e desenvolvendo ao longo de uma viagem cujo destino é a ignorância de um futuro ausente. Leitura iniciada e, passageiros do comboio, percorremos, quasi sem fôlego, o cordão umbilical da sua viagem. Um belo livro!  
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado e escrito, directamente, no blogue, em 04 de Julho de 2012, na Biblioteca Nacional, entre as 15H05 e as 15H22 do dia 04 de Julho de 2012.

FALTA DE APETITE

Hoje, falta-me, em apetite, o que me sobra em desleixo escriturário. Os meus olhos são os chips secretos do que escrevo e do que transmito para que outros olhos de leitura automática se esquivem à consulta de um original que preza os castiçais da sua castidade. Quero lá saber que os apetites sejam como o azeite que vêem à tona da água para demonstrar a veracidade aos que conjuram as mentiras do seu suporte. A escrita é um recreio onde brincam as palavras dos jogos que me aliviam o stress humanístico de uma reforma fisgada pelas ondas da austeridade. Escrevo porque me apetece. Descanso os verbos para que os adjectivos não tenham substantivos. É um carrocel de identidades argutas que distendem os seus augustos abraços por todos aqueles que se atrevem a escapar às manipulações que outros subscrevem de uma forma despudorada. O eldorado de uns é a ruína de outros, facto que todos estimam e engolem para que as suas ternuras não se ofendam com a caliça de um cérebro oco. Não tenham pena deste autor, nem dos seus direitos que são oferenda de lautos banquetes e de pagodes da velha ciência para que o alvo a atingir sejam estas linhas de embalagens titânicas. Tudo tentam para me castrar a personalidade que não está à venda, que não se entrega ao acantonamento da sua liberdade. Os olhos podem filmar, mas a razão que os sustenta é um guião que não cabe na memória de todos aqueles que os usurpam. Quero lá saber do que não sei e do que sei saber.    
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado e escrito, directamente, no blogue, em 04 de Julho de 2012, na Biblioteca Nacional, èntre as 13H58 e as 14H31 do dia 04 de Julho de 2012.

MINIATURAS - XII

O EMPOBRECIMENTO DA CULTURA DEVE-SE À CULTURA DO EMPOBRECIMENTO.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado e escrito, directamente, no blogue, em 04 de Julho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H50.

terça-feira, 3 de julho de 2012

HARMONICA BLUES - VI

Os diabinhos rubros com caudas doiradas ligaram os turbos e distenderam as asas dos dois skates que, prontamente, se elevaram no ar que, pouco a pouco, se ia tornando irrespirável.
- Porquê, para norte? - perguntou um deles, meio desvairado.
- Sim, porquê, para norte - repetiu o outro cada vez mais rubro.
- Porque o norte é o norte de tudo o que não é do sul.
O silêncio regressou e, eu, voltei-me para sul com os olhos inundados pelos ritmos das saudades. O corpo, os lábios, os cabelos de avelâ, os olhos de topázio. "I´m In Love With a Girl That Does Not Exist". Voávamos sem tempo. Retirei a máscara da minha cintura e ajustei-a ao meu rosto. Ao aproximar-nos do primeiro horizonte desvendámos nos curto-circuitos das nuvens esventradas a galopada infernal dos "Riders On The Sorm". Vinham do poente e sonhavam com o nascente. Não tinham ilusões e fundavam em cada baforada de vícios ancestrais as relíquias de um futuro por desvendar. Um vento mais opaco obrigou-nos a regressar à auto-estrada, cada vez mais negra, cada vez mais sangrenta. Um pouco mais à frente, ou seria um pouco mais para trás? Não sei, encontrámos, na berma da estrada que se confundia com o poente, o poeta Allen Ginsberg que, empoleirado num "Green Tambourin" debitava para um mesclado de imigrantes o seu poema "Howl". 
- Eh! Ginsberg, por onde anda o Beat da Generation?
- Não sei, perdi-lhe o rastro. Não me interrompas que perco o fio à meada.
Como conhecia de cor e salteado a bebedeira das palavras pedi aos diabinhos rubros que acelarassem os skates e armado da minha harmonica soprei com quanta força tinha "I Got My Mojo Working", enquanto o norte era cada vez mais o norte.       
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado e escrito, directamente, no blogue, em 03 de Julho de 2012, na Biblioteca Nacional, entre as 14H10 e as 14H45 do dia 03 de Julho de 2012.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

TENHO DIAS...

Tenho dias que vivo no deserto, entre as areias errantes, as estrelas e o Sol. Quando o vento entoa os seus cânticos de desespero, eu desapareço. Abraço-me ao alfabeto das dunas e não faço perguntas, nem ouço respostas. O vento apesar de ser um concerto de sons que lambem e lamentam toda a solidão que vestem, são o corpo do silêncio que caminha, perdido e cansado, entre a luz ofegante do Sol e a suavidade luminosa das estrelas.
A noite é o camelo que me conduz à lanterna de um oásis, onde o cansaço é um sonho de nunca mais acordar. A simplicidade deste percurso diário, é a arte complicada de não pensar, sugando todo o seu encanto com a realidade das dunas que me povoam e com a eternidade do camelo que se arrasta sem oásis e sem desertos para compreender que a água reservada, não é mais do que um sopro de pérolas que choveram dos olhos, sem luz do dia, sem a luz da noite, porque as dunas apenas lambem o tempo com os lacraus da finidade. Tem dias que esta duna que aparento ser, cobre a razão da luz, esconde no silêncio da sua imobilidade a voz que o silêncio abraça ternamente para que não se ouçam os pingos da chuva que nunca se olham.
Tenho dias que sou o adeus do próprio adeus. Só o vento me acalma, só uma palmeira conhece a sombra da minha sombra.
Tenho dias que entre o deserto e as estrelas, sou a simplicidade do nada, do ninguém.
Tenho dias que é este o hábito que visto na areia solitária de um silêncio.
Biblioteca de Oeiras, 07/12/2009 - Jorge Brasil Mesquita. Jorge Manuel Brasil Mesquita. Recriado e escrito, directamente, no blogue, em 02 de Julho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H52.

sábado, 30 de junho de 2012

MEMÓRIAS SONORAS - XX - "THE PARTISAN"

Enquanto a França viveu sob a ocupação da Alemanha Nazi, durante a II Grande Guerra, formaram-se vários grupos de guerrilheiros que constituíram A Resistência. Um desses grupos denominava-se Partisans que combatiam apoiados pela força aglutinadora do seu hino “Le Chante de Partisan”, composto por Maurice Druon e Joseph Kessel. Porém, este hino baseou-se numa composição, em russo, de Anna Marly, com tradução posterior para inglês de Hy Zaret. Foi este “The Partisan” que o poeta e cantautor canadiano Leonard Cohen contribuiu para a sua divulgação junto da juventude dos anos 70, como homenagem à Resistência Francesa e contra toda a forma de imperialismos. O tema retrata a caminhada de um Partisan, na sua acção de resistência. “The Partisan” é uma das faixas incluídas no álbum “Songs From a Room” de 1969. Seguem-se os acessos ao You Tube e os poemas de cada um dos temas:

www.youtube.com/watch?v=oG4ndbhOkpI

"The Partisan"

When they poured across the border
I was cautioned to surrender,
this I could not do;
I took my gun and vanished.
I have changed my name so often,
I've lost my wife and children
but I have many friends,
and some of them are with me.

An old woman gave us shelter,
kept us hidden in the garret,
then the soldiers came;
she died without a whisper.

There were three of us this morning
I'm the only one this evening
but I must go on;
the frontiers are my prison.

Oh, the wind, the wind is blowing,
through the graves the wind is blowing,
freedom soon will come;
then we'll come from the shadows.

Les Allemands e'taient chez moi, (The Germans were at my home)
ils me dirent, "Signe toi," (They said, "Sign yourself,")
mais je n'ai pas peur; (But I am not afraid)
j'ai repris mon arme. (I have retaken my weapon.)

