quarta-feira, 20 de junho de 2012

CRITICARTE - XIII - ALBERT CAMUS

Será que a realidade em que todos vivemos, não passa de um absurdo, absorvendo toda a simplicidade planetária que, em rotações sucessivas de 24 horas, nos esconde ou nos revela a pirataria humana, de sendo o que não se é, desperta a vontade de se ser o absurdo que se respira, não respirando nada, para se ser o nada que se é?
O absurdo de “O Estrangeiro” de Albert Camus é a obra crucial de um escritor que se ultrapassou, ultrapassando a vulgaridade, para se encarnar no pedestal da posteridade.
Albert Camus nasceu em Mondovi, na Argélia, em 7 de Novembro de 1913. Frequentou a Universidade de Argel, sendo obrigado, para custear os seus estudos, a exercer as profissões de vendedor de acessórios de automóveis, de empregado de escritório, de meteorologista e de amanuense da Prefeitura. Camus licenciou-se em Filosofia. Devido a doença, abandonou o professorado e dedicou-se ao jornalismo, primeiro em Argélia, no Alger Republicain, depois no Combat, integrado na Resistência Francesa durante a II Grande Guerra. Após a guerra, para além de se dedicar ao Desporto, foi um dos impulsionadores de um grupo de teatro: L´Equipe.
Em 1952, recebe o Prémio Nobel da Literatura e, em 1960, morre num desastre de automóvel.
Camus é um tradutor de percursos humanos que se projectam entre um sol violento, produtor de luz e, paisagens, onde se movem geografias de sombras.
O livro de Camus a que eu, hoje, dou vida é a “Queda” de 1956, que é, praticamente, um monólogo, onde se cruzam a ironia, o sarcasmo e uma variedade de pecadilhos humanos.
“O que é um juiz penitente? Ah! Deixei-o intrigado com esta história. Não ponha nisso malícia alguma, acredite, e posso explicar com mais clareza.
Há alguns anos, eu era advogado em Paris e, palavra, um advogado bastante conhecido, tinha uma especialidade: as causas nobres. Bastava-me, no entanto, farejar num réu o mais leve cheiro a vítima para que as minhas mangas entrassem acção. E que acção! Uma tempestade! Além disso eu era animado por dois sentimentos sinceros: a satisfação de estar do lado bom da barra e um desprezo instintivo pelos juízes, em geral.”
Actualmente, Camus, talvez, passe por ser um escritor de estante, o que será uma ingratidão da parte de quem é um estrangeiro em si mesmo.
Oeiras, 27/10/2009 – Jorge Brasil Mesquita

Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 20 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H27.

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