A vida é a sonolência do silêncio. Adoramos a impaciência da futilidade e a resistência da passividade. Desenhamos os argumentos das sequências que filmamos à apoteose da nossa vitimização. Somos coerentes na incoerência e divinizamos a inclemência do nosso subconsciente. Somos viajantes de uma vida irracional e somos empregados do raciocínio que se ausenta para parte incerta, mal a deformação do ruído que nos surpreende o declínio, se estende pela volatilidade da nossa natureza, fria e indómita, quando o cálculo da aspereza se embrulha nos novelos de uma respiração asmática. Não receamos o receio, mas congelamos as fugas da realidade, em frigoríficos de tragédias, insuflados pelos costumes da moralidade aparente. A vida é o consumo astral da impaciência e da impotência no jogo diário dos sumos colectivos. Bebem-se, sem medo, desconhece-se qual o seu prazo de validade. Ombreamos com o prazer da ostentação presumida e revelamos, encantados, a sépia confrangedora da nossa inércia. A mansidão não é um adjectivo, é um substantivo implacável. Dele, bebemos a sonolência do silêncio.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 05 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 16H35.
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 05 de Junho de 2012, às 16H36, e, concluído, às 17H05 do dia 05 de Junho de 2012.
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