J'ai change' cent fois de nom, (I have changed names a hundred times)
j'ai perdu femme et enfants (I have lost wife and children)
mais j'ai tant d'amis; (But I have so many friends)
j'ai la France entie`re. (I have all of France)

Un vieil homme dans un grenier (An old man, in an attic)
pour la nuit nous a cache', (Hid us for the night)
les Allemands l'ont pris; (The Germans captured him)
il est mort sans surprise. (He died without surprise.)

Oh, the wind, the wind is blowing,
through the graves the wind is blowing,
freedom soon will come;
then we'll come from the shadows.

Anna Marly/ Hy Zaret


youtube.com/watch?v=QRhg-Ioik8c

Le chant des partisans
Ami, entends-tu le vol noir des corbeaux sur nos plaines ?
Ami, entends-tu les cris sourds du pays qu’on enchaîne ?
Ohé, partisans, ouvriers et paysans, c’est l’alarme.
Ce soir l’ennemi connaîtra le prix du sang et les larmes.
Montez de la mine, descendez des collines, camarades !
Sortez de la paille les fusils, la mitraille, les grenades.
Ohé, les tueurs à la balle et au couteau, tuez vite !
Ohé, saboteur, attention à ton fardeau : dynamite…
C’est nous qui brisons les barreaux des prisons pour nos frères.
La haine à nos trousses et la faim qui nous pousse, la misère.
Il y a des pays où les gens au creux des lits font des rêves.
Ici, nous, vois-tu, nous on marche et nous on tue, nous on crève…
Ici chacun sait ce qu’il veut, ce qu’il fait quand il passe.
Ami, si tu tombes un ami sort de l’ombre à ta place.
Demain du sang noir sèchera au grand soleil sur les routes.
Chantez, compagnons, dans la nuit la Liberté nous écoute…
Ami, entends-tu ces cris sourds du pays qu’on enchaîne ?
Ami, entends-tu le vol noir des corbeaux sur nos plaines ?
Oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh…
Maurice Druon/ Joseph Kessel
Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, directamente, no blogue, em 30 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 15H58.

MINIATURAS - XI

NO PEITO DO FUTURO PULSA O CORAÇÃO DO PASSADO.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado e escrito, directamente, no blogue, em 30 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H55.

MEMÓRIAS SONORAS - XIX - "CHERNOBYL BABY"

Tem-se vindo a notar, ultimamente, uma crescente insistência em discutir-se a utilização da energia nuclear, como uma das soluções tendentes a resolver os problemas energéticos que o planeta enfrenta, justificando-se a opção, com uma maior segurança oferecida pelos reactores de última geração. Contudo, será conveniente não esquecer-se os problemas que representam os resíduos radioactivos, para os quais ainda não se encontrou qualquer solução e que representam, igualmente, um factor de risco.
A este propósito fui pesquisar à memória os dois acidentes nucleares que durante estas discussões, não devem ser colocados de lado, como foram os casos mundialmente conhecidos de Three Mile Island, em 1979, no Estado da Pensilvânia, nos EUA e, sobretudo, o catastrófico acidente de Chernobyl, na ex-União Soviética, hoje Ucrânia, em Abril de 1986 e cujas consequências radioactivas, ainda, hoje, se fazem sentir.
Em 1987, Alan McGee, dono da editora independente Creation Records, com o auxílio de Nick Currie, decidiram formar um agrupamento feminino. Com esse objectivo deslocaram-se a uma das megas lojas da Virgin Records e abordaram e recrutaram três das suas empregadas, Jackie, Perule e Jo, sem qualquer preocupação com as suas qualidades musicais. Assim nasceram as Baby Amphetamine, cujo nome foi retirado da capa de um dos singles do grupo australiano Go Betweens. Alan McGee escreveu para as Baby Amphetamine a composição “Chernobyl Baby” que foi editada, em 7” e 12”, em 1987. Infelizmente por dificuldades operacionais não posso incluir nesta memória sonora a música do tema, nem me foi possível encontrá-la na net. Resta-me apenas a divulgação da letra.

CHERNOBYL BABY

I´m a Chernobyl Baby POW! POW! POW!
With radiation contamination waiting for an operation
Gillette software, Sony c.d.´s
Electronic toyland all a kid could be

WHO NEEDS THE GOVERNMENT!

I´m a Chernobyl Baby POW! POW! POW!
With a Matusi, John Belushi, radioactive type of sushi
Playgirl heir in Spy-Fi drama
Who needs Bananarama

WHO NEEDS THE GOVERNMENT!
Alan McGee
Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, directamente, no blogue, em 30 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H45.

AFLUENTES POEMÁTICOS - XXIV - RÉGUA DE VENTO

ESTA RÉGUA DE VENTO
QUE NOS MEDE A IDADE
COM DEDOS DE TALENTO
É A VOZ DA CIDADE
E DO SEU MOVIMENTO
EM VOLTA DE UMA POSE
QUE A MODA DESCOSE
P´RA QUE OS SONS DE UM RITO
SE TRANSFORMEM NO MITO
QUE A MIRAGEM HUMANA
ASSIMILA URBANA
NA CAMA DA MORAL
E NA CHAMA CARNAL.
ESTE TEMPO QUE PASSA
SEM SOMBRAS DE FUTURO
É A FRASE DEVASSA
DO PASSADO MADURO
QUE PERDIDO ESQUECE
A DOR QUE AMANHECE
E O PORVIR DA PRECE
QUE PARTE SEM PORTO
E RENEGA ABSORTO
A NOITE QUE SE AQUECE
AO CANTO DO AMOR
ÀS CHAGAS DA SUA FLOR.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado e escrito, directamente, no blogue, em 30 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, entre as 14H03 e as 14H37 do dia 30 de Junho de 2012.

MEMÓRIAS SONORAS - XVIII - "SHIPBUILDING"

Durante a guerra que se travou entre a Inglaterra e a Argentina em 1982, durante o reinado Tatcheriano em Inglaterra, foram muitas as formas de oposição ao conflito e, entre elas, destacaram-se algumas canções. Uma delas, foi composta por Elvis Costello que escreveu a letra e por Clive Langer que a musicou. A composição com o título de “Shipbuilding” faz parte do álbum “Punch the Clock”, editado em 1983 por Elvis Costello. Mas a minha memória sonora centra-se na notável versão de Robert Wyatt, que antes de cantar a solo, pertenceu a um dos melhores agrupamentos musicais que emergiram nos finais da década de sessenta na UK: os Soft Machine. Foi durante o período que Robert integrou o grupo que teve um estúpido acidente que lhe paralisou as pernas e o obrigou a deslocar-se em cadeira de rodas. O 7” de Robert Wyatt com o “Shipbuilding” trazia uma magnífica reprodução parcial de um quadro de Stanley Spencer (1891-1959), “Shipbuilding On The Clyde”, pintado durante a Segunda Grande Guerra. Da letra da canção saliento, especialmente, os significativos 5 últimos versos que resumem todo o pensamento sobre o conflito armado que opôs Ingleses a Argentinos.
Como é habitual, completo a memória indicando o acesso ao You Tube e a transcrição da letra da composição:

www.youtube.com/watch?v=Rh6IwFhG8G8
Robert Wyatt
Shipbuilding lyrics
Is it worth it
A new winter coat and shoes for the wife
And a bicycle on the boy's birthday
It's just a rumour that was spread around town
By the women and children
Soon we'll be shipbuilding
Well I ask you
The boy said 'DAD THEY'RE GOING TO TAKE ME TO TASK
BUT I'LL BE BACK BY CHRISTMAS'
It's just a rumour that was spread around town
Somebody said that someone got filled in
For saying that people get killed in
The result of this shipbuilding
With all the will in the world
Diving for dear life
When we could be diving for pearls
It's just a rumour that was spread around town
A telegram or a picture postcard
Within weeks they'll be re-opening the shipyards
And notifying the next of kin
Once again
It's all we're skilled in
We will be shipbuilding
WITH ALL THE WILL IN THE WORLD
DIVING FOR DEAR LIFE
WHEN WE COULD BE DIVING FOR PEARLS
Elvis Costello/Clive Langer
Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, directamente, no blogue, em 30 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H45. 

sexta-feira, 29 de junho de 2012

ZIPS SONOROS - XIV - "THROUGH THE TREES" - HANDSOME FAMILY

Brett e Rennie Sparks são o núcleo base de um dos melhores exemplares de Americana, os Handsome Family. Rennie é a liricista e, Brett, o criador sonoro. Às vezes, são ambos. "Through The Trees"  é um exemplo superior de criatividade. As composições são quadros pincelados pelas cores diversificadas do quotidiano. "Weighless Again", "Stalled", "Cathedrals" e "Bury Me" são tradições sonoras que se ouvem como se fossem o slow motion de fotografias que nos deleitam os tímpanos. Gosto do album, gosto do seu grafismo, gosto do Brett e da Rennie.   
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 28 de Junho de 2012, em casa, à volta das 22H27, sob influência do cd do grupo.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 29 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, entre as 13H58 e as 14H14 do dia 29 de Junho de 2012.

