quinta-feira, 28 de março de 2013

FRICÇÕES - XI - SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Tem toda a razão do mundo, o Senhor Presidente da República, ao afirmar que as lutas partidárias não contibuiem com um cêntimo para a economia portuguesa. Provavelmente, por lapso momentâneo, estou certo, esqueceu-se de nomear as forças de bloqueio. Porém, acredito, piamente, que o Senhor Presidente da República, não desconhece, o que seria um erro terrível, que a riqueza de uma Democracia se baseia nas diferentes concepções políticas de sociedade que, cada um dos partidos, concebe para o nosso país. Ora, se isto é uma prova irrefutável de liberdade democrática, seria lesivo para a Nação que os seus cidadãos  não pudessem perceber quais as diferentes perspectivas políticas para a resolução da crise em que vivemos. Resumindo, e, concluindo, o que está em causa não são lutas partidárias, mas sim saber qual a metodologia ideológica, ou, se achar mais correcto, qual a matriz que melhor se encaixa na reestruturação do desenvolvimento económico português. O Senhor Presidente da República, melhor do que ninguém, sabe que não é com auto-estradas a eito que se desenvolve uma planificação agrícola, industrial e piscícola. Como muito bem sabe, a memória e a História não são lutas partidárias, são exemplos vivos do que devia estar morto. A bem da Nação.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 28 de Março de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 13H20 e as 14H02
Postado, no bogue, em 28 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 13H22 e as  14H04.

quarta-feira, 27 de março de 2013

HARMÓNICA BLUES - VII

Nuvens negras moviam-se, lestas, de Norte para Sul. Os diabinhos rubros acelararam o skates e diminuiram a distância que nos separava da auto-estrada. O alcatrão parecia borracha queimada. Penetrámos na nuvem negra. Ficámos negros como o carvão. Os diabinhos praquejavam e, apenas, os seus olhos permaneceram violentamente rubros como se fossem lanternas incendiando a noite. Vindo não se sabe donde, Deckard passou diante de nós e gritou:
- Fujam! A tempestade está no seu auge e a violência é um vendaval dos diabos.
- E o Norte?
- Quero lá saber do Norte!
Os diabinhos, agora vestidos de negro, acelararam ainda mais os skates e berraram-me aos ouvidos:
- A ideia do Norte é uma idiotice.
- A batalha vai ser violenta. Voltemos para Sul.
- Nada a fazer o Norte é o nosso destino, dê lá por onde der.
Nisto, avistámos, mesmo à beira da auto-estrada, a Casablanca. Descemos, entrámos, sedentámo-nos e um dos diabinhos gritou:
- "Play It Again Sam".
O Sam atacou o piano e dedicou-nos "As Time Goes By", mesmo no instante em que nos afastávamos do local que principiava a arder. Mesmo assim ainda ouvimos o Bogart a gritar para o Nick Cave: "Isto ainda vai ser o princípio de uma bela amizade", ao que Cave respondeu vociferando: "Release The Bats", "Release The Bats".
Os diabinhos manejaram os skates e estes rumaram ao Norte que era, ao longe, uma mistura da cegueira nocturna que atravessávamos e o vermelho condensado do inferno de Dante. Não muito longe dali, avistámos o Pepe Carvalho que se divertia a lançar mais um dos seus livros, acabados de ler, para a fornalha do tempo, aproveitando para nos gritar:
- Se vão para Norte acendam os isqueiros que a fumaça enlouqueceu. Eu sigo para Oeste que o criminoso já não me escapa.
Os diabinhos praguejaram de novo e embalaram os skates para Norte, sempre para Norte, enquanto, eu, e a minha harmónica aquecíamos ainda mais o temporal com o blues "I´d Rather Go Blind". 
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 27 de Março de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H00 e as 14H24.
Postado, no blogue, em 27 de Março de 2013, na Biblioteca Naconal de Lisboa, entre as 14H31 e as 14h58.

