terça-feira, 22 de maio de 2012

CISCOS DIÁRIOS - 22 DE MAIO DE 2012

Na paixão do dia sinto a revolta trocista do olhar. Atravesso as avenidas da cidade como se fosse uma ilha imaginária. A solidão é este revistimento bucólico no coração da cidade alheia ao som dos meus passos paginados pela musicalidade de uma Lua cheia que só eu avisto entre os ramos despidos de luz. Admiro as árvores que pastoreiam os passeios e ouço o canto dos seus pássaros. Os meus ouvidos sorriem, os meus lábios emitem sons de uma linguagem que desconheço o sentido. A cidade e o seu formigueiro humano revolvem-se em ondulações de vida parada. Adormeço, acordado, num raio perdido de Sol que, em um abraço de amizades férteis, me envia para o segredo do Universo. Despeço-me da cidade e, ela, despede-se de mim acordando a noite dos adornos pastorícios. Partir é sinónimo de chegar. Em cada esquina do meu segredo encontro o desejo desse amor que me acaricia com brisas de ternura e me lambe as feridas profundas das memórias que me ocultam do mundo que me rodeia. Pássaro negro que se confunde com a noite, voo para onde a sede me engole o corpo de água. Fonte eu sou, em rio me tornarei, buscando a foz do meu silêncio. A noite sabe ao que venho. Com o olhar trocista e sem paixão.   
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 22 de Maio de 2012, às 17H24, na Biblioteca Nacional.
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 22 de Maio de 2012, e, concluído, às 17H58 do dia 22 de Maio de 2012.

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