quarta-feira, 6 de março de 2013

FRICÇÕES - X - ESQUERDA E DIREITA

Sou de esquerda, mas não me revejo em nenhum dos vários partidos portugueses que se proclamam de esquerda. Decorridos que foram estes muitos anos de Democracia, ativa e baforenta, revolta-me que ainda não tenha sido possível a constituição de um programa comum de esquerda que seja racional, adaptado aos tempos que correm e sem o pavor em que incorrem por não considerarem que são necessários certos sacrifícios para nos pirarmos da crise em que balofamente caímos por anos e anos de incúria governativa. Espanta-me que não sejam capazes de se unirem para estabelecerem uma plataforma comum visando a área governativa, com objetivos muito claros e dotada de uma dinâmica construtiva que ofereça aos portugueses uma alternativa real a esta direita que nos afoga em águas de paralesia desenvolvamentista, mas que se sabe unir em torno do nosso desgoverno com medidas que são âncoras de uma falência coletiva que nos vai sair muito cara. É tempo de lhe combater a vitimização com que pretende justificar os seus erros de matemática, o seu desconhecimento absoluto das realidades portuguesas, a sua infantilidade macroeconómica, a sua falta de visão futurista, a incapacidade de medir as consequências dos seus atos governativos, como exemplarmente o demonstra o lançamento extemporâneo do porto de contentores para a Trafaria - será que a megalomania do TGV se transferiu para tal projecto, será que não será possível reconverter os estaleiros de Viana do Castelo, por exemplo, em apoio às pescas? -,  e de destruir, premeditadamente, graças à ausência de consumo, as pequenas empresas das áreas de comércio e de restauração, bem como a secundarização da cultura. O Governo fala em refundar o Estado, mas desconhece os reflexos do que ele representa no tecido social e económico nacional e ignora, sem preconceitos, os conceitos da demagogia económica em que lavra o estatuto das políticas que consome alarvemente.  Tudo fala de uma reindustrialização, mas todos desconhecem o modelo ou a sua planificação bem urdida, isto, duvido, se for realmente o que o país necessita para um processo de desenvolvimento saudável. Antes eram os clusters teconológicos que nos iam salvar a pele, agora são as indústrias extrativas que, segundo consta, com capitais estrangeiros, o que, objetivamente, significa que os capitais gerados serão maioritariamente canalizados para fora do país.  São estas questões de fundo que, a meu ver, terão de ser debatidas por toda esquerda e que deveriam servir de base para uma plataforma política comum entre todas elas. Se assim não for, temo que o país será um repasto para uma direita funesta. Urbi et orbi. 
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, diretamente, no blogue, em 06 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional, entre as 13H04 e as 14H07.