FRICÇÕES - VII - FEDERAÇÃO DE ESTADOS

UMA FEDERAÇÃO DE ESTADOS NÃO É UMA FEDERAÇÃO DE NAÇÕES.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado e escrito, directamente, no blogue, no dia 29 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H40.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

AMIGOS DA ONÇA

Num destes dias, escutei com liberdade, numa mesa pública de um café da selva urbana, uma conversa de uma onça e dos seus amigos.
Começou por dizer que tentara comprar um GPS, mas o orçamento não lho permitia. Porém, conseguiu reunir um grupo de amigos e explicou-lhes o objectivo de tal aquisição. Que não se destinava à sua orientação num qualquer deserto e muito menos para se orientar nas ruas da selva. A sua ambição era outra. Com a ajuda de todos e de uma aparelhagem mais sofisticada, podia penetrar, habilmente, em uma qualquer casa de famosos, espiar-lhes as cenas mais picantes ou escabrosas, conforme os casos, e usá-las, de uma forma delicada, para cobrir as despesas dos tais aparelhos sofisticados. Mas a onça não se ficou por aí. Elaborou um plano e um método, em que podia espiar à vontade os rascunhos de certos jornalistas e, com eles, vender a jornalistas de jornais diferentes, revelações sensacionais, que cada um deles pudesse eventualmente dispor, identificando-se como sendo uma fonte privilegiada. Se as mesma notícias aparecessem em diversos jornais, quem se daria ao trabalho de acorrentar a fonte, perguntou a onça, com um sorriso nos lábios. Mas o sistema não parava por ali. Com estudos laboriosos, escolheria alguns escritores famosos portugueses e copiar-lhes-ia os originais que, rapidamente, espalharia por um mercado ávido de novidades literárias e com a possibilidade de aparecerem com o nome de outro autor. Pelo menos, dizia ele com uma grande dose de ironia, que por este processo nunca seria necessário roubar computadores de um qualquer escritor. Mas, verdadeiramente, o que mais interessava à onça, era poder copiar e manipular os discursos rabiscados dos políticos. Imaginava ele, o gozo que seria um político ir discursar a Condeixa-a-Nova e a população inteira rir-se às gargalhadas com os enganos do político, que é como quem diz, com os efeitos da onça. Afirmou a onça, descaradamente, que por este processo, viveríamos numa Democracia muito mais aberta. E a Justiça, alvitrou um dos amigos? Não me preocupo com a Justiça, porque essa anda meia perdida com as injustiças da Justiça. Garanto-vos que só assim viveríamos numa verdadeira Democracia, onde todos se tornarão em amigos da onça. As gargalhadas foram gerais, perante as doces e compensadoras perspectivas que toda uma selva destas lhes abria.
Mudo e quedo, levantei-me do café e percebi, finalmente, o "1984" de Orwell.
Biblioteca de Oeiras, 17/12/2009 - 14H01 - Jorge Brasil Mesquita
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 28 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 17H10. 

MEMÓRIAS SONORAS - XVII - "GHOST TOWN"

Nos finais da década de 70, formou-se, em Inglaterra, uma pequena editora discográfica, a Two-Tone, a que estiveram ligados na sua fase inicial, grupos como os Madness, os The Beat, os Selecter e, especialmente, os Specials, onde predominava a força impulsionadora e criadora da Two-Tone e do grupo, Jerry Dammers. A editora girava, musicalmente, à volta de uma mistura entre o Punk, a Soul, o Ska e o Reggae. Porém, a memória sonora que aqui pretendo recordar, pertence a uma composição de Dammers, de 1981, cujo título “Ghost Town” traduzia as consequências do declínio da indústria automóvel, em Coventry, terra natal da Dammers. Inesperadamente, a canção ganhou uma maior notoriedade porque o seu lançamento coincidiu com os motins registados no gueto de Brixton, transformando a composição numa espécie de fotografia sonora dos resultados gerados pelos motins.

www.youtube.com/watch?v=RZ2oXzrnti4

The Specials - Ghost Town

This town, is coming like a ghost town
All the clubs have been closed down
This place, is coming like a ghost town
Bands won't play no more
too much fighting on the dance floor

Do you remember the good old days
Before the ghost town?
We danced and sang,
And the music played inna de boomtown

This town, is coming like a ghost town
Why must the youth fight against themselves?
Government leaving the youth on the shelf
This place, is coming like a ghost town
No job to be found in this country
Can't go on no more
The people getting angry

This town, is coming like a ghost town
This town, is coming like a ghost town
This town, is coming like a ghost town
This town, is coming like a ghost town
Jerry Dammers
Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 28 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 16H56.

MEMÓRIAS SONORAS - XVI - "KLU KLUX KLAN"

O Reggae conheceu uma forte difusão, em Inglaterra, na década de 70. Um dos grupos ingleses que aderiu ao Reggae e ao Rastafarismo, foram os Steel Pulse que se formaram em 1975, na Handsworth School, em Birmingham, constituídos por David Hinds, Basil Gabbidon e Ronnie McQueen. A primeira gravação do grupo, “Kibudu, Mansetta and Abuku”, foi lançada na editora independente Dip e, musicalmente, estabelecia um compromisso entre os sons de uma juventude negra urbana e os da imagem de um grande lar africano. A segunda gravação saiu na Anchor com o tema “Nyah Love”. O grupo viu serem-lhes recusados espectáculos nos Midlands ingleses devido à sua adesão ao Rastafarismo. Participaram na organização do Rock Against Racism. Com a participação em espectáculos como suporte de uma grandes intérpretes jamaicanos de reggae, Burning Spear, proporcionou-lhes um contrato com a editora Island Records. “Klu Klux Klan” foi o primeiro lançamento da editora e o tema, que abordava os demónios do racismo daquela seita, é a memória sonora de hoje.
O Klu Klux Klan é o nome de uma seita, fundada nos Estados Unidos da América, em 24/12/1865, em Pulaski, sede de distrito, no Tennessee meridional, a 80 milhas de Nasheville, próximo do Estado do Alabama, por Calvin E. Jones, Frank O. McCord, Richard Reed, Jonh B. Kennedy, John C. Lester e James R. Crowe, todos eles desmobilizados do exército dos Confederados.
O nome da seita provém da palavra grega Kuklos – faixa ou círculo – que foi dividida em duas palavras: Ku e Klos que modificado se transformou em Ku Klux. Como todos tinham ascendência escocesa foi proposta e aceite a palavra escocesa Clan que se tornou em Klan.
Visto que o Klan visava, primordialmente, a pureza e a preservação do lar e a protecção das mulheres e das crianças e, em especial, das viúvas e dos órfãos dos soldados Confederados, o branco, símbolo da pureza, foi escolhido para as túnicas e para que fossem notadas e despertassem temor, o vermelho, símbolo do sangue, que os homens do Klan estavam dispostos a derramar em defesa dos fracos, foi escolhida para as guarnições.
No Covil de Pulaski, num lugar chamado “A Enseada”, um anfiteatro natural no fundo da floresta, ficou decidido que o futuro e a finalidade do Klu Klux Klan, fosse a manutenção da supremacia branca.
A estrutura primitiva formal do Klan era formada, em cada Estado por um Reino, governado por um Grande Dragão; cada distrito congressional era um Domínio, governado por um Grande Titã; e cada Condado, uma Província gerida por um Grande Gigante. Toda a área coberta pelo poder do Klan, constituía o Império Invisível.
A finalidade deste texto dedicado ao Klu Klux Klan, teve, apenas, como objectivo revelar a origem, a estrutura e a finalidade da seita nos seus primeiros anos de vida que foi baseado no livro “The Klu Klux Klan” – a Century of Infamy, de 1965 e da autoria dWilliam Peirce Randel.

