terça-feira, 19 de junho de 2012

MEMÓRIAS SONORAS - XI - "BLUE VELVET"

David Lynch, o realizador que explora, em alguns dos seus filmes como em
“Eraserhead”, de 1978, “Elephant Man”, de 1980, “Dune”, de 1984, as bizarrias dos mistérios que a mente humana encerra, realizou e escreveu o argumento, em 1986, do filme “Blue Velvet”, tendo como actores principais Isabella Rosselini, Kyle Maclachlan, Dennis Hopper e Laura Dern.
A história centra-se numa pequena cidade da “Middle America” e gira à volta de um jovem que se vê envolvido no mistério de um psicopata sádico e traficante de droga que rapta a família de uma cantora de um clube nocturno para satisfazer os seus instintos de brutalidade sexual, aconchegados à atmosfera de algumas canções, como por exemplo “In Dreams” de Roy Orbison, que lhe padronizam o gosto, enquanto se projecta a crueldade e o horror. A canção “Blue Velvet”, interpretada por Bobby Vinton, e que dá o nome ao filme, é um dos desejos que consome Dennis Hopper que, no filme, representa o psicopata. Na sequência deste filme Lynch realizou a excelente série “Twin Peaks” para a televisão. Seria uma excelente oportunidade para a RTP Memória voltar a exibi-la entre nós.
Stanley Robert Vinton (Bobby Vinton) nasceu em Canonsburg, Pennsylvania, EUA, em 16 de Abril de 1935. Iniciou-se, musicalmente, como trompetista, até se tornar vocalista da banda do estabelecimento de
ensino que frequentava. Em 1960, assinou pela editora Epic Records e, em 1962, com a composição “Roses Are Red”, obteve o seu primeiro grande sucesso. Em 1963, grava a canção “Blue Velvet” de Lee Morris e Bernie Wayne e com ela atinge o primeiro lugar das canções mais vendidas nos EUA. Antes desta versão, já Tony Bennett, em 1951 e o grupo de Doo-Wop, Clovers, em 1955, a tinham gravado.
A versão de Vinton é bastante açucarada e representativa de um certo estilo musical praticado pelos chamados Teen Idols, entre 1959 e 1963, nos EUA. Vinton foi um dos últimos deste Teen Idols e, embora a versão dos Clovers seja muito superior, a versão de Vinton, por motivos óbvios, é a memória sonora de hoje.

www.youtube.com/watch?v=qh1dAgoa3Bc

Blue Velvet
~ Bobby Vinton

She wore blue velvet
Bluer than velvet was the night
Softer than satin was the light
From the stars

She wore blue velvet
Bluer than velvet were her eyes
Warmer than May her tender sighs
Love was ours

Ours a love I held tightly
Feeling the rapture grow
Like a flame burning brightly
But when she left, gone was the glow of

Blue velvet
But in my heart there'll always be
Precious and warm, a memory
Through the years
And I still can see blue velvet
Through my tears

Lee Morris e Bernie Wayne
Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 19 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 16H08.

CISCOS DIÁRIOS - 19 DE JUNHO DE 2012

Esqueço-me do cansaço, desmonto a idade, e resisto à mendicidade do tempo com a opulência do humor. Sem me rir, nem sorrir, que estes pedaços de uma ventania mental são arpões de prosa madura que pescam nas águas do inconsciente a sinusite de um canto que realça os contornos macios de uma politiquice desvairada pelos encantos de uma beleza castradora e pelas betonices da carolice pedante. Avalio a sapiência da secura e examino a ignorância da candura com que se vestem os actos ceremoniais da presunção e da castração. Sou imune à divinização. Sou opaco na transparência de quem nada transparece e sou transparente na opacidade de tudo o que envelhece. A resistência é um dardo diário no alvo da decadência, é uma dose reforçada de feijoada proverbial para que os sentimentos de rejeição atinjam os objectivos da objectividade. A ironia pode não ser a linguagem da compreensão, mas é, certamente, a travessia de um deserto onde a mais pequena aragem causa uma tempestade de areia. As dunas reconhecem os seus lacraus e os seus venenos adubam a ventilação das palavras que nascem no oásis das suas idolatrias. Danço sobre os túmulos da vacuidade humana com a mesma galhardia com que se arrufa a vindima dos destinos na petulância dos traços genéricos da genética política. Não me oponho à oposição, mas oponho-me às suas posições, sem nervo, nem estatutos de inteligência que absorvam as tentações da realidade perversa. Serei perverso? Talvez, mas a pervesidade é uma ambiguidade entre as dúvidas que racham e as perguntas que ferem, não por serem pueris, mas porque os seus ritmos adultos alteram as franjas do olhar de rapina. Esqueço-me do tempo, acordei os dedos dos regos diários. Regado por aspersão, afogueado, por absolvição.     
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 19 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H36.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 19 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H38, e, concluído, às 15H43 do dia 19 de Junho de 2012.

SONETOS - I - HARPAS AMANTES

QUE SE DANE A BILIS DA FERRUGEM,
O CANSAÇO DA VELHICE PRECOCE,
AS VERTIGENS DA IDADE SEM CONSCIÊNCIA
E AS GORDURAS DAS GARGANTAS MUDAS.

QUE SE INVENTE A CLARA MADRUGADA
AO SILÊNCIO DA NOITE MAIS HOSTIL
PARA QUE A CARNE RASGADA COM FEL
SEJA FEBRIL NO ACTO DA VINGANÇA.

QUE AS HORAS, AVES QUE O VENTO ASSOMBRA,
SEJAM O DEDILHAR DE HARPAS AMANTES
E AS SEMENTES DO AMOR FRATERNO

PARA QUE AS SOMBRAS QUE O NEGRO VESTE
SEJAM AS ELOQUÊNCIAS DE QUEM PINTA
OS QUADROS COLORIDOS DA VERDADE.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 19 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H50.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 19 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H51, e, concluído, às 14H22 do dia 19 de Junho de 2012.