sexta-feira, 5 de abril de 2013

NAS MALHAS DE UMA ALUCINAÇÃO MENOR - IV - ÚLTIMO

O crepúsculo da sua viagem finita é um opúsculo de infinito incurável. Cada gaveta memorial abria-se e fechava-se de acordo com o argumento cinematográfico que explodia dentro de si, como vulgares correntes de ar que lhe constipavam a razão, instantaneamente enfurecida, por não se fixar, com nitidez, em cada um dos repentinos bolsares, esses paralípticos de consciência inconsciente. O palco é uma vertigem de socalcos adolescentes onde o chocolate carnal lhe feria a vivacidade juvenil. Tez leitosa, pintalgada por gostosas sardas, lábios pintados de roxo, cabelos ruivos e corpo encrespado pela pureza da sua volumetria. Um piercing criteriosamente exposto na sua língua que, a sua, polvilhada de languidez, lambia como se testasse a profundidade de uma toca voluptuosa...A paixão foi a droga que tudo aniquilou. As mãos, sinuosas, libertaram a lascívia de uma morte vingativa. A separação, inevitável, não encorporu o evitável...As cinzas afogaram-lhe as mágoas, crivaram-no de sedativos ridículos que lhe ridicularizaram as pétalas figurativas de visões crepusculares. A timidez das farpas rasgaram-lhe a carne, varrida pelas febres de alucinações que as preces dos desejos mórbidos, transformaram no apocalipse de um precipício irreparável... O voo esgotou-se. Nada, a não ser um baque surdo, acolchoou a verdade de uma ficção que se ficcionou a si mesmo. A serenidade embelezou o segredo de uma fome saciada.  
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 05 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H05 e as 16H05.
Postado, no blogue, em 05 de Abril de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 16H12 e as 16h32.