www.youtube.com/watch?v=yULRZ3zLXc8

Steel Pulse - Ku Klux Klan Lyrics
Walking along just kicking stones
Minding my own business
I come face to face, with my foe
Disguised In violence from head to toe.
I holla and I bawl (Ku Klux Klan)
But dem naw let me go now
To let me go was not dem intention
Dem seh one nigger the less
The better for the show
Stand strong black skin and take your blow
It's the Ku, the Ku Klux Klan
Here to stamp out blackman yah
The Ku, the Ku Klux Klan heh!
To be taught a lesson not to walk alone
I was waiting for the Good Samaritan
But waiting was hopeless
It was all in vain
The Ku Klux Klan back again
I holla and I bawl (Ku Klux Klan)
Dem naw let me go now
Dem seh one nigger the less
The better the show
Stand strong blackskin and take your blow
The Ku, Ku Klux Klan
Rape, lynch, kill and maim
Things can't remain the same yah no!

Blackman do unto the Klan
AS they would do to you
In this case hate they neighbour
Those cowards only kill who they fear
That's why they hide behind
The hoods and cloaks they wear
I holla and I bawl, Ku Klux Klan
Dem naw let me go no, Ku Klux Klan
Oh no, oh no...
Here to stamp out black man yah
Rape, lynch, kill and maim
Things can't remain the same yah
No, no, no, no.
David Hinds, Basil Gabbidon e Ronnie McQueen
Oeiras, 01/11/2009 – Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 28 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H44.

CRITICARTE - XVII - "PEDRO PÁRAMO"

Será um escritor um redactor de palavras que nos reinventa em passagens que todos reconhecemos nos filtros do tempo ou será um bálsamo que nos denuncia o cume das profundezas humanas, onde há existências que desconhecem as vidas que vivem?
O escritor mexicano Juan Rulfo (1918 – 1986), escreveu em 1959 a obra “Pedro Páramo”, cujo enredo se desenrola numa pequena aldeia do interior do México, onde os habitantes que a habitam, sobrevivem à morte aparente dos seus destinos, entre as portas que escondem o real ou o fantástico.
“Entreabre os olhos. Vê através dos cabelos uma sombra no tecto com a cabeça em cima do seu rosto. E em frente a figura embaçada, por detrás da chama das suas pestanas. Uma luz difusa, uma luz no lugar do coração, em forma de coração pequeno que palpita como chama pestanejante. – Está a morrer de pena o teu coração – pensa – já sei que vens dizer-me que Florêncio morreu, mas isso já eu sei. Não te aflijas com os outros, não te preocupes comigo. Eu tenho guardada a minha dor num lugar seguro. Não deixes que se apague o coração.”
Carlos Fuentes, outro grande escritor mexicano, afirmou que “a arte de Juan Rulfo exprime-se tão profundamente através da transfiguração mítica das suas personagens que esta acaba por incorporar a temática do campo e da revolução mexicana num contexto universal.”
“Pedro Páramo” não deixa de ser um cenário minimalista da globalização humana.
Oeiras – 07/10/2009 – Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 28 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H36.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

MEMÓRIAS SONORAS - XV - "GENO"

O cantor de Soul, Geno Washington, nascido em 1943, em Indiana, EUA, integrado na Força Aérea do EUA, foi colocado em East Anglia, Inglaterra, na década de 60, onde como cantor de Soul ganhou o estatuto de culto, ao liderar o grupo de Soul, Ram Jam Band que imprimia nas suas actuações, um ritmo frenético, através de uma selecção de números de Soul, sem interrupções, o que provocava na assistência, delírios de cortar a respiração. Geno regressou, posteriormente, aos EUA, onde só voltou aos palcos nos finais da década de 70.
No entanto, Geno voltou à ribalta, quando o grupo inglês Dexy´s Midnight Runners gravou o tema “Geno”, em sua homenagem.
Os Dexy´s Midnight Runners formaram-se, em Birmingham, Inglaterra no ano de 1978, tendo como núcleo inicial Kevin Rowland e Al Archer e o nome de Killjoys. Juntamente com a mudança do nome do grupo, juntaram-se-lhes Pete Williams, J.B.Blyte, Steve Spooner, Pete Saunders, Big Jim Patterson e Bobby Júnior. O nome escolhido pelo grupo foi retirado da Amphetamine Dexetine, um estimulante muito apreciado pelos cantores Soul do nordeste britânico. O grupo ganhou a fama pela sua aversão às drogas e ao álcool, enquanto Kevin Rowland baseava a sua imagem na elegância dos estivadores italianos do filme “Mean Streets” de 1973, realizado por Martin Scorcese e interpretado por Robert de Niro. Sonoramente, os Dexy´s praticavam a Soul Music e foram, de certa forma, os seus revitalizadores, na Inglaterra.
Em 1980, “Geno” dos Dexy´s Midnight Runners lançou-os para a ribalta do sucesso, reavivou o interesse em Geno Washington e é, igualmente, a memória sonora de hoje.

www.youtube.com/watch?v=FJc_q8eH2ng

Dexy's Midnight Runners - Geno Lyrics

Geno! Geno! Geno! Geno! Geno! ...

Back in '68 in a sweaty club
Oh, Geno
Before Jimmy's Machine and The Rocksteady Rub
Oh-oh-oh Geno-o
On a night when flowers didn't suit my shoes
After a week of flunkin' and bunkin' school
The lowest head in the crowd that night
Just practicin' steps and keepin' outta the fights

Academic inspiration, you gave me none
But you were Michael the lover
The fighter that won
But now just look at me
I'm looking down at you
No, I?m not bein? flash
It?s what I?m built to do

That man took the stage, his towel was swingin' high
Oh Geno
This man was my bombers, my Dexy's, my high
Oh-oh-oh Geno-o
The crowd they all hailed you, and chanted your name
But they never knew like we knew
Me and you were the same
And now you're all over, your song is so tame, brrrrr
You fed me, you bred me, I'll remember your name

Academic inspiration, you gave me none
You were Michael the lover
The fighter that won
But now just look at me
I'm looking down at you
No, I?m not bein? flash
It?s what I?m built to do

Oh Geno, Woh-oh-oh Geno-o
Oh Geno, Woh-oh-oh Geno-o

Kevin Rowland/Al Archer
Oeiras, 18/10/2009 – Jorge Brasil Mesquita
Jorge Manuel Brasil Mesquita

Recriado, em 27 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 15H35.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

MINIATURAS - X

A HISTÓRIA NÃO SE REPETE, SÓ OS SEUS IDIOMAS, LINFÁTICOS E ENFÁTICOS.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 25 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 15H53.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 25 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 15H54.

AFLUENTES POEMÁTICOS - XXIII - OLHOS DE CAMPINA

OS TEUS OLHOS DE CAMPINA
SÃO A ÁGUA DOCE DO LUAR
QUE A BELEZA DA RAPINA
ROUBA AOS BRAÇOS DO MAR
PARA QUE A FONTE DO VENTO
ASSOMBRE AS ASAS DO ALENTO
COM OS MOINHOS DO AMOR
MOENDO AO TRIGO DA DOR
AS BAGAS LOUCAS DA COR
E OS AROMAS DO VENENO
QUE, PLENAS DE DOCE CHEIRO,
PINTAM AO RUBOR AMENO
A AMARGURA DO VELEIRO
QUE SEM PORTO DE ABRIGO
É A BOCA DO CASTIGO
QUE SE BEIJA À DISTÂNCIA
ESCRAVA DA FRAGRÂNCIA
E FAMINTA DA RECUSA
QUE O SEU CORPO DE MEDUSA
ALIMENTA COM A FOME
QUE O PRAZER NÃO CONSOME
POR REVELAR AO TORMENTO
OS SILÊNCIOS DA IDADE
E A MORTE DA VERDADE
QUE ATRAVESSA TODO O SER
SEM A ARTE DE A MORDER
COM O GRITO DA FERIDA
QUE A TODOS PRENDE À VIDA.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 25 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H46.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 25 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H47, e, concluído, às 15H42 do dia 25 de Junho de 2012.

