quarta-feira, 2 de maio de 2012

CISCOS DIÁRIOS - 02 DE MAIO DE 2012

Ontem, iniciei o dia por ir almoçar à cafetaria-restaurante Quadrante, no Centro Cultural de Belém. A gentileza é apanágio de quem nos atende e a variedade o seu hábito. Depois, entretive-me a ler, no Jornal i, a entrevista com o escritor Mia Couto, a propósito do lançamento do seu mais recente livro "A Confissão da Leoa".  Gostei da entrevista. Gosto da escrita de Mia Couto. A sua linguagem é um fascínio. Os perfumes africanos e moçambicanos envolvem-nos o olfacto do olhar e ilustra-nos o pensamento com as mangueiras e os cajueiros da nossa fome literária. A sua escrita é uma piroga nos rios das palavras e a originalidade do prazer africano habita as palhotas da vida. Leio Mia Couto como me leio a mim próprio. Saibo a luar, saibo ao afogamento da tristeza e descubro, em cada rota do tempo, as trovoadas  e a chuva da minha sede nas picadas do tempo.
Hoje, sou tudo e nada. Consumo os pensamentos que trago à flor da pele e dispo a sua nudez com os trajes da sua natureza inóspita. A chuva é a minha transpiração e, o ritmo dos seus milímetros, a respiração sinuosa da serpente que se move entre o silêncio do nada e o rufar do tudo. O dia caminha para a noite e, eu, caminho para o universo do nada, descobrindo, em cada passo, a urgência de transferir sentimentos para esse mundo vago de sonhos que tudo são e nada valem. Sou um segundo nas asas das horas. Voo sem voar, e encontro-me na fronteira onde o tudo é nada. Assim sou, assim caminho.   
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito, diretamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 02 de Maio de 2012, às 14H59, e terminado, às 15H44

FISGADAS POLÍTICAS - I - A NOVA EUROPA

Rasgar, ao acaso, as cartas da batota política e os bluffs políticos da geração perdida são os objectivos deste espaço.
E para me projectar com a sintonia da realidade, nada melhor do que me inserir no colectivo democrático europeu. É impossível fazê-lo sem penetrar profundamente na crise da globalização, ou melhor, na globalização da crise, cujas origens são unicamente económicas, portanto, sistémicas, e devidamente ilustradas pela incapacidade de resolver os seus quistos. E não se pode iludir o facto de ela, a crise, ser, tão ou mais profunda, em países onde a matriz política é de direita.  Os chamados motores da Europa - a França e, muito especialmente, a Alemanha - têm, através da imposição de medidas de austeridade, forçado, subrepticiamente, a que a Europa seja uma uniformidade direitista, cujo exemplo mais flagrante é o da Grécia. Esta manipulação retórica abrirá um espaço, cada vez mais ampliado, aos objectivos da extrema-direita que tem por base a xenofobia e a captação do descontentamento popular que se evidencia por ser contrário às medidas capciosas de austeridade que, devidamente analisadas, não proporcionam os resultados que delas se esperavam, nem a curto, nem a médio, nem a longo prazo. São um mero garrote de inutilidades. Como não podia deixar de ser, a Alemanha, assumiu-se como a locomotiva da Europa e, quem a ela se opõe, arrisca-se a sofrer as consequências das suas pretensões dictatoriais. Não será novidade para ninguém que esta posição germanófila tem à cabeça uma carapaça democrática, mas, lá no fundo, ela não é mais do que a amostra de um novo Kaiser alemão, a Fraulein Angela Merkel. Por isso, é importante que a França vote massivamente, em 6 de Maio, no Senhor François Hollande.  Estes sinais de permissividade direitista tem, ao longo das últimas décadas, proporcionado a lenta e gradual ascensão da extrema-direita em toda a Europa, o que parece não preocupar ninguém, bem pelo contrário, estas direitas europeias tem por filosofia, quando se entra em tempos eleitorais, adoptar muitas das medidas que a extrema-direita inclui nos seus programas de índole, muitas vezes, neonazis. E, quanto à Grécia, é bom não esquecer que uma das suas fronteiras, é a Turquia. E a memória  implora-nos que não esqueçamos que o Senhor Sarkozy tudo tem feito para impedir a entrada da Turquia na Comunidade Europeia. E os fundamentos para tal recusa são muito caros à extrema-direita: a Xenofobia.  E o Tratado Orçamental Europeu nada mais é do que um carrilhão de medidas claustrofóbicas. Lamentável, foi a atitude de Portugal ter sido o primeiro a assiná-lo o que demonstra um notável sentido de submissão e que merecia, por parte de todos nós, um sentimento de repulsa governativa.           
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, no dia 28 de Abril de 2012
Escrito, diretamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 02 de Maio de 2012, às 14H40