terça-feira, 26 de março de 2013

APITOS BOLÍSTICOS - VI - SELECÇÃO NACIONAL

Que não haja ilusões! Se a Selecção Nacional não vencer o seu jogo de hoje, o Mundial, no Brasil, não será mais do que uma triste miragem. Que a psicologia da ambição funcione, que os jogadores se transcedam e façam o que têm a fazer: vencer o jogo.
Quanto ao quadro de jogadores que o seleccionador escolhe para o jogo, escapam-me razões para não ver em campo o Paulo Machado e o Danny. A consistência do meio campo aumentava e o ataque melhorava, sem dúvida alguma, com um excelente vagabundo atacante. Acresce que eles têm a forte postura, física e mental, que lhes é fornecida pelo tipo de campeonatos em que jogam. A sua exclusão, para mim, é um mistério.
Que vençam! É tudo quanto se lhes pede.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, directamente, no blogue, em 26 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H44 e as 15h00.

segunda-feira, 25 de março de 2013

MINIATURAS - XIII

A VERDADE QUE O TEMPO OCULTA, É A MENTIRA QUE A CIÊNCIA DESVENDA.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, em 25 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H48 e as 15H51.

quarta-feira, 20 de março de 2013

O AMOR DE NÃO O SER

Sentado, em um banco do jardim do Príncipe Real, observo a elasticidade da vida que passa, zumbindo, diante dos meus olhos. Consulto o meu Swatch. São horas de me encaminhar para o Instituto Britânico. Pego na minha pasta da Tapioca, ligo-me ao iPod e aos Palma Violet e, sem pressa, tenho tempo, levanto-me e caminho por entre árvores sem idade, por entre corpos que dialogam, em conversas banais, em conversas amorosas. Desço a rua, entro na livraria, fronteira ao Instituto, e consulto o espaço dedicado aos livros de música. O Swatch apressa-me. Entro na classe do sétimo ano. Ao entrar, a verdade estremece-me o corpo, aumenta-me o ritmo cardíaco. Ao vê-la, deixo de ver; o professor e os outros alunos são apenas esculturas de carne viva que se enclausuram em um quadro vivo de aparências teatrais. Os seus olhos, de uma claridade assombrosa, encontram-se com os meus, acenam-me sorrisos e, eu, corpo dançarino, envio-lhe uma saudação repleta de alegrias que, verdade seja dita, só este meu sentimento de jovem seduzido, compreende em toda a sua verdadeira extensão. Neste entorpecimento amoroso, o professor é um ruído de fundo, uma voz que nos explica o que não sei explicar, um relatório qualquer que me desgosta o gosto da sua presença divinal. O tempo não tem obstáculos, mas a minha timidez é um obstáculo. A sineta soa, aos meus ouvidos, como uma canção de embalar. Saiem todos, saio, eu, sai, ela, saímos para o mundo da consciência aberta, fechando os meus desejos, ocultando, mais uma vez, a razão das minhas razões. Junta-se, alegre, ao seu grupo habitual e, eu, pego no meu corpo, sem destino, e fujo, literalmente, do brilho que me encadeia os passos, lentos e tensos, e escondo-me, em um canto da esplanada, no jardim do Príncipe Real. Abro a pasta e, dela, retiro os "Diários" de Al Berto. Com eles sigo por onde nunca seguirei. Eis-me inteiro e dividido entre o gosto de ser amado e o desgosto de não o ser.       
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, diretamente, no blogue, em 20 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H20 e as 15H14.

