Intimidade. Que sabor tão estranho na saliva diária da sonolência, que raiva tão íntima de não ser íntimo de nada. Despir a nudez e vestir a magreza do sonho violado com o alfabeto da timidez urbana é um sentido, sem sentido, dos sentidos que não se sentem. Presença de espírito, gritam os fantasmas da ópera, algemados à geada emocional de não haver emoções à flor da pele. São íntimos da intimidade, mas revelam a fragilidade de uma infância que permanece austera no corpo de uma idade vertiginosa, em concertos de vida. O maestro e o músico são uma e a mesma personagem ao relento de uma atmosfera híbrida. Nada consola a intimidade. O desconsolo é uma imobilidade na batuta da sua sequência filmada. Vesti-la com segredos de cor, é bani-la com as banalidades de um diálogo inócuo. Intimidade, que fraqueza tão anónima no busto de uma centelha fugaz! Sagrado é o fogo que preside ao seu prazer de tudo ser, nada sendo. Intimidade! Que estranho eco, esse, o que ressoa na profundidade perpendicular de um átomo decadente. Despenteia emoções, vagueia, incólume, no universo do seu desconhecimento, é, ridiculamente finito, na inocência noturna da sua verticalidade autónoma. Não a habito se, nela, me reconheço. Sou um estrangeiro na face da sua mudez, sou um seu passageiro no bafo tricotado pelos dedos sonoros do silêncio. Intimidade! Vaga, no pudor, astuta, no ritmo ágil da sua cadência imutável. Intimidade! Ardente, na verdade pétrea do seu consumo, eterna, na pureza do seu instinto. Intimidade! É este corpo inteiro que, em nome da sua verdade, renasce, a cada passo dado, para além de todas as suas partículas sensíveis. Intimidade!
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, directamente, no blogue, em 28 de Fevereiro de 2013, na Biblioteca Nacional, entre as 14H00 e as 15H08.
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