MOLICEIRO DE FANTASIAS

Olá amor da minha distância.
Às vezes, sou um moliceiro vogando nas fantasias românticas de memórias aveirenses que se esvaem no bulício das Feiras de Março, lá pelas horas do almoço, entre a última aula da manhã e a primeira aula da tarde, do Liceu de Aveiro. Outras vezes, relembro com um certo rebuliço de saudades, as viagens do Lérias, o cavalo a vapor do Ramal do Vouga, que me largava na Estação de Aveiro, cheinha de barricas de ovos e que assistia à revoada dos pardalitos estudantis que seguiam, a pé, pela Avenida até ao Liceu. Verdadeiras aventuras de delírios adolescentes. Já fui de Aveiro; hoje, não sei bem donde sou. Sou um pardalito sem pouso certo, mas sabem-me bem estes voos inesperados, onde vejo o que não via e onde quero o que não queria. Eis que assim pude observar, neste Centro Cultural, um quadro que muito apreciei: "Daqui Lavei As Minhas Mãos", de um pintor que não conhecia, Nuno Viegas, e de quem me tornei admirador. Como podes imaginar, estou aí e estou aqui. Como moliceiro rego-me de palavras doces, como Lérias, fujo ao tempo e encontro a riqueza das palavras breves que definem os actos que se arrumam nas prateleiras dos sentimentos que devoram distâncias e semeiam as ilusões da vida que é o fogo do momento.
Os sentidos não reconhecem distâncias, mas as distâncias reconhecem nos sentidos, os moliceiros da vida, os Lérias dos carvões em brasa. Somos passageiros sem passagens marcadas nesta viagem de pouca terra, pouca terra. Pouca terra, distância à vista, entre a liberdade de ser moliço e de ser brasa, em brasa. As palavras são o cavalo a vapor do nosso moliceiro.
Centro Cultural de Belém, 08/12/2009 - 15H58 - Jorge Brasil Mesquita
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 25 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H38.

CRITICARTE - XVI - SOMERSET MAUGHAM

O que acontece a um homem ao descobrir, que, ainda, não descobriu qual é o seu verdadeiro caminho no Mundo que nunca o descobriu? De quanto tempo precisará ele para fugir de si próprio, até compreender que o ponto de encontro é o mesmo que o lugar do desencontro? Eis o valor do tempo no percurso de uma viagem sem preço.
Este preâmbulo relaciona-se com o escritor e o livro que serão a razão deste amontoado de palavras.
O escritor inglês William Somerset Maugham nasceu em Paris, em 1874 e faleceu em Saint-Jean-Cap-Ferrat, em 1965. O escritor fez os seus estudos na King´s School, em Canterbury, Inglaterra, na universidade alemã ocidental de Heidelberg e exerceu medicina no hospital de St. Thomas, tornando-se pela vida fora num viajante inveterado.
A sua primeira obra, “Liza, a Pecadora” foi escrita em 1897 e um dos seus mais famosos livros “A Servidão Humana”, em 1915. Somerset Maugham possuía um “talento de narrador e paisagista, o sentido penetrante da caracterização psicológica e a arte incomparável da dramatização.” Todos estes ingredientes de escrita se encontram no livro “O Fio da Navalha” de 1944. Para esboçar o conteúdo do livro, que melhor pena, senão a do próprio escritor, que escreve na sua introdução: “nunca senti maior apreensão ao começar um romance. E se digo romance é por não saber que outro nome lhe dê. Não tem grande enredo, não acaba com morte ou casamento. Este livro consiste das recordações que tenho de um homem com quem, em épocas muito espaçadas, tive íntimo contacto; mas pouco sei do que lhe aconteceu nos intervalos. Creio que recorrendo à imaginação, poderia preencher plausivelmente as lacunas e tornar mais coerente a minha narrativa, mas a tal não me sinto atraído. Quero unicamente relatar factos de que tenho conhecimento.”
Pelo “O Fio da Navalha” passam muitas das palavras que nos perguntam, respondem ou nos deixam vazios, durante os jogos da vida que vivemos.
Oeiras, 21/10/2009 – Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 25 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H27.

MEMÓRIAS SONORAS - XIV - "JACQUES DERRIDA"

Em 1978, na cidade de Leeds, UK, três estudantes de Arte, Tom Morley, Nial Jenki e Green Strohmeyer Gartside formaram o grupo musical Scritti Politti, cujo nome foi extraído dos escritos do fundador do Partido Comunista Italiano (PCI), António Gramsci (1891 – 1937). O grupo girava, essencialmente, à volta de Green (ex-jovem comunista), compositor do seu reportório. Green era um ferveroso adepto do Do It Yourself (DIY). O DIY consistiu numa espécie de movimento, iniciado no final da década de 70 e no início da de 80, visando autopromover a edição e a promoção de cassetes e discos de 7” de grupos e interpretes de uma forma independente, isto é, fora do circuito das grandes editoras, originando o aparecimento das editoras independentes, mais conhecidas por Indies. O primeiro single editado pelos Scritti Politti, “Skanc Blog Bologna”, apareceu na sua editora St. Pancras. O single viria a ser editado em 1979 pela editora independente Rough Trade, alinhada com os ideais do Labour. De 1979 a 1981, o grupo, além de proceder a algumas alterações dos seus elementos, refinou o seu estilo musical através de uma fusão de Soul, Jazz, Pop e Reggae, da qual resultaram os temas “The Sweetest Girl” de 1981, “Faithless”, “Asylums In Jerusalem” e do álbum “Songs To Remember” todos de 1982. além da evolução musical, as letras das composições reflectiram a evolução do pensamento de Green, grandemente influenciado pelo filósofo francês Jacques Derrida (1930 – 2004) que foi o introdutor do Descontrutivismo que, em síntese, é um processo de decomposição de um texto, com o objectivo de lhe encontrar sentidos ocultos. O Deconstrutivismo foi elaborado a partir da teoria da Fenomenologia Pura e da Ciência da Essência do filósofo alemão Edmund Husserl (1859 – 1938) e da reflexão do poeta francês Stephane Mallarmé (1842 – 1898), sobre a escrita e a interpretação do filósofo alemão Martin Heidegger (1889 – 1976), realizada pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844 – 1900) que escreveu “Cultura de Energia Vital” e “Vontade de Poder”.
Foi no lado B do 7” “Asylums In Jerusalem e no álbum “Songs To Remember” que Green incluiu a sua composição “Jacques Derrida”, dedicada ao filósofo francês e que é a memória sonora de hoje.

www.youtube.com/watch?v=_h6oC3bQ4Cw

Scritti Politti - Jacques Derrida Lyrics

I'm in love with the bossonova
He's the one with the cashanova
I'm in love with his heart of steel
I'm in love
I'm in love with the bossonova
He's the one with the cashanova
I'm in love with his heart of steel
I'm in love

How come no-one ever told me
Who I'm working for
Down among the rich men baby
And the poor

Here comes love forever
And it's here comes love for no-one
Oh here comes love for Marilyn
And it's oh my baby oh-oh my baby
What you gonna do?
In the reason - in the rain

Still support the revolution

I want it I want it I want that too
B'baby B'baby it's up to you
To find out somethin' that you need to do
Because

I'm in love with a Jacques Derrida
Read a page and know what I need to
Take apart my baby's heart
I'm in love
I'm in love with a Jacques Derrida
Read a page and know what I need to
Take apart my baby's heart
I'm in love

To err is to be human
To forgive is too divine
I was like an industry
Depressed and in decline

Here comes love for ever
And it's here comes love for no-one
Oh here comes love for Marilyn
And it's oh my baby oh my baby
What you gonna do?
In the reason - in the rain

Still support the revolution

I want it I want it I want that too
B'baby B'baby it's up to you
To find out somethin' that you need to do
Because

Oh I'm in love with bop sh'dayo
Out of Camden Town for a day - oh
I'm in love with just gettin' away
I'm in love
Oh I'm in love with militante
Reads Unita and reads Avanti
I'm in love with her heart of steel
I'm in love

He held it like a cigarette
Behind a squadee's back
He held it so he hid its length
And so he hid its lack - oh
An' it seems so very sad
(all right!)