segunda-feira, 18 de março de 2013

A DÁDIVA DA VIDA

Subiu as escadas. Mora em um sétimo andar das Avenidas Novas. Quasi sem fôlego tirou as chaves do bolso e entrou em casa. Tirou os sapatos cor de cinza, estirou-se na cama e respirou aliviado. Colocou os headphones na cabeça e ligou o iPod. Uma mescla de sonoridades suavizou-lhe o coração, adormeceu-lhe a tensão de um dia agitado. Jantou fora, bebeu demais. Sábado, 01h30 da madrugada.  Pensou na vida, amontoaram-se as dúvidas de uma existência febril e de uma vadiagem noturna que o assustava como se fossem as dores de um parto difícil. De olhos fechados, sentia-se leve como uma nuvem arrastada pelo vento, grávida de lágrimas, choro que não o libertava das mágoas em que se consumia todas as vezes que uma das faces do seu namoro transpirava um nevoeiro de desejos incontroláveis. Não receava desatar os nós que os prendiam, mas a solidão implorava-lhe que rejeitasse a tristeza de uma decisão que o afastava da vivacidade e de uma adolescência que se recusava abandoná-lo. Vinte e um anos era o início de uma viagem, clara e doce, e não um desprezo que a menosprezasse. Porém, por muito que a claridade lhe viciasse o clamor das ideias, uma espécie de formigueiro mental imobilizava-lhe o prazer da vida. Cansado, sem saber porquê, levantou-se, abriu a janela do quarto e sentiu uma força irreprimível de esquecer a vida e abraçar a morte. Desejo inútil, mal divisou, diante do seu olhar, o rosto terno da sua namorada que, com os seus cabelos compridos batidos pela suavidade do vento, lhe oferecia um dos seus mais belos sorrisos. Fechou a janela, visitou a cozinha, fez uma sandes e retirou do frigorífico um sumo de manga.  Sentou-se na cadeira de baloiço e pensou na estrada com que o Futuro o visitava. Frequentava a universidade, sonhava com uma licenciatura, mas observava no horizonte uma chuva miudinha de mágoas que o entontecia com um formigueiro de dúvidas percorrendo os seus carreiros de projetos dissolvidos pela fragilidade dos tempos em que vive. Um repentino gesto de enfado fatigou-lhe o corpo, despertou, no mais profundo do seu ser, a vontade férrea de enganar a realidade e fustigar-lhe o castigo com a decisão inabalável de restituir ao seu corpo, meio anestisiado, a vitamina emancipadora de ser um fruto apetecível na vasta amargura de um cosmos laboral que lhe irrita, profundamente, a dávida vida. Levantou-se, com um sorriso nos lábios, estendeu-se, na cama, e adormeceu abraçado ao seu velho urso de peluche.      
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, diretamente, no blogue, em 06 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional, entre as 15H54 e as 16H04, em 07 de Março de 2013, entre as 12H50 e as 13H10, em 11 de Março de 2013, emtre as 16H12 e as 16H29, em 18 de Março de 2013, entre as 14H44 e as 15H01.

APITOS BOLÍSTICOS - V - FUTEBOL CLUBE PORTO

De um portista, para muitos outros portistas, e, não só.
Aqui vai uma pergunta, fundamental e fundamentada, ao Senhor Vitor Pereira, treinador do Futebol Clube do Porto: Quem deles é o melhor, Castro ou Defour, Atsu ou Varela, James ou Izmaylov? E Sebá e Kelvin? Bem sei que desconheço a metodologia de treino do Senhor Vitor Pereira, mas o meu conhecimento futebolístico, que pode não valer grande coisa, reconhece, facilmente, a importância do contínuo aperfeiçoamento técnico-físico e, especialmente, psicológico de todos os jovens jogadores que se encontram, ainda, em uma fase cruxial de crescimento dos seus índices futebolísticos. O Futebol Clube do Porto não pode desperdiçar talentos, simplesmente, por ausência de metodologias de treino, específicas de jovens que estão em início de carreira, não esquecendo, é claro, as correspondentes mais valias que tais ativos representam, sendo responsáveis por futuras receitas, em resultado das vendas dos seus contratos, receitas que, como todos os portistas não desconhecem,  tanta falta fazem ao clube. Eu sei qual é a resposta, mas não me pronuncio sobre ela, embora ela esteja, claramente, explícita.
Porém, não me vou embora sem que faça outra pergunta: O que têm de comum os jogadores, Paulo Machado (Olympiakos), Vieirinha (Wolfsburgo), Josué, Caetano, Manuel José (Paços de Ferreira), Ukra (Rio Ave), Helder Barbosa (Braga) e Candeias(Nacional). Como é evidente, eu, sei qual é a resposta. Será que todos os portistas a sabem?       
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 17 de Março de 2013, Escrito no Bar Terraço do Centro Cultural de Belém, entre as 13H05 e as 13H30.
Corrigido e postado, em 18 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 13H32 e as 14H02

