quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

GOMOS DE UMA VIDA - 1º GOMO

Alfarroba. Do anoitecer pálido nada sobra. O cavalo da noite varre as sombras da rua e ilumina a praceta onde se sente o hálito de uma atmosfera sórdida. Os meus olhos, cansados de tanta nudez viva, observam no asfalto de um candeeiro mortiço a figura recortada de um homem que se senta na iminência parda de um banco equestre. Espreito-lhe o rosto subornado pela velhi...ce e descubro no seu olhar o brilho racional da comicidade e a da ironia bastarda. Entre os seus lábios finos dança a cigarra meia calada de um cigarro meio morto. Veste um casaco com gola de pele, uma camisa de flanela e umas calças coçadas de ganga. Olhámo-nos como se fôssemos a teoria de uma conspiração falhada. Levantei-me e, sem que a flacidez dos músculos me detivesse, aproximei-me cauteloso.
Jorge Manuel Brasil Mesquita.
Biblioteca Nacional, 14 de Janeiro de 2013 - 15h40 - 16H01.

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