Well I want better than you can give
But then I'll take whatever you got
Cos I'm a grand libertine with the
Kinda demeanour to overthrow the lot
I said rapacious
Rapacious you can never satiate
(ate what?!) desire is so voracious
I wanna eat your nation state

I got incentive that you can't handle
I got the needs you can't assuage
I got demands you can't meet
'n' stay on your feet
I want more than your living wage

Well I want better than you can give
But then I'll take whatever you got
Cos I'm a grand libertine with the
Kinda demeanour to overthrow the lot
I said rapacious
Rapacious you can never satiate
(ate what?!) desire is so voracious
I wanna eat your nation state.

Green Strohmeyer GartsideJorge Brasil Mesquita
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 25 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H15.

sábado, 23 de junho de 2012

SONETO - IV - ENXAME DE FEL

O teu perfume sabe-me a mel
mas o zumbido da abelha mestre
é o aviso do solo equestre
que derrama o enxame do fel.

O desejo que me afecta a pele
é o lacre que nasce do cipestre
e esfola o deserto campestre
com as gargalhadas da boca cruel.

Invento a noite à velha lanterna
que deprime a cama de luzerna
onde o amor é um funeral.

Nada mais resta ao fresco coral
do que os cânticos do velho imoral
que dança aos sons de quem o inferna.

Caixa das Histórias de Paula Rego, Cascais, 04/12/2009 - Jorge Brasil Mesquita. Jorge Manuel Brasil Mesquita. Recriado, em 23 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 17H06.

O OBJECTIVO DE UMA OBJECTIVA SEM OBJECTIVO

Finalmente, cheguei à Cinemateca, depois de sair do Saldanha, de ter percorrido a pé a Fontes Pereira de Melo e meia Avenida da Liberdade. Entrei na Barata Salgueiro e, aqui estou eu, sentado no bar-restaurante das memórias que os fotogramas devoram com as lentes dos pigmentos mentais.
Sentado a bebericar uma água, deixei de ser quem sou, para me transformar numa objectiva, vasculhando o vazio que se impregnou em mim. Aos saltos, a objectiva assalta, meia embriagada, a memória dos olhos que me beberam a sexualidade muda, assusta-se com a penumbra que encontra, quando tenta penetrar nesse filme que se me grudou à pele, sem que lhe reconheça os lamentos do seu argumento: "Five Corners" de Tony Bill, com Jodie Foster e Tim Robbins.
A objectiva reconhece no esforço da banalidade, a grandeza de uma escolha: John Carpenter. A objectiva enlaça-se com o ritual do "The Fog", assusta-se com o remake "The Thing", desenha uma sequência de afinidades com o "The Starman", mergulha maravilhada nessa grande metáfora do "They Live", delira com a prisão imaginária de uma Nova Iorque prisioneira de si mesmo, descarrila com a fantasmagórica "Christine" e recolhe os delírios da actualidade no magnífico "Vampires" com esse excelente e mal compreendido actor James Woods.
Quem é John Carpenter?, Quem sou eu?, Objectiva sem objectivo na eloquência cinéfila de um cinéfilo perdido no fascínio de um B. A objectiva solta uma gargalhada e repara na fama dos afamados. Não sei bem porquê, mas Pavlov, objectiva-me a objectiva. É um olho de muitos olhares, é o encontro de uma duna com um arranha céus na fronteira marítima deste argumento que nada argumenta. É uma objectiva, nada mais que uma objectiva.
Cinemateca, 02/12/2009 - Jorge Brasil Mesquita. Jorge Manuel Brasil Mesquita. Recriado, em 23 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 16H57.

FALHOU-ME A LUCIDEZ....

Esta história não usa regras de lógica, coisa que ignoro.Tem todos os temperos da irracionalidade. Usei o meu escalpe como um troféu e pendurei-o numa tela branca pintada com as cores de uma romã rachada ao meio. Pus as minhas barbas de molho. O molho era de abacate. Senti que as verbas climáticas da minha temperatura de 0 graus, se traduziriam no investimento do meu corpo, que expunha a sua nudez esquelética, como um exemplo de escultura, para além do pós-moderno.
Optei por fazer um discurso, mesmo no centro da praça do Rossio, usando como retórica, as palavras mais bárbaras que conhecia. Ouvi algumas gargalhadas sem sentido e engoli todos os insultos com o maior dos à vontades, uma vez que a troca de línguas, é um linguado acústico, presenteado com uma feira de vaidades, onde todos se registam e nenhum resiste às labaredas saudáveis da irresponsabilidade moribunda. Quis suicidar-me no metropolitano para causar consternações, pânico e satisfações por haver menos um militante da vida. Contudo, cheguei à conclusão que os espectadores mereciam melhor espectáculo, pelo que resolvi estilizar-me como uma estátua da morte, todo vestido de branco, o que era um contra-senso, segundo alguns comentários atrozes que escutei, sugerindo que devia enforcar-me em público, reparem, não fingindo, mas usando uma realidade, em vez de uma farsa, o que me deu, pensei eu, a brilhante ideia de me transformar num farsante, mas concluí, rapidamente, que a concorrência seria muita e, num ápice, iria à falência.
Afinal, optei por ser um mentiroso convicto, o que daria grandeza à minha alma e espiritualidade ao meu raciocínio que, como já afirmei, é totalmente irracional.
Cansado de não ser famoso, anunciei ao mundo, em geral, que descendia directamente de uma iguana dos Galápagos e, tal como ela, considerava-me, em vias de extinção, o que, implicitamente, me ofereceria todas as garantias de uma vida faustosa. Adepto invertebrado da inveja, ri-me espalhafatosamente de todos os olhos que me devoravam com admiração, sem na realidade saberem bem porquê. Transformei-me numa encenação colectiva do amor em estado de guerra, sem qualquer ideia de paz.
Como esta ocasião é uma caixinha de surpresas, saltei e esmolei, como qualquer palhaço politiqueiro, por 15 minutos de fama, o que soprando numa gaita de foles, me daria direito à comissão do fole que afoguearia qualquer pardieiro, pelo que brandi com a maior falta de sobriedade, o gamanço de umas quantas palavras que me dessem direito à composição do século.
Com toda a singeleza, confesso que, repentinamente, me distraí e me perdi do objectivo que projectava, com objectivas filtradas pelos cenários grotescos dos flibusteiros pós-modernistas. E, como nada mais há do que esta confissão descolorida, pisgo-me para onde as realidades, nunca serão verdades factuais. Ámen.
Biblioteca de Oeiras, 14/12/2009 - 15H28 - Jorge Brasil Mesquita
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 23 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 16H45.

AFLUENTES POEMÁTICOS - XXII - ACORDAR A DOR DA INOCÊNCIA

A distância não afecta
a fome de ser quem sou
um vulto que se infecta
com a raiva que negou
o vírus que nos detecta
o bobo que nos julgou
sem conhecer o profeta
que nada profetizou.

Acordar a dor da inocência
com a fuga de uma pureza
é vestir a cor da violência
co´a morte velha da beleza.

As farsas do quotidiano
são viveiros de cultura,
nacos do mito ufano
em versos de tortura
e réus de corpo insano
que viajam na tontura
de não verterem o dano
às facas do véu humano.

Ouvir as forcas do ocaso
na virgindade da nascente
é inventar o mortal prazo
à agua de uma semente.

E nada será urgente
no berço da nossa idade
nem a coragem carente
nem a fluência da verdade
roendo o caruncho vidente
que se alarga à vontade
de cobrir o nosso poente
co´o caos da Humanidade.
Centro Cultural de Belém, 29/11/2009 - Jorge Brasil Mesquita. Jorge Manuel Brasil Mesquita. Recriado, em 23 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H22.