sexta-feira, 15 de março de 2013

NAS ASAS DA NOITE

Estou sentado em um degrau de um dos prédios de uma rua do Bairro Alto. Do meu lado esquerdo, encostada à porta, jaz uma Kora; do meu lado direito, sobre o degrau, descansa uma garrafa de sangria que vou bebericando de quando em vez. Os meus olhos, ligeiramenete enevoados, acompanham o estranho movimento ondulante da rua. Tento pensar em algo que me distraia, mas os pensamentos, primeiro, aglomeram-se, incandescentes, depois, esfumam-se como de fossem argolas de fumo, construidas a partir de um cigarro que se imagina, de um tempo que se evapora por entre os passos tumultuosos de corpos que se envolvem com os ritmos da noite, em um frenesim de contos inacabados. Coloco a Kora entre as minhas pernas, afago-lhe o corpo envelhecido pelo uso e permito que os meus dedos perturbem o sossego das suas cordas, sequiosas de propagarem pela noite os poemas sonoros do seu encanto. A Kora e eu somos um corpo único, beleza das belezas musicais que bandos de jovens vão ouvindo, passando, ou sentando-se, à nossa frente, em um semi-círculo de jovialidade noturna. Os meus olhos fixam-se em uma janela de um prédio diante de nós. Abre-se, de par em par, deixa que os sons penetrem de mansinho pelos sonhos de um sono desconhecido. Dos meus dedos soltam-se notas que, de início, flutuam, para, depois, voarem como pássaros em busca dos seus ilimites despovoados, essa sensação de liberdade que envolve as pupilas do meu prazer e desfilam como imagens cinematográficas de um filme em que o argumento é este vagabundear sonoro pelas veias da vida. Há jovens que bebem, há jovens que dançam por dentro das suas memórias difusas, como que espelhando pela noite dentro as sombras vinícolas dos seus desejos mais ardentes. Uma espécie de magia negra apoderou-se do meu corpo que, lentamente, se foi diluindo até que, eu, e a Kora, em metarmorfoses de um tempo desconhecido, abraçámos o voo discreto do corvo de Poe que, sobre o parapeito da janela, segredou aos ouvidos da noite, "nunca mais". E nunca mais, eu, e a Kora, somos.       
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, directamente, no blogue, em 07 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H09 e as 14H21, em 12 de Março de 2013, entre as 14H02 e as 14H20, em 15 de Março de 2013, entre as 15H43 e as 15H59.

CRITICARTE - XX - CRÍTICA PICTÓRICA

A crítica é o fascínio humano de tudo ver, criticando as aparências de tudo o que não se vê, para que se veja o que nada se sabe. É a liturgia do silêncio nas raízes do ruído. O pintor pinta com os dedos do seu pensamento, ostenta, na finitude das suas obras, a elasticidade de um seu mundo vivificador e de uma marginalidade que seduz uma tempestade de luz que se sente nos sentidos de quem a observa. Tintas, os dedos, o pincel, as mãos, as colagens, o carvão, a aguarela, o pastel, a serigrafia, a musculação de uma arte em tudo o que no cérebro floresce. Obras primas, obras senis, obras fictícias, quem as encadeia no esplendor ou na morte da sua fruição? Será o crítico que lhes inventa a cobiça da sua originalidade ou serão os olhos de quem as analisa, com a pureza da sua sensibilidade, e lhes descobre, nos opúsculos do seu dinamismo estético, a magnificiência, a magnitude de um sentido que, em sentidos diversos, é tocada, profundamente, pelos labirintos sagrados de uma aparição de magia e de fascínio que liberta o espírito de uma nova liberdade criadora: Todos somos críticos, todos somos revelação. E que mundo espantoso se pode desdobrar nas malícias do olhar que o espreita, nas delícias da sensualidade que uma sensibilidade mais criativa impõe à partilha dos sentidos. Eis a fonte que brota dessa família pictórica que nos devora o prazer ou nos destrói o orgulho e o preconceito de lhe desfrutar o ódio ou o amor a uma arte que nos consome a vida com a linguagem universal de uma ilusão que a realidade transforma no fascínio do deleite. Toda a crítica é a visualização de uma imagem que nos decora a razão da nossa racionalidade ser irracional. Toda a obra é um modelo que nos encena o epitáfio do luto que o silêncio ensurdece.    
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, directamente, no blogue, em 07 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional, entre as 13H26 e as 13H32, entre as 15H39 e as 16H01 do dia 08 de Março de 2013, em 15 de Março de 2013, entre as 13H29 e as 13H56.

