Estou atrasado para o encontro. Chove torrencialmente. Os relâmpagos cicatrizam o céu e os trovões são a invocação dos espíritos que se ouve no rufar dos tambores mensageiros. Mal consigo ver a estrada. Os farois perdem-se na muralha pluviosa e a iluminação da estrada dança como saltibancos hipnóticos diante dos meus olhos que piscam como pingos de chuva nos ponteiros do relógio. As mãos grudadas ao volante provam a instabilidade do carro, sentem que a ansiedade que me pica os nervos me reduz a capacidade funcional dos sentidos. Estou frenético. Não posso falhar o encontro. Escolho o acelarador. As rodas resvalam, o carro ameaça-me, e sinto, em questão de segundos, que perdi o controlo da vida. Os faróis apontam à ravina que se esconde na berma da estrada. Subitamente, uma árvore sacode-me, violentamente. Sinto o sabor do sangue quente deslizar-me pelo rosto. Perco a sensibilidade das pernas. Nada mais me resta do que a visão de um encontro. Há trinta e um anos.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, no dia 30 de Abril de 2012, às 14H46.
Escrito, diretamente, no blogue, no dia 07 de Maio de 2012, às 14H27, e terminado às 14H55 do dia 07 de Maio de 2012, às 14H55
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