terça-feira, 29 de janeiro de 2013

AFLUENTES POEMÁTICOS - XXVII - QUE MORTE SE ESPANTARÁ?

Que vida é esta que arquivo na minha memória
como se ela fosse um besouro
que se ouve na estridência do hálito urbano?
Recordo o que não vejo
e esqueço o que sinto
na virulência deste pedaço de carne humana
como se fosse um grito de silêncio
ou um eco de porcelana
no hábito de uma fome ancestral.
A resistência ao acto de sangrar palavras
é esta cinza que me respira todo
é esta sombra nocturna
que vagueia elástica
entre o fogo que a astúcia consome
e o gelo que a definha
para além de todos os mistérios
que a janela aberta do tempo
segreda
como se fossem o isco dos pensamentos
que em vagas de sangue sensível
rasgam a plasticina do passo frágil
e modelam o riso vital das noites inesperadas.
Acordo por dentro
desfaleço por fora
e seguro do abraço quotidiano
piso a rota diária da fábula serena.
Que morte se espantará com a lava edílica do meu fermento? 
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, directamente, no blogue, em 29 de Janeiro de 2013, entre as 16H19 e as 16H50

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