A noite anoitece e emagrece a obesidade da sua cultura adiposa. O dia acorda e engorda a cultura urbana do seu primitivismo diário. Pergunto à arte baça do meu espelho narcísico por onde andam os reflexos imagísticos que definem os contornos ávidos das idades imaturas e dos acentos circunflexos das Primaveras que, do viço, apenas enxergam o olfacto das usuras. As gargalhadas profanas das bocas mundanas desfilam eclesiásticas pelas baforadas de um cigarro que se esfuma e da insensatez que se fuma por dentro da acidez mórbida. Rastejar é um dom, sucumbir é perspicácia e lavar a alma no óleo dos fritos é o frenesim festivo da inépcia pura. São os umbigos que, entre persianas, compôem o fado lusitano com uma orquestra de finados. Afinam-se gargantas, mascaram-se imprudências e difundem-se calosidades neste império de imperadores minorcas. Passo a passo, percorro as ruas da vida, da minha e a dos outros que se estendem sobre o ácido das peneiras. O dia é um parasita no riso esquelético de um gavião. Voa por fora e esconde-se mal o vento lhe corta as asas. Tudo o que passa, tudo o que mexe são sombras que o dia arrefece e que os adamastores da morte lenta proclamam como bastiões de lapidações doiradas. Nos carris das chamas virtuais osculam-se celulares com garrafinhas de digitalizações que divulgam cenas que esses olhos infantis de raízes pragmáticas atropelam, sem pestanejar, bué de amores entregues às volúpias de uma sangria falsamente emocional. São sentimentos de luxúrias desbragadas e fantasias de remendos ambientais. O dia é uma circulação de vícios, vícios que a noite conhece, brochuras que o dia inventa. Eis como se fecha o livro do dia: sem páginas, sem epílogos, só com o prefácio de um monólogo de um vaqueiro vicentino. Urbi et orbi.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, directamente, no blogue, em 25 de Janeiro de 2013, na Biblioteca Nacional, entre as 14H07 e as 14H52
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