ZIPS SONOROS - XIII - AU PAIRS

“Tudo é político, tudo o que se faz na vida, a forma como as pessoas se relacionam entre si é político”, afirmou Lesley Woods, vocalista e letrista, do grupo Au Pairs, à East Village Eye.
O grupo inglês Au Pairs formou-se, em 1979, na cidade de Birmingham, por Lesley Woods, Paul Foad, Jane Munro e Pete Hammond. Musicalmente, o grupo aliava, a uma certa dose de experimentalismo sonoro, as influências musicais do Ska, do Reggae e da Pop. As letras de Lesley Woods eram consideradas provocativas no modo como perspectivavam o feminismo, quanto ao género e quanto à sexualidade. “You´re equal but different” é uma das expressões que se pode ouvir numa das suas melhores composições “It´s Obvious”, o que exemplifica, claramente, a faceta de Lesley Woods na construção das suas letras.
Como é habitual, segue-se a discografia dos Au Pairs e das editoras independentes por onde passaram.

021:
1980 – 7” – You/Domestic Departure/Kerb Crawler.
Novembro de 1980 – 7” – It´s Obvious/Diet

Human:
Abril de 1981 – LP – Playing With a Different Sex
Julho de 1981 – 7” – Inconvenience/Pretty Boys

Kamera:
Agosto de 1982 – LP – Sense and Sensuality.

Os Au Pairs é um dos meus grupos preferidos da Indielândia, com destaques para o já referido “It´s Obvious” e para o LP “Playing With a Different Sex” que inclui uma versão alargada do “It´s Obvious”.
Oeiras, 07/11/2009 – Jorge Brasil Mesquita
Moinho das Antas, 10/01/2010 - Jorge Brasil Mesquita - 12H02

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 23 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H07.

FRICÇÕES - VI - RIO+20

O Senhor Moço de Recados da União Europeia empertigou-se, bombeou uma dica de pólvora seca, e, depois, feliz da vida, regressou, silencioso, ao convés pantanoso das trivialidades atmosféricas.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 22 de Junho de 2012, à noite, na cama, por volta das 22H20.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 23 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H56. 

CRITICARTE - XV - JIM THOMPSON

É comum afirmar-se, entre os críticos literários, que os livros policiais correspondem a um género de literatura menor. Felizmente, que eu sou susceptível a qualquer tipo de literatura, desde que o livro que leia, seja um prazer de subtilezas, de clarins de sentimentos, muitas vezes desencontrados, ou um rumor de florescências que desembocam em prazeres de vários idiomas.
É o caso do livro e do escritor que, hoje, escolhi, como exemplo de uma riqueza esfusiante.
O escritor Jim Thompson (1906 – 1976), exerceu durante a sua vida os ofícios de empregado de hotel, de actor, de escritor de espectáculos cómicos, de especialista em explosivos, de jogador profissional de jogos de azar e de colaborador de vários jornais. Foi argumentista dos filmes “Um Roubo no Hipódromo” e “Paths of Glory” de Stanley Kubrick. Participou com pequeno papel numa nova versão de “Farewell My Lady” de Dick Richards, baseado no policial de Raymond Chandler, com o mesmo título.
Foram adaptados ao cinema os seus livros “Getaway” de Sam Peckimpah e “Pop 1280” de Bertrandt Tavernier.
“Pop 1280” de Thompson é o livro escolhido de hoje. O enredo tem como epicentro Nick Corey que passa por ser um xerife psicopata que vive numa aldeia com 1280 almas, onde a corrupção o cerca por todos os lados. Ao decidir limpar tudo, provocou consequências terríveis. Este é um mundo sem Deus, povoado por pessoas para quem o homicídio não é mais do que um biscate ocasional.
“ Eu já tinha estado naquela casa algumas cem vezes; naquela e noutras do mesmo tipo, mas era a primeira vez que as via tal como eram. Não eram casas nem espaços para as pessoas viverem, nem nada, apenas paredes em pinho a cercarem o vazio. Não havia fotografias, nem livros, nada para onde olhar ou reflectir. Apenas o vazio que começava a impregnar-me aqui, por todo o lado, em todas as casas como esta. De repente este vazio ficou preenchido com som e imagem em todas as coisas tristes e terríveis que esse vazio tinha trazido às pessoas.”
Este livro é um belo exemplo do romance de humor negro americano.
Penso que é importante, explicar que, da minha parte, estas escolhas se baseiam em gostos pessoais de leituras feitas. É claro, que elas se sustentam em críticas que foram, igualmente, lidas, mas nunca deixarão de ser escolhas pessoalíssimas.
Oeiras, 16/10/2009 – Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 23 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H48.

MEMÓRIAS SONORAS - XIII - "SIR DUKE"

Um negro de nome Berry Gordy, ex-pugilista, ex-dono de uma discoteca, ex-trabalhador de uma linha de montagem de automóveis, em Detroit, EUA e compositor de “Reete Petite”, interpretada por Jackie Wilson e de “Money”, cantada por Barret Strong, fundou em Detroit a editora Tamla Motown num edifício da cidade intitulado Hitsville, USA, editora que Gordy considerava como “The Sound of Young América”. A Tamla Motown era dirigida por negros e, praticamente, todos os grupos e intérpretes da editora, também o eram. Sem dúvida que a Motown foi uma das várias fatias negras que contribuíram para que, hoje, haja um Senhor Obama negro, como Presidente dos EUA. A editora era controlada, sonoramente, e sofisticada em políticas de educação social, até aos mais pequenos pormenores, inserida numa linha de compositores, como, por exemplo, Smokey Robinson e a tripla Holland-Dozier-Holland que produziram canções que todo o mundo consumiu nas vozes dos Smokey Robinson and The Miracles, das Supremes, dos Temptations, dos Four Tops, de Marvin Gaye, dos Jackson Five e de Stevie Wonder.
Stevie Wonder nasceu em Saginaw, Michigan a 13 de Abril de 1950, cegando durante a sua infância. O seu nome Steveland Morris foi alterado para Little Stevie Wonder quando assinou o contrato com a Motown. A harmónica tornou-se numa das suas imagens de marca, a partir das suas primeiras gravações, em que se inclui o seu primeiro grande sucesso “Fingertips-Pt2”, em 1963, a que se seguiram inúmeras composições que o guindaram ao estrelato, até que, ao atingir os 21 anos em 1971, Stevie Wonder se libertou das amarras que o privavam da sua liberdade criativa. Os álbuns “Music f My Mind” e “Talking Book” de 1972 e “Innervisions” de 1973, são os primeiros passos do seu processo criativo, nomeadamente, “Talking Book”. Em 1976, Stevie lançou o duplo álbum “Songs In The Key Of Life” onde se inclui um tributo a um dos gigantes do jazz, Duke Ellington, através da composição “Sir Duke”.
A cultura do jazz é uma viagem humana que se aprende e ensina com a linguagem sonora do improviso individual e colectivo, desde as raízes da sua origem, até aos frutos da sua eternidade.
Duke Ellington ( 29 de Abril de 1899 – 24 de Maio de 1976), nasceu em Washington e desde muito criança aprendeu a tocar piano e harmonia. Em 1914 compôs os seus primeiros temas. Lidera vários grupos a partir de 1918 e em 1924 forma a banda Washingtonians que, entre 1927 e 1931, actua no Cotton Club, em Harlem, clube onde só actuavam músicos negros e a assistência era exclusivamente composta por brancos. As actuações no Cotton Club proporcionaram-lhe uma enorme projecção, dentro e fora dos EUA, abrindo-lhe as portas da Europa, onde efectuou um sem número de digressões. Durante a década de 50 Ellington passou por fase de declínio que, posteriormente, viria a ser alterada com a sua presença no Newport Jazz Festival em 1956 que reavivou a sua popularidade que se prolongaria até à sua morte em 1974.
Com uma longa discografia, não só como músico, mas, igualmente, como compositor, destaco a contribuição musical e uma pequena participação, em 1959, no filme “Anatomy of a Murder” de Otto Preminger e as suas composições “Sophisticated Lady”, “In a Sentimental Mood” e “Mood Índigo”. A música de Ellington é a “marca de uma verdadeira sofisticação que é uma audaciosa simplicidade”.
“Sir Duke” de Stevie Wonder é a memória sonora de hoje.

