sexta-feira, 22 de junho de 2012

COLMEIA DE PALAVRAS

Li o que li e li o que não li; agora esqueço-me de ler o que não sei ler e o que não quero ler. Por puro prazer. Criei uma colmeia de palavras e provei-lhe todo o género de sentidos; depois, abandonei-a num deserto de que não me lembro o nome. Um corvo todo vestido de negro pousou no parapeito da janela e com hábil mestria abriu-me a janela dos pensamentos; as palavras ao sentirem-se livres, fugiram de mim e eu nada fiz para recuperá-las. Hoje, ao cruzar a rua dos sentidos, não me iludo com o semáforo das suas paisagens. Sei que o vento reconhecê-las-á, mal o Outono as amadureça, ao anoitecê-las. Quando for o que não fui, a colmeia das palavras descobrirá, finalmente, a espécie de deserto que sou. Biblioteca de Oeiras, 28/12/2009 - 11H38 - Jorge Brasil Mesquita. Jorge Manuel Brasil Mesquita. Recriado, em 22 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 15H06.

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