Esqueço-me do cansaço, desmonto a idade, e resisto à mendicidade do tempo com a opulência do humor. Sem me rir, nem sorrir, que estes pedaços