www.youtube.com/watch?v=6sIjSNTS7Fs

Sir Duke Lyrics

Music is a world within itself
With a language we all understand
With an equal opportunity
For all to sing, dance and clap their hands
But just because a record has a groove
Dont make it in the groove
But you can tell right away at letter a
When the people start to move

They can feel it all over
They can feel it all over people
They can feel it all over
They can feel it all over people

Music knows it is and always will
Be one of the things that life just wont quit
But here are some of musics pioneers
That time will not allow us to forget
For theres basie, miller, satchmo
And the king of all sir duke
And with a voice like ellas ringing out
Theres no way the band can lose

You can feel it all over
You can feel it all over people
You can feel it all over
You can feel it all over people

You can feel it all over
You can feel it all over people
You can feel it all over
You can feel it all over people

You can feel it all over
You can feel it all over people
You can feel it all over
You can feel it all over people

You can feel it all over
You can feel it all over people
You can feel it all over
I can feel it all over-all over now people

Cant you feel it all over
Come on lets feel it all over people
You can feel it all over
Everybody-all over people

Stevie Wonder

Jorge Brasil Mesquita
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 23 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H34.

FRICÇÕES - V - PARTIDO SOCIALISTA

O Partido Socilaista é o pneu furado da esquerda portuguesa. Esquerda? O que é isso, perguntam eles de beiços caídos. Santa ignorância!
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 23 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H19.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 23 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, ás 13H20.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

COLMEIA DE PALAVRAS

Li o que li e li o que não li; agora esqueço-me de ler o que não sei ler e o que não quero ler. Por puro prazer. Criei uma colmeia de palavras e provei-lhe todo o género de sentidos; depois, abandonei-a num deserto de que não me lembro o nome. Um corvo todo vestido de negro pousou no parapeito da janela e com hábil mestria abriu-me a janela dos pensamentos; as palavras ao sentirem-se livres, fugiram de mim e eu nada fiz para recuperá-las. Hoje, ao cruzar a rua dos sentidos, não me iludo com o semáforo das suas paisagens. Sei que o vento reconhecê-las-á, mal o Outono as amadureça, ao anoitecê-las. Quando for o que não fui, a colmeia das palavras descobrirá, finalmente, a espécie de deserto que sou. Biblioteca de Oeiras, 28/12/2009 - 11H38 - Jorge Brasil Mesquita. Jorge Manuel Brasil Mesquita. Recriado, em 22 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 15H06.

MINIATURAS - IX

O FANATISMO É O ÓCIO DO ÓDIO.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 22 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H54.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 22 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H57.

ZIPS SONOROS - XII - GIRLS AT OUR BEST

Se grupo houve que me tivesse deliciado os sentidos, no início da década de 80, foram os Girls At Our Best que, na sua meteórica existência, nos legaram como herança, em minha opinião, um conjunto de discos de excelente recorte sonoro e um estilo personalizado que os distinguiu de qualquer outro grupo da época.
James Alan, Gerald Swift e a estudante de arte Judy Evans, formaram, em 1979, na cidade inglesa de Leeds, os Butterflies. Com a inclusão de Chris Oldroyd, em 1980, o grupo passou a denominar-se Girls At Our Best, nome extraído da composição “Warm Girls” que apareceu na primeira gravação do grupo, no mesmo ano.
Sonoramente, os temas do grupo eram uma espécie de compromisso entre o Punk, o Pop e a crítica política, visível no tema “Politics”, em que o estilo das campanhas políticas Estado Unidenses, era satiricamente criticado.
Os Girls At Our Best desfizeram-se em 1982.
Segue-se, como é habitual, a discografia do grupo e das editoras independentes, para as quais gravaram os seus discos:

Record Records:
Abril de 1980 – 7” – Getting Nowhere Fast/Warm Girls
Novembro de 1980 – 7” – Politics/It´s Fashion

Happy Birthday Records:
Junho de 1981 – 7” – Go For Gold/I´m Beautiful Now
Outubro de 1981 – LP – Pleasure
Outubro de 1981 – 7” – Fastboy Friends/This train

God Records.
Maio de 1982 – 7” – Heaven/ £600.000
Oeiras, 28/10/2009 – Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 22 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H46.

SONETOS - III - PINGOS DE CHUVA

DESLIZAM PINGOS DE CHUVA DIDÁCTICA
PELO ROSTO VELHO DAS MORTES DIÁRIAS.
SECAM AO SOL NAS VIELAS MILENÁRIAS
E SÃO FILHOS DA MENTIRA SIMPÁTICA.

SOAM TROMBETAS DA TRAÇA PROFILÁCTICA
NOS ARNEIROS MENTAIS DAS RUAS AGRÁRIAS
ONDE SÓ SE PLANTAM FAVELAS VIÁRIAS
GRAÇAS AO DISCURSO DA PRAGA ASMÁTICA.

OUVEM-SE AS GARGALHADAS DAS PLATEIAS
NOS VASTOS AUDITÓRIOS DOS ESCOLHOS
QUE ENCALHAM NA FEBRE DOS REPOLHOS.

NOTA-SE O APRUMO DAS VELHAS TEIAS
QUE ADORAM AS CRISES DAS SUAS AMEIAS
E AMAM AS ORGIAS FANÁTICAS DOS PIOLHOS.
cENTRO cULTURAL DE bELÉM, 13/12/2009 - 12H38 - jORGE bRASIL mESQUITA

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado e corrigido, em 22 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H28.

CRITICARTE - XIV - "O VELHO E O MAR"

De que nos serve a natureza, quando a natureza humana não a sabe respeitar, ao entrar em confronto com ela? Porém, há confrontos onde prevalece o respeito mútuo, em que este se pode transformar num acto poético de beleza salgada, quando o mar é disso testemunha.
O escritor Ernest Hemingway nasceu, em 21 de Julho de 1899, em Ilinóis, EUA. Exerceu a actividade de jornalista e correspondente de guerra, tendo participado na Primeira Grande Guerra (1914 – 1918), onde foi gravemente ferido na frente italiana, em 1918. Fixou residência em Paris, entre 1921 e 1928, aproveitando a estadia para conhecer grande parte da Europa Ocidental e do Leste. Participa, igualmente, na Guerra Civil de Espanha, ao lado dos Republicanos, entre 1936 e 1939 e na Segunda Grande Guerra, entre 1939 e 1945. Recebe os prémios Pulitzer, em 1953 e o prémio Nobel, em 1954.
Em 1952, o escritor escreve uma das suas mais belas obras “O Velho e o Mar.”
O escritor português Jorge de Sena (1919 – 1978), escreveu no prefácio da tradução que fez do “O Velho e o Mar” que se está perante “um poema em prosa, uma epopeia de simples trama singularmente narrada. Um breviário nobilíssimo da dignidade humana escrita com a mais requintada das artes. Poucas vezes, no nosso tempo, terá sido concebida e realizada uma obra tão pura, em que a natureza e a humanidade sejam, frente a frente, tão verdade.”
Matar sem consciência o que é do domínio da natureza, será o mesmo do que ter consciência de que se matou, sabendo a razão porque se o fez, respeitando quem se mata? A natureza como uma metáfora.
“Não mataste o peixe só para viver e vendê-lo para ser comido. Mataste-o por amor-próprio e porque és um pescador. Amáva-lo quando estava vivo, e ama-lo depois de morto. Se o amas não é pecado matá-lo. Ou será mais?
- Tu pensas demais, velhote – disse em voz alta.
“Mas gozaste com a morte do dentudo, pensou. Vive de peixe como tu. Não é dos que andam aos restos, nem um apetite ambulante como alguns tubarões são. É belo e nobre e não conhece o medo…Pescar mata-me, exactamente, como me mantém vivo…Não devo iludir-me mais.”
Com imensas obras publicadas, Hemingway suicidou-se com um tiro de caçadeira, em Julho de 1961, aos 62 anos, na sua propriedade de Sun Valley, Idaho, EUA, ao tomar conhecimento de que tinha um cancro.
Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 22 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H15.