quarta-feira, 30 de maio de 2012

CRITICARTE - VI - "O SEGREDO DO BOSQUE VELHO"

De novo, na tranquilidade do bar-restaurante da Cinemateca, escuto os barulhos usuais dos empregados a trabalhar nas suas tarefas habituais, enquanto eu me recordo que no meu blogue "O Comboio do Tempo", havia um espaço intitulado "Um Escritor, Um Livro", onde, em um deles, resumi um pouco da vida do escritor italiano Dino Buzzati (1906 - 1972) e do seu livro mais famoso "O Deserto dos Tártaros" de 1940.Hoje, regresso a Buzzati para escrever sobre outro dos seus livros que me fascinou, imensamente, "O Segredo do Bosque Velho", porque ao abordar o problema do bem e do mal, mistura a fantasia e o fantástico, representados pela intervenção humanizada de uma natureza florestal e as ambições despóticas do Coronel Sebastiano Procolo com o objectivo de rentabilizar o lugar ocupado pela floresta, de que era, em parte, o dono, não hesitando, em pôr em risco de vida, o seu sobrinho Benvenuto Procolo de 12 anos e herdeiro de outra parte da floresta, provocando uma guerra entre os génios, os espíritos e as forças ocultas que povoam a floresta e o velho Procolo.É um livro para se ler de um só fôlego."Parece ter sido uma lebre que, pelas 23:55, divulgou a notícia pela floresta: "O Coronel está a morrer". A frase propagou-se como por encanto, chegou aos confins do Bosque Velho, desceu ao fundo do vale, penetrou nas pradarias desabitadas, atingiu a crista das montanhas.Os pássaros despertados do seu sono, balbuciaram palavras de incredulidade e voltaram a meter a cabeça sob a asa. Mas a notícia tornou-se insistente, repetida pelos esquilos, pelas raposas, pelas marmotas e por muitos outros animais, despertados subitamente do letargo. Os próprios ventos a repetiram, os ventos que se tinham proposto deixarem a floresta em paz pelo início do ano. Evaristo, em pessoa, interrompendo o repouso, girou por todo o lado a divulgar a notícia.Assim na valeira do Lentaccio, na orla dos abetos,reuniram-se os animais da floresta que pareciam ter feito um armistício para a ocasião. Até um velhíssimo urso, diz-se, o último sobrevivente de uma raça, apareceu entre as sombras dos troncos, também ele com a curiosidade de ver como é que Procolo morria. E as árvores em redor ficaram apinhadas de pássaros que disputavam com raivosas bicadas os melhores postos de observação. Por fim, chegaram os génios do Bosque Velho; não todos, pois não teria havido lugares que chegassem. Seriam uns trezentos ou uns quatrocentos e entre eles talvez estivesse Bernardi. Também eles se detiveram entre as árvores para que o Coronel não os lobrigasse."Tornei-me admirador de Buzzati com o "O Deserto dos Tártaros e acabei amante do seu estilo fascinante, em transformar, o vento Evaristo, numa arte de pensamento.Cinemateca, 09/12/2009 - 16H43 - Jorge Brasil Mesquita . Jorge Manuel Brasil MesquitaRecriado, em 30 de Maio de 2012, às 16H07, na Biblioteca Nacional.

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