terça-feira, 22 de maio de 2012

CRITICARTE - III - POESIA

Não desconheço que a Poesia é um objecto de Arte. Mas também não é menos verdade que a Poesia é um mero consumo de palavras que se agrupam num recreio de estilos perpendiculares. Qual a utilidade da Poesia? Não lhe encontro nenhuma, a não ser a de explorar os sentidos, mergulhando-os no ácido sulfúrico da génese humana. Será o poeta um arquitecto de obras sem projecto? A evidência é o claro anúncio dos seus dividendos. Será o Poeta um candidato à posteridade? Ele pensa que sim. A poesia responde-lhe que talvez. A Poesia é um bolo comum ou uma faca de dois gumes? Para a maioria é um faca de dois gumes em que, um, está mais afiado do que o outro. A intuição de um é a realidade de que o outro não se aplica à tenda dos costumes. Os verso livre está sempre afiado, para a globalidade da maioria, enquanto o outro é julgado por ser ferrugento e arcaico. Portanto, não está na moda, é despiciendo, é letra morta. Aplicar regras ao pobre do poema é enriquecê-lo com a pobreza da liberdade. O verso livre é a marca de água do nosso tempo e quem se atreve a poetar com as regras que uma certa justeza de ritmo impõe, é, pela certa, um foragido das letras castigado pelo engano. O sintético da liberdade é uma obra de Arte eloquente, a grossura, rimada e ritmada, é uma bebedeira de um ébrio poético que se esconjura, mal a crítica redundante lhe desaperta os atilhos do calçado esburacado pelas traças do arcaísmo ridículo. Não tenho dúvidas, Álvaro de Campos esmaga-me, mas os seus imitadores são uma tragédia defecada por Shakespeare numa noite de pesadelos. A Poesia é um todo, os Poetas, certos Poetas, candidatos à imortalidade, são uma parcela rudimentar dos que escrevem prosa poética julgando que a Poesia é a boca que lhes cabe por direito. Direito uma ova! Brincar à Poesia, também eu brinco e não me atrevo a pôr-me em bicos de pés, mas uso, sem qualquer pudor ou prurido, os dois gumes da faca poética. Bem afiados, como convém a toda a Poesia, que a Poesia é a musicalidade da Literatura.    
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 22 de Maio de 2012, às 14H33, na Biblioteca Nacional.
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 22 de Maio de 2012, às 14H33, e, concluído, às 15H21 do dia 22 de Maio de 2012.

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