Neste dia de aguaceiros fortes, não passo de um pássaro meticuloso rondando as esporas do vento, como se a imperiosa necessidade de beber a vida fosse um espelho onde o meu reflexo - Ícaro despenteado - cortasse as amarras do labirinto por onde escorrem as lágrimas deste Orpheu embebido em chuvas de lágrimas que, embora invisíveis, rolam pelo silêncio do meu dia. A vida é este desespero de estar onde não estou. É um temporal de brisas no caminho empedernido desse porvir que me abraça, delicado como um anjo sem asas, sequioso de me engolir o desprezo pela fragilidade com que o enfrento. Que corpo amará o que amarei entre rugidos de medo e copos de plenitude que, embriagado pela sonolência, beberei aos escolhos de uma urgência infinita? A resposta que pesco, não a pesquei eu, brotou pura como a alegria da fonte que se lança aos braços da inocência. Inocente é este olhar, ferroso o seu lacrimejar. Duas lágrimas que o corpo fere ao destempero da noite, brasas que, no conforto da impaciência, repicam como sinos de urgência. A noite virá e, eu, serei o que os sonhos serão: olhos de Febo, corpo de Hades.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito, diretamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 07 de Maio de 2012, às 16H12, e, concluído, no dia 07 de Maio de 2012, às 16H58.
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