quarta-feira, 6 de junho de 2012

AFLUENTES POEMÁTICOS - XIII - SEGREDO

SEGREDO A SEGREDO
ATRAVESSO O MEDO
CONSTRUO A MURALHA
AO TEMPO QUE FALHA
NA CLARA MANHÃ
DA PALAVRA VÃ.
DESGOSTO A DESGOSTO
DESPREZO O GOSTO
DA VIDA QUE GRITA
À ALMA AFLITA
QUE O BERÇO DA DOR
É A VOZ SEM COR
NO PRANTO DA CAMA
QUE SECA SEM CHAMA
AS HARPAS DA VIDA
QUE A MORTE VENDIDA
ACORDA VENCIDA
SEM VOZ E SEM RAIZ
QUE A FAÇA FELIZ.
NO PORTO DA FOZ
O CAIS DO NAVIO
QUE SOPRA FEROZ
A FOME DO RIO
É ONDE EU PASSO
COM ESTE ABRAÇO
QUE VESTE LASSO
A VIDA QUE LAÇO.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 06 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 17H03
Escrito, directamente, no blogue, no dia 06 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 17H04, e, concluído, às 17H37 do dia 06 de junho de 2012.

AFLUENTES POEMÁTICOS - XII - AMPULHETA

OS PONTEIROS DO TEMPO
SÃO DEDOS DE AREIA
EM AMPULHETAS DE SONHO.
A AREIA FINA QUE ESCORRE
PELOS LÁBIOS DA VIDA,
TEMPERA A NOITE DOS DIAS,
ASSOBIA VENTOS DE MORTE
E ACORDA, À ROUPA DO OLHAR,
OS TRÉMULOS CANDEEIROS
DAS VOZES QUE SE AFOGAM
NA CLARIDADE DOS DEDOS,
ESSA LUZ MINÚSCULA
QUE SE ASSOMBRA
COM O VÍCIO DE SE ESTAR VIVO
EM OUTRAS SAFRAS,
QUE NÃO A VOZ INFINITA,
VESPA DE ESTRANHOS FOGOS
QUE PICA A CARNE DOCE
PARA QUE O AMARGO
SEJA OS DEDOS DA AMPULHETA
QUE, EM FEBRES DE OCASO,
DELEITEM AS AGONIAS DO TEMPO.
OS PONTEIROS,
CADÊNCIAS DE VIDA,
APONTAM A GINÁSTICA DO INFINITO,
PARA ESCAPAREM À AREIA DOS DEDOS.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 05 de Junho de 2012, à noite, em casa, e, na Biblioteca Nacional, às 15H12.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 06 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 15H13, e, concluído, às 15H34 do dia 06 de Junho de 2012.

CRITICARTE - IX - "NADA"

Pode-se amar um livro que se esgota com palavras em sentenças de sentidos que angustiam e deprimem o leitor? Há vidas de uma vida que são ciclos de respirações que pontuam, envelhecimentos ou amadurecimentos, ao longo dos túneis que nos descobrem a descoberta de quem se foi, é ou será. Estas foram as sensações que perpassaram por mim, ao ler o livro “Nada” da escritora espanhola Cármen Laforet.
Cármen Laforet nasceu na cidade catalã de Barcelona, em 1921. Dos dois aos 18 anos viveu em Las Palmas, Canárias. No final da Guerra Civil Espanhola, em 1939, regressou a Barcelona com o intuito de estudar Filosofia e Letras. Em 1944, Cármen que já vivia em Madrid inicia o romance que viria a ser publicado em 1945, vencendo com ele, o prémio Nadal.
O romance gira à volta da jovem Andrea que se aloja em casa de familiares, em Barcelona, com o objectivo de prosseguir os seus estudos, família pobre e meia enlouquecida com os anos cruéis da ocupação franquista. Segundo o escritor Mário Vargas LLosa, “Carmen Laforet relata com uma prosa entre exaltada e glacial, onde o que se cala é mais importante do que aquilo que se diz.”
“Estas visões assustadoras perseguiram-me naquele fim de Verão com uma monótona crueldade. Nos fins de tarde sufocantes, nas noites longuíssimas, carregadas de lânguido pesar, o meu coração aterrado recebia as imagens que a minha razão não era suficiente para desterrar.
Para afugentar os fantasmas, eu saía muito para a rua. Corria pela cidade debilitando-me inutilmente. Ia com o meu vestido preto, encolhido pela tinta e que cada vez me ficava mais largo. Corria instintivamente com o pudor do meu atavio demasiado miserável, fugindo dos bairros luxuosos e bem cuidados da cidade. Conheci os subúrbios com a sua coisa de mal-acabada e poeirenta. As ruas velhas atraíam-me mais.”
Cármen Laforet viria a falecer em 28 de Fevereiro de 2004, com 82 anos e na cidade de Madrid.