quinta-feira, 14 de março de 2013

NAS MALHAS DE UMA ALUCINAÇÃO MENOR - III

Os pais eram adjectivos sem substância carnal que edificassem uma filiação que o acaso abasteceu como fruto de uma constelação sem brilho. De ascendência aristocrática moviam-se, com frequência, em salões idealistas, onde conversas tranquilas abasteciam as sinopses de filmografias pessoais e, por vezes, de uma intimidade assustadora, não por ser sanguinária, mas por preencher as lacunas sombrias de uma génese incubadora: o fascínio poderoso pela linguagem dos lobos, em noites de lua cheia. O repúdio de uma jornada formatada em cubículos de farsas desnatadas, obrigava-os a escapulirem-se para onde as paisagens grotescas de uma certa vida orgânica não eram mais de que um vestígio ecológico dos seus prazeres psicológicos. Habituara-se a fugas sistemáticas, a viagens e a ninhos que não passavam de meros refúgios de circunstâncias onde abundavam os desejos de isolamento humano e o sumo científico da universalidade plena. As imagens corriam tão céleres como o voo picado que lhe ferrava as ferraduras da memória, límpida e natural, na consciência da sua temporalidade. Aprendera, graças ao desvelo educativo dos seus pais que a fusão entre o conhecimento humano e o estado vivo da natureza fora a osmose gratuita da sua ciência mental. O tempo é uma obscuridade em que viaja, sem relutância, mas a sua acentuação vegetal transporta-o para a idade em que a educação o transferiu para os interiores renovadores da secura urbana onde aprendeu a ser entediante perante uma natureza humana que o destituía de sentidos e o pejava de aventuras amorosas, tão possessivas, que o seu corpo, encharcado de complexidades maduras, se esquecia que a imaturidade era a virilidade dos seus presentes e a irrigação do seu inconsciente com os fervores, algo apocalípticos, dos estertores que lhe banhavam a lucidez de uma estética moral que o conduzia a fatalidades de que se livrava com a poeira molecular do alheamento. O voo, cada vez mais veloz, multiplicava-lhe o painel híbrido das inconstâncias juvenis que, num fresco mal pintado, lhe bebia a luminosidade de um quadro adolescente que o marcara, profundamente, com as raízes gigantescas de um alcoolismo amoroso que lhe envenenou a liberdade da propagação vivificadora.  
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, diretamente, em 06 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional, entre as 15H07 e as 15H10, em 07 de Março de 2013, entre as 11h54 e as 12H04 e entre as 13H09 e as 13H23, entre as 15H01 e as 15H31 do dia 08 de Março de 2013, em 14 de Março de 2013, entre as 15H39 e as 16H04.

