quarta-feira, 16 de maio de 2012

CISCOS DIÁRIOS - 16 DE MAIO DE 2012

As cotoveladas que sofro na vida assemelham-se a um baloiço de almas desvalidas. Sinto o eco das suas passadas nas fronteiras do meu espelho mental que refletem as harmonias de caprichos inúteis. Tempos houve em que o Mito de Sisifo se aplicava às regras dos que pretendiam moldar as chaves dos meus conteúdos ilusórios. Nestes processos de abcessos alheios avistei, constantemente, a saga das abelhas sem colmeia. Picam ao acaso e poisam onde tudo é volúvel. São traças de veludos pesados que rasgam sem a sensibilidade das tainhas vogando ao sabor da corrente. Pescam o que precioso lhes parece e, na hora da tosquia, verbalizam o irracionalismo dos dementes. A Nausea saliva-me as horas do poente, enquanto navego, solitário, pelo doce remanço da imaginação fértil, lambendo às labaredas de um amor vago a tranquilidade do meu silêncio nos ruídos ávidos da vida que vagueia e desfalece na aposentação dos seus remorsos itálicos.  Sentado na gávea dos meus sonhos, observo a invisibilidade de tudo o quanto me rodeia, e descubro na palidez do horizonte a rota dos teus cabelo sedosos e nocturnos. Afago-os com um gesto meigo e deslumbro-me com o feitiço da tua languidez perpétua. Sabes, sou esse teu desejo de me saberes balouçando na réstea pacifica desta ilha que sou. Rodeado de silêncio por todos os lados, grávido de ternura e de sensualidade. Eis-me, só, na Ilha dos Amores. 
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 16 de Maio de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H56
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 16 de Maio de 2012, às 14H57, e, concluído, às 15h33 do dia 16 de Maio de 2012.

CANÇÃO - VI - ROCA O AR

SE TUDO O QUE SINTO
É SOLIDÃO
E A DOR COM QUE PINTO
O CORAÇÃO
NÃO SEI
MAS SEI
QUE PROVO ESSA DISTÂNCIA
ENTRE MIM E A TUA FRAGRÂNCIA.

DIAS HOUVE EM QUE FOSTE REAL
NAS PORTAS DO MEU OLHAR
MAS EU COMO UM RURAL
NÃO TE SOUBE ENCONTRAR
NO SAL DO MAR.

A NOITE DOS TEUS CABELOS
SÃO O SOL DO MEU TEAR
QUE A SEDE DE TECÊ-LOS
EM BROCADOS DE LUAR
ROCA O AR

SE TUDO O QUE FALHA
É A PAIXÃO
E A DOR QUE SE ENCALHA
POR ILUSÃO
NÃO SEI
MAS SEI
QUE TUDO EM MIM RENOVO
AO PROVAR COMO TE PROVO

NA DOÇURA DA PUREZA
NA CANDURA DA CERTEZA.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, ontem à noite, em casa, às 10H20 do dia 15 de Maio de 2012, sob a influência do album "Argus", dos Wishbone Ash.
Escrito e continuado, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, em 16 de Maio de 2012, às 13H55, e, concluída, às 14H20 do dia 16 de Maio de 2012

AFLUENTES POEMÁTICOS - VIII - HÁBITO NOCTURNO

AGARRO A NOITE COM A RAIVA DOS MEUS DENTES
E CAMINHO PELA SUA BOCA DE TEMPO
COM BOTINAS DE SILÊNCIO.
QUE PROCURA O MEU CORPO?
QUE ENCONTRA O MEU OLHAR?
QUE FOME É ESTA QUE SE REGALA EM SEGREDO?
SERÁ O PRAZER DESCONHECIDO DA TUA LÍNGUA AMANTE
LAMBENDO OS MEUS LÁBIOS DE TÉDIO?
DESCONHEÇO ESTE VAGAR LUMINOSO DE UM AMOR
QUE SE ENROLA NESTA PELE DORMENTE
COM O PRAZER DA CORAGEM INSENSATA
ENROSCADA EM LIBERDADES DE TENTAÇÃO MUSCULADA.
MÚSCULOS DE TERNURA,
ABRAÇOS DE TENTAÇÃO
E UM DILÚVIO DE PALAVRAS DOCES
SUSSURRADAS AOS OUVIDOS DESTE AMANTE INESPERADO.
AGARRO A NOITE COM O DESESPERO DA MADRUGADA
E RENUNCIO AO DIA DE TODOS OS DIAS
PARA ME SAGRAR SAGRADO NO POEMA DO TEU HÁBITO NOCTURNO.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 16 de Maio de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H22.
Escrito, diretamente, no blogue, no dia 16 de Maio de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H23, e, concluído, às 13h44 do dia 16 de Maio de 2012.