Gomo a gomo,
gota a gota,
o sumo deste corpo urbano
esfarela-se
como folhas de Outono.
A noite da cidade
é a cor do meu olhar,
sombras que me oferecem sorrisos,
sorrisos que são o pranto
da vida que se consome,
do luto que a pele veste,
da ausência que o amor tece
em dobrados de cintura fina.
Passo a passo,
a amplitude da sonolência
abraça a luta do silêncio,
emagrece a morfina do seu brilho
e oferece às carícias dos dedos
a bica do consumo rápido.
Sensível,
o sangue queima o desejo,
busca na fluência do seu estado
o porto da infância
onde as palavras brincam
com as células da fecundidade,
com os baloiços da tempestade
que endoidecem o medo
e serenam a coragem
a que um tédio peculiar
se aconchega, fortuito,
por desconhecer que a vida
é um molde de consequências avaras.
Dedos erráticos
navegam, digitais,
por dentro das palavras mudas,
rasgando ruídos,
filtrando silêncios,
erguendo, na planície dos calo estéticos,
o edifício caloroso
de uma tempestade solitária.
Nela, perco os sentidos
das grades que bocejam
e dos olhos que esmiuçam
a grandeza das suas minúcias,
o espectro agudo
da constelação infinita,
essa longevidade irreal
de nascer e morrer
na audácia da verbalização urbana.
Passo a passo,
gota a gota,
sou a doçura da água
e o sal do mar
onde quem sou
serei o que sou.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, directamente, no blogue, em 01 de Fevereiro de 2013, na Biblioteca Nacional, entre as 16H24, as 16H00 do dia 04 de Fevereiro de 2013 e as 15H00 do dia 05 de Fevereiro de 2013.
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