terça-feira, 12 de março de 2013

SOBRE A MINHA MAQUINIZAÇÃO

É triste dizê-lo, mas há um certo número de pessoas, cujo raciocínio está formatado pelo embalo de mentes piolhosas que abusam, constantemente, da mentira para se assegurarem, a todo o custo, do negócio que mantêm, graças ao roubo autoral e à sucção de todos os pensamentos e de todos os escritos que, antecipadamente, desenvolvo, cerebralmente, porque fui, em tempos, maquinizado, sem que me fosse dada qualquer hipótese de escolha, sem me ter pronunciado sobre o que quer que seja. Nada mais me resta dizer que tais pessoas agem como cúmplices de uma atividade criminosa - não há que ter medo de lhes aplicar as palavras certas - ocultadas que são as suas verdadeiras identidades para que nada lhes aconteça. Resta saber porque razão todos eles se sentem tão à vontade em fazerem o fazem. Acresce que eu sou sócio da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) e que, portanto, tudo o que escrever se encontra protegido pelo Código de Autor e de Direitos Conexos. A chacota de tal situação faz parte da imbecilidade humana que há muito perdeu o senso da justiça e da verdade.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Retirado do manuscrito de 11 de Março de 2013, escrito no Comboio da Linha de Cascais, entre as 21H00 e as 21H11.
Postado, em 12 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 17H21 e as 17H41.

1970 - LAYLA - DEREK AND THE DOMINOS

Toda a hora é hora de ser sonoro. Todo o som produzido é o produto de um músico. Todo o músico que se musica é uma pauta de vida. A vida pode ser um encanto ou o desencanto de um encanto. Seguramente, este é o escrito de uma pauta. O encanto é "Layla" e o músico pautado dá pelo nome de Eric Clapton. Os intérpretes denominam-se Derek and the Dominos.
Clapton dedilha as cordas das suas guitarras como se os seus dedos fossem notas de sons, extraídas à pureza da sua sensibilidade. A lenda é longa, a sua memória, na história da música popular, é a memória das suas aventuras sonoras, desde que lá pelos primórdios dos anos sessenta embarcou na viagem dos Yardbirds, semi-divididos entre os blues e a pop que Clapton acabou por rejeitar para se envolver e integrar a bluesy banda de John Mayall, os Bluesbreakers. Foi durante a permanência nessa banda que Clapton ganhou o apelido de Deus dos Blues. Porém, a ânsia de explorar novos caminhos sonoros levou-o a formar com Jack Bruce e Ginger Baker o super grupo Cream  do qual relembro o magnífico album "Disrael Gears" e o soberbo "Sunshine of your Love".  Mas Clapton não era, não é, homem de uma só viagem e não tardou que os Cream se separassem. Com a vida em polvorosa - apaixonara-se pela mulher de George Harison - Clapton juntou-se com um grupo de amigos e, com eles, gravou um único album, sob o nome de Derek and the Dominos, do qual fazia parte essa fabulosa composição que dá pelo nome de "Layla". Esqueçam a versão acústica e mergulhem na ferocidade dolorosa da composição e, sobretudo, sintam a angústia suprema da dor que varre literalmente os nossos ouvidos com os delírios instrumentais da guitarra de Clapton e, especialmente, desse esplendoroso slidar de Duane Allman que, epicamente, quasi nos mata de dor. Depois, brota, não se sabe vindo donde, um som relaxante, um marulhar de tranquilidade que nos apela ao prazer da paz. "Layla" é, acima de tudo, um tema eterno, é uma composição para ouvirmos e sentirmos o que pode ser a dor humana. Ouçam-na, quando estiverem sós.   
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, diretamente, no blogue, em 07 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 13H56 e as 14H06, em 12 de Março de 2013, entre as 15H05 e as 15H39.

sexta-feira, 8 de março de 2013

FISGADAS POLÍTICAS - XI - O SENHOR ANTÓNIO BORGES

Mais uma vez o Senhor António Borges, um dos conselheiros-mor deste reino trôpego, veio a terreno para afirmar que os salários deviam descer. Pergunta-se, que salários: todos, os mais altos, o dele? Empobrecer é, na verdade, um dos seus maiores objetivos, uma das suas preferidas falácias, um ferrete ideológico da direita mais radical nas finanças dos portugueses. Aliás, eu, não percebo porque é que o país necessita de um conselheiro destes. De cada vez que fala, os portugueses são confrontados com a opinião miserável do seu vocabulário económico que é, nem mais, nem menos, do que uma inconsistência macro-económica. O país ficaria duplamente agradecido se tal Senhor fosse dispensado dos seus conselhos. Ficavam mais saudáveis os ouvidos dos portugueses e o Estado pouparia, sem qualquer espécie de dúvidas, uns euros chorudos que dariam, certamente, para pagar um certo número de subsídios de emprego a quem não os tem.     
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, diretamente, no blogue, em 08 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H56 e as 15H10.

