quinta-feira, 11 de abril de 2013

AFLUENTES POEMÁTICOS - XXXII - POEMA INÚTIL

Cuidar do poema que adoece
é estrangular a prescrição do medo,
é arejar a docilidade do tempo
e libertar o fôlego saudável do seu tempêro.
O poema estremece de prazer,
é amor que floresce
por entre os lábios lamacentos do seu nevoeiro invisível,
socorrendo a decrepitude natural
do luto que o encobre,
mal o vaticínio do desprezo
vacina a pena criativa
com o rubor feminino que o enlaça em sorrisos
para que o seu espaço vital
seja o enredo estimável da obra plena.
O poema é esta faca afiada
que me rasga a sensibilidade,
é sangue que rompe o silêncio,
é lava que cega a noite,
é esta garganta de cicuta
que amputa os delírios da raiva
para que o parto da escrita
seja o débil ódio da fome
a escravizar a agonia da sua pose fotogénica.
Fotograma a fotograma,
a objectiva oculta
seduz o vigor da vivacidade,
divaga por entre lampejos de fogo,
revela os quadros mortíferos da sua tempestade final.
O poema vence a inutilidade de ser inútil.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 11 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 13H30 e as 14H58.
Postado, no blogue, em 11 de Abril de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H10 e as 15H22.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

FRICÇÕES XIII - CHANTAGEM POLÍTICA

O Senhor Olli Rehn, Comissário Europeu dos Assuntos Económicos e Financeiros, ao afirmar que o prolongamento do prazo de reembolso dos empréstimos europeus, a Portugal, estará dependente das medidas que o Governo português tomar, em substituição das normas chumbadas pelo Tribunal Constitucional, é uma inadmissível chantagem política, cuja postura revela o sintoma doentio em que vive a União Europeia, onde a Democracia política é substituída pelo projecto decadente de uma economia falida. Portugal não se pode submeter a tão profunda falta de senso por parte da União Europeia. O Futuro não é o passado.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 10 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 13H50 e as 14H18.
Postado, no blogue, em 10 de Abril de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H29 e as 15H35. 

terça-feira, 9 de abril de 2013

FISGADAS POLÍTICAS - XII - SENHOR JOSÉ MANUEL DURÃO BARROSO

Estranho que o Senhor José Manuel Durão Barroso apele a consensos, em Portugal, quando o devia  estar a fazer no interior da União Europeia que, neste preciso momento, se assemelha a um comboio movido a carvão, em que a locomotiva - adivinha-se facilmente quem - puxa 26, em breve 27, carruagens, não de passageiros, como seria natural, mas de mercadorias, e, muito especialmente, de carvão, muito carvão, para alimentar a dita cuja. E saiba o Senhor José Manuel Durão Barroso que os portugueses não estão a brincar às escondidas, estão a trabalhar e, cada vez mais, como lhes tem vindo a ser imposto, com a finalidade de serem mais competitivos, ou seja, para que o carvão seja mais barato e sustente a fome da locomotiva. Que raio de Democracia é esta, não me dirá? Consensos, o Senhor apela a consensos, pois que lute por eles, onde eles são mais necessários, exercendo, desse modo, com a plenitude das suas aptidões - fracas a meu ver - as funções que lhe advéem do cargo para que foi nomeado.
E, quanto a consensos, estamos conversados.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 09 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H01 e as 14H36.
Postado, no blogue, em 09 de Abril de 2013, na Bilioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H53 e as 16H08.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

AFLUENTES POEMÁTICOS - XXXI - QUE IMPORTÂNCIA ISSO TEM?

