O dia já passou do seu meio dia e, eu, que já enganei a meia idade com o avanço da carne madura, pergunto às palavras que cobiço, por onde andam as roupas que despem, ao tempo que desfruto, os solavancos de um comboio que perdeu a noção das estações e a imaginação das colecções humanas que embarcam e desembarcam nos sorrisos das idades passageiras. Disseco a natureza do meu cais e recrio-me, na fonte da vida, com os bisturis que me lavam os pensamentos, seduzindo raciocínios, ao raciocínio, e revelando a realidade insociável da sua frontalidade insaciável. Menosprezo o desprezo e alimento a tempestade gradual do meu descontentamento com as palavras que sirvo ao pequeno-almoço das estâncias pueris. São passeios poéticos nas margens dóceis de uma vida que se vai esgotando por entre os escolhos que uma câmera, sem operador, recolhe aos filtros de mistérios inúteis. A chama da vida é um simples sopro de uma brisa que se afoita, inocente, por entre os diálogos breves que selam pactos de solidão com as fronteiras da decadência. Desfraldo a morte com bandeiras de vida e sacudo, com acuidade, os solavancos das impertinências inúteis. O dia subleva-se e, eu, que nele me inscrevo, escrevo a docilidade do seu tempêro mecânico. Passo a passo, desdobro os farrapos do leite nocturno. Onde há brancura, há pureza, mesmo que o seu gosto saiba à dureza do lado obscuro da vida. Obscuro, ou não, salivo o dia com a luminosidade solar de uma gargalhada singular.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, directamente, no blogue, em 28 de Janeio de 2013, na Biblioteca Nacional, entre as 14H42 e as 15H32.
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