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 06 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H19.

MEMÓRIAS SONORAS - VII - "DON´T LOOK BACK IN ANGER"

Em 1956, o jornal inglês Daily Mail classificou o novelista Kingsley Amis (1922 – 1995), o dramaturgo e actor John Osborne ( 1929 – 1994), o escritor Colin Wilson e o dramaturgo Michael Hastings como os representantes da geração literária do pós-guerra e um outro jornal inglês, o Daily Express que, notando a hostilidade do quarteto para com a Cultura académica, caracterizou-os como os “Angry Young Man”.
Em 1954, Kingsley Amis publicou a novela “Lucky Jim”, cujo tema humorístico, centra-se em Jim Dixon, leitor de uma Universidade de província e a sua luta pela sobrevivência na vida académica.
Em Maio de 1956, o Royal Court Theatre levou à cena a peça “Look Back In Anger” de John Osborne, actor e desempregado, que um agente do teatro publicitou como tendo sido escrita por um Very Angry Young Man. A peça centra-se na figura do trompetista Jimmy Porter que é inimigo da burguesia e de uma sua representante, a sua mulher, Alison.
“The Outsider”, de Colin Wilson, denota a influência da alienação e da aspiração espiritual que condiziam com o sentimento da época. O livro transformou Colin, de um momento para o outro, no filósofo de café e equiparam-no aos existencialistas franceses.
Dixon e Porter são exemplares de um novo protagonista: o homem da classe média baixa que enceta todos os esforços, falhados, para se integrarem na burguesia.
O termo AYM acabou por se aplicar às pessoas politizadas que se manifestavam, frontalmente, contra o sistema social britânico.
A diferença que marca Dixon e Porter é a ausência de uma linha política que se manifesta numa declaração de Porter: “não restaram causas heróicas por que se lute”. A declaração, embora escrita antes da crise do Canal de Suez e da invasão soviética da Hungria, causou impacto quando foi radiodifundida entre os jovens.
Nas décadas posteriores, os AYM têm como modelos os escritores Irvine Welsh, Alan Waner e John King e entre interpretes da música popular como John Lennon, Johnny Rotten e os irmãos Gallaghers dos Oásis que compuseram um tema, curiosamente intitulado, “Don´t Look Back In Anger”, inspirada num fragmento de uma conversa de John Lennon.
Os Oásis formaram-se em 1992, em Manchester, Inglaterra, por Liam Gallagher, Paul Arthurs, Paul McGuigan e Tony McCarrol e que, inicialmente, se chamavam Rain. Posteriormente, Noel Gallagher juntou-se ao grupo e em 1993 assinaram contrato com a editora independente Creation Records de Alan MacGee, iniciando a sua ascensão musical, principalmente, com os álbuns “Definitely Maybe” em Agosto de 1994 e “(What´s The Story) Morning Glory?” em Outubro de 1995, onde se inclui a memória sonora de hoje “Don´t Look Back In Anger” que é um exemplo de composição que reflecte o amadurecimento da harmonização áspera do grupo.

www.dailymotion.com/video/xp7f_oasis-dont-look-back-in-anger_music

Don't Look Back In Anger Lyrics
Artist(Band):Oasis

Slip inside the eye of your mind
Don't you know you might find
A better place to play
You said that you'd never been allagher
But all the things that you've seen
Will slowly fade away

So I start a revolution from my bed
'Cause you said the Brains I had went to my head
Step outside the summertime's in bloom
Stand up beside the fireplace
Take that look from off your face
You ain't ever gonna burn my heart out

So Sally can wait, she knows it's too late as we're walking on by
Her soul slides away, but don't look back in anger
I heard you say

Take me to the place where you go
Where nobody knows, if it's night or day.
Please don't put your life in the hands
Of a Rock 'n Roll band
Who'll throw it all away

I'm gonna start the revolution from my bed
'Cos you said the Brains I had went to my head
Step outside cos summertime's in bloom
Stand up beside the fireplace
Take that look from off your face
Cos you ain't ever gonna burn my heart out

So Sally can wait, she knows it's too late as she's walking on by.
My soul slides away, but don't look back in anger
I heard you say

So Sally can wait, she knows it's too late as we're walking on by
Her soul slides away, but don't look back in anger
I heard you say

And So Sally can wait, she knows it's too late and she's walking on by
My soul slides away, but don't look back in anger, don't look back in anger
I heard you say

At least not today.

Noel Gallagher

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 06 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H05.