Por onde passo,
por onde passei,
por onde passarei,
que importância isso tem
se não passo de um nado morto da palavra?
Respiro por respirar,
durmo por dormir,
vivo por viver,
que importância isso tem
se as páginas que escrevo
são sílabas da noite que não amanhece,
são fibras de vento que não se ouvem?
Estes passos que ritmos não têm,
são sombras que se alugam às manhãs nocturnas,
bocas seminais
que, no universo da vida,
percorrem as vielas secundárias
das aduelas urbanas,
erguendo os fusos horários
de um tempo inóspito.
Por onde vou,
por onde fui,
por onde irei?
Que matriz de sangue é esta
que se esvai por entre o medo de não o ter,
apagando o riso à garganta seca
e acendendo à luz eléctrica do cacimbo
os faróis da claridade
que espantam o negrume do silêncio
e vestem ao corpo das monções
a brisa calculada de um encanto pueril.
Onde estou,
onde estive,
onde estarei,
que importância isso tem
se sou esta morte de fera viva.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 08 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H10 e as 14H51.
Postado, no blogue, em 08 de Abril de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H18 e as 15h31.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

NAS MALHAS DE UMA ALUCINAÇÃO MENOR - IV - ÚLTIMO

O crepúsculo da sua viagem finita é um opúsculo de infinito incurável. Cada gaveta memorial abria-se e fechava-se de acordo com o argumento cinematográfico que explodia dentro de si, como vulgares correntes de ar que lhe constipavam a razão, instantaneamente enfurecida, por não se fixar, com nitidez, em cada um dos repentinos bolsares, esses paralípticos de consciência inconsciente. O palco é uma vertigem de socalcos adolescentes onde o chocolate carnal lhe feria a vivacidade juvenil. Tez leitosa, pintalgada por gostosas sardas, lábios pintados de roxo, cabelos ruivos e corpo encrespado pela pureza da sua volumetria. Um piercing criteriosamente exposto na sua língua que, a sua, polvilhada de languidez, lambia como se testasse a profundidade de uma toca voluptuosa...A paixão foi a droga que tudo aniquilou. As mãos, sinuosas, libertaram a lascívia de uma morte vingativa. A separação, inevitável, não encorporu o evitável...As cinzas afogaram-lhe as mágoas, crivaram-no de sedativos ridículos que lhe ridicularizaram as pétalas figurativas de visões crepusculares. A timidez das farpas rasgaram-lhe a carne, varrida pelas febres de alucinações que as preces dos desejos mórbidos, transformaram no apocalipse de um precipício irreparável... O voo esgotou-se. Nada, a não ser um baque surdo, acolchoou a verdade de uma ficção que se ficcionou a si mesmo. A serenidade embelezou o segredo de uma fome saciada.  
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 05 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H05 e as 16H05.
Postado, no blogue, em 05 de Abril de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 16H12 e as 16h32.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

FRICÇÕES - XII - ANORMALIDADES CONSTITUCIONAIS

Um Governo não pode governar por acaso, ou melhor, ao acaso. As medidas que toma, as leis que legisla são eivadas de consequências que se vão repercurtir por toda a Nação. Ignorar tal facto, revela inaptidão governativa. Porém, o que um Governo não pode, sob pena de revelar profunda ignorância, é desconhecer  a Constituição, é apresentar um OGE sem cuidar de saber se o seu conteúdo pode, ou não, incluir normas inconstitucionais. O Tribunal Constitucional, e o Governo sabe-o melhor do que ninguém, tem como função fundamental detectar, ou não, inconstitucionalidades, mas mais do que isso os Senhores Juízes que compôem o Tribunal Constitucional não vogam ao sabor de interesses alheios, nem podem condicionar as suas decisões, sob o pretexto vago de um interesse nacional subjectivo como resultado de uma ignorância. A Constituição é a matriz fundamental por que se rege a legislação nacional. Infringi-la ou pretender que ela seja infringida, demonstra, acima de tudo, um índice de afronta muito grave. Neste caso, como em muitos outros, a imparcialidade de um Juiz é tão fundamental como fundamental é a Constituição portuguesa. 
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 01 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H45 e as 16H31.
Postado, no blogue, em 01 de Abril de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 16H35 e as 16h57.