quarta-feira, 6 de março de 2013

FRICÇÕES - X - ESQUERDA E DIREITA

Sou de esquerda, mas não me revejo em nenhum dos vários partidos portugueses que se proclamam de esquerda. Decorridos que foram estes muitos anos de Democracia, ativa e baforenta, revolta-me que ainda não tenha sido possível a constituição de um programa comum de esquerda que seja racional, adaptado aos tempos que correm e sem o pavor em que incorrem por não considerarem que são necessários certos sacrifícios para nos pirarmos da crise em que balofamente caímos por anos e anos de incúria governativa. Espanta-me que não sejam capazes de se unirem para estabelecerem uma plataforma comum visando a área governativa, com objetivos muito claros e dotada de uma dinâmica construtiva que ofereça aos portugueses uma alternativa real a esta direita que nos afoga em águas de paralesia desenvolvamentista, mas que se sabe unir em torno do nosso desgoverno com medidas que são âncoras de uma falência coletiva que nos vai sair muito cara. É tempo de lhe combater a vitimização com que pretende justificar os seus erros de matemática, o seu desconhecimento absoluto das realidades portuguesas, a sua infantilidade macroeconómica, a sua falta de visão futurista, a incapacidade de medir as consequências dos seus atos governativos, como exemplarmente o demonstra o lançamento extemporâneo do porto de contentores para a Trafaria - será que a megalomania do TGV se transferiu para tal projecto, será que não será possível reconverter os estaleiros de Viana do Castelo, por exemplo, em apoio às pescas? -,  e de destruir, premeditadamente, graças à ausência de consumo, as pequenas empresas das áreas de comércio e de restauração, bem como a secundarização da cultura. O Governo fala em refundar o Estado, mas desconhece os reflexos do que ele representa no tecido social e económico nacional e ignora, sem preconceitos, os conceitos da demagogia económica em que lavra o estatuto das políticas que consome alarvemente.  Tudo fala de uma reindustrialização, mas todos desconhecem o modelo ou a sua planificação bem urdida, isto, duvido, se for realmente o que o país necessita para um processo de desenvolvimento saudável. Antes eram os clusters teconológicos que nos iam salvar a pele, agora são as indústrias extrativas que, segundo consta, com capitais estrangeiros, o que, objetivamente, significa que os capitais gerados serão maioritariamente canalizados para fora do país.  São estas questões de fundo que, a meu ver, terão de ser debatidas por toda esquerda e que deveriam servir de base para uma plataforma política comum entre todas elas. Se assim não for, temo que o país será um repasto para uma direita funesta. Urbi et orbi. 
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, diretamente, no blogue, em 06 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional, entre as 13H04 e as 14H07.

terça-feira, 5 de março de 2013

AFLUENTES POEMÁTICOS - XXX - ANZÓIS

Neste arrastão de peixe algum
a pesca das palavras
são anzóis
corpos dobrados sobre as águas
reflexo de dores exauridas
iscos de sabores campestres
que as humanas hostes
soletram à caverna do tempo
irrisório
cadavérico
sombras que a linha tensa
de uma gargalhada inaudível
transforma em ritos
gritos
lamentações de muros inadiáveis
adiadas que são as preces
orações sem orações
no dilúvio dos peixes cansados
almas que o desejo fustiga
que a morte encanta
nas mãos do pescador
vesúvios de júbilo
danças de canseira
sargos de sorrisos
pargos de lamentos
horas de ociosidades
nos olhos feridos
da vida por viver
soluçam os peixes
lágrimas humanas
na pesca do futuro.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, diretamente, no blogue, em 05 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional, entre as 15H40 e as 16H04

O SENHOR PINTADINHO DE FRESCO

O Senhor Pintadinho de Fresco é uma aguarela básica no modelo estonteante de um mural urbano. A sua juventude decadente é um anúncio publicitário a que todos os pimpanelas escarlates fazem vista grossa porque o seu traço fino se revela audacioso e, ao mesmo tempo, pernicioso, na estética de um humor trágico-cómico.  A visão futurista do seu papel, na fantasia acrobática do digitalismo fotográfico, baseia-se na composição hermética de uma idiotice lunática, versão agnóstica que um qualquer pigmalião não desdenharia. O Fresco é uma fatalidade que todos aplaudem, uma vinheta que todos carimbam, uma lombada em que todos reconhecem a beleza automática de um figurino maningue crepuscular.  O cenário burlesco das suas parabólicas demencionais é uma página cromática na orla costeira de uma banda desenhada onde as tiras dos seus episódios basculantes  são relevos emocionais que as bacantes baconianas rejeitariam ao pressentirem, nos seus discursos diretos, as aleivosias dos caroços cuspidos. O Senhor Fresco é uma apoplexia ambulante, é um fracasso do sucesso que todos lambem com a tinta da paranóia mirabolante. Adoram-no quando passa, varrem-no para os confins da ignorância logo que o seu estado é abúlico e tendencialmente prevertido. O Fresco é um gelado no fogo da noite e um marginal nas garras de um monte velho. Pode ser um espanto logo que a língua se solta, mas equivoca-se ao embater nos punhos absurdos da compreensão que, a pastel, argumentam bué de calafrios, em que o auge das suas cenas são vagas teatrais de uma comédia brejeira. O Senhor Fresco gosta de se pôr ao fresco mal se apercebe de que as contingências da vida são apóstolos acariciadores de vernáculo que nem judas se atreveria a desdentar. Há quem desconheça o Senhor Pintadinho de Fresco, mas o tempo que por ele passa reconhece-o em cada pincelada que o moralista do mural o desmoraliza. O Fresco, de fresco não tem nada, a não ser  o resumo itálico do seu pavoneamento colorido.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, diretamente, no blogue, em 05 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional, entre as 13H29 e as 14H34.

FRICÇÕES - IX - O ESTADO

Perguntar não faz mal e a pergunta que se segue considero-a pertinente. Quando o país atingir os picos dos juros a pagar aos seus credores, quando tiver privatizado tudo o que havia para privatizar, não recebendo o Governo os montantes que ainda vai recebendo por comparticipação estatal,  quando atingir o pico da taxa do desemprego com reflexos na receita para a Segurança Social e a prometida redução da despesa com o Estado, aonde é que o Governo vai buscar as receitas necessárias ao cumprimento da redução do défice nos próximos três anos?  
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, diretamente, no blogue, em 05 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional, entre as 12H50 e as 13H11

segunda-feira, 4 de março de 2013

AFLUENTES POEMÁTICOS - XXIX - NESTE BALDIO QUE SOU

Neste baldio que sou
sou o antes de tudo e o depois de nada,
sendo raro onde estou
e, pleno, em uma conversa, fustigada
pelo o olhar da ausência,
pela boca de uma carência
que veste a nudez
de uma venenosa mudez,
com epitáfios de surdez.
Neste vício que morde
a dureza de uma inocência,
há um breve acorde
que socorre a insolvência
e devolve à aparência
a natureza de um fiorde,
precipício de sons,
baldio fresco de tons
que dedos de tudo
e dentes de nada
revestem o corpo ossudo.
São conversas de esplanada,
ouvidos que tudo ouvem
em sentidos que nada sentem.
Neste baldio em que vivo
a desordem é um sorriso
e, o silêncio, o cativo
que é um ponto que piso
ao amanhecer que anoitece
e à noite que entontece
este baldio que sou
sem saber onde estou,
passando por passar,
vagando, sem vagar.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, diretamente, no blogue, em 04 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional, entre as 15H13 e as 15H49.