Por muito que saiba o que não sei, só saberei que sei o que não sei. São os limites desses horizontes onde o meu corpo desagua e onde os delírios do pensamento se revoltam contra a maré-baixa dos meus pudores intelectuais. Abandonei a aprendizagem de me aprender para lá do que vivi e para além do que sofro na gasolina diária do meu tanque inerte. Não se trata de inércia. Não, trata-se do tratado que assino, diariamente, para me manter vivo na especulação voluntária de me reinventar, em cada passo que escrevo, em cada nota, em que me imagino, na inocência de uma dor inevitável. Sou um sumário de raízes involuntárias, semeado ao acaso, na impertinência de uma voz que se ama. Os frutos do seu ócio, embora pareçam amargos, revelam, no instante da prova, uma doçura, essa doçura que um edílio amoroso desfruta na gestação do seu paladar. Posso parecer o que não pareço, em horas de cólera, amplificada pelos duches de independência mental e pelos arrebatamentos de violência domesticada, mas a consciência da minha consciência é vítima de uma coerência que deslimita os limites da franqueza e da honestidade para com os caroços das minhas acções. Faço, da sua prática, um oleaduto de naturezas humanas que transmite, nos seus percursos de qualidades congénitas e de argúcias diversas, os estímulos nervóticos dos seus sinónimos prazenteiros. Sabendo o que sei de tudo quanto não sei, direi que sou a subversão da minha sobrevivência.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 29 de Maio de 2012, às 16H18, na Biblioteca Nacional.
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 29 de Maio de 2012, às 16H19, e, concluído, às 16H58 do dia 29 de Maio de 2012.
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