sábado, 23 de junho de 2012

CRITICARTE - XV - JIM THOMPSON

É comum afirmar-se, entre os críticos literários, que os livros policiais correspondem a um género de literatura menor. Felizmente, que eu sou susceptível a qualquer tipo de literatura, desde que o livro que leia, seja um prazer de subtilezas, de clarins de sentimentos, muitas vezes desencontrados, ou um rumor de florescências que desembocam em prazeres de vários idiomas.
É o caso do livro e do escritor que, hoje, escolhi, como exemplo de uma riqueza esfusiante.
O escritor Jim Thompson (1906 – 1976), exerceu durante a sua vida os ofícios de empregado de hotel, de actor, de escritor de espectáculos cómicos, de especialista em explosivos, de jogador profissional de jogos de azar e de colaborador de vários jornais. Foi argumentista dos filmes “Um Roubo no Hipódromo” e “Paths of Glory” de Stanley Kubrick. Participou com pequeno papel numa nova versão de “Farewell My Lady” de Dick Richards, baseado no policial de Raymond Chandler, com o mesmo título.
Foram adaptados ao cinema os seus livros “Getaway” de Sam Peckimpah e “Pop 1280” de Bertrandt Tavernier.
“Pop 1280” de Thompson é o livro escolhido de hoje. O enredo tem como epicentro Nick Corey que passa por ser um xerife psicopata que vive numa aldeia com 1280 almas, onde a corrupção o cerca por todos os lados. Ao decidir limpar tudo, provocou consequências terríveis. Este é um mundo sem Deus, povoado por pessoas para quem o homicídio não é mais do que um biscate ocasional.
“ Eu já tinha estado naquela casa algumas cem vezes; naquela e noutras do mesmo tipo, mas era a primeira vez que as via tal como eram. Não eram casas nem espaços para as pessoas viverem, nem nada, apenas paredes em pinho a cercarem o vazio. Não havia fotografias, nem livros, nada para onde olhar ou reflectir. Apenas o vazio que começava a impregnar-me aqui, por todo o lado, em todas as casas como esta. De repente este vazio ficou preenchido com som e imagem em todas as coisas tristes e terríveis que esse vazio tinha trazido às pessoas.”
Este livro é um belo exemplo do romance de humor negro americano.
Penso que é importante, explicar que, da minha parte, estas escolhas se baseiam em gostos pessoais de leituras feitas. É claro, que elas se sustentam em críticas que foram, igualmente, lidas, mas nunca deixarão de ser escolhas pessoalíssimas.
Oeiras, 16/10/2009 – Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 23 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H48.

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