quinta-feira, 11 de abril de 2013

AFLUENTES POEMÁTICOS - XXXII - POEMA INÚTIL

Cuidar do poema que adoece
é estrangular a prescrição do medo,
é arejar a docilidade do tempo
e libertar o fôlego saudável do seu tempêro.
O poema estremece de prazer,
é amor que floresce
por entre os lábios lamacentos do seu nevoeiro invisível,
socorrendo a decrepitude natural
do luto que o encobre,
mal o vaticínio do desprezo
vacina a pena criativa
com o rubor feminino que o enlaça em sorrisos
para que o seu espaço vital
seja o enredo estimável da obra plena.
O poema é esta faca afiada
que me rasga a sensibilidade,
é sangue que rompe o silêncio,
é lava que cega a noite,
é esta garganta de cicuta
que amputa os delírios da raiva
para que o parto da escrita
seja o débil ódio da fome
a escravizar a agonia da sua pose fotogénica.
Fotograma a fotograma,
a objectiva oculta
seduz o vigor da vivacidade,
divaga por entre lampejos de fogo,
revela os quadros mortíferos da sua tempestade final.
O poema vence a inutilidade de ser inútil.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 11 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 13H30 e as 14H58.
Postado, no blogue, em 11 de Abril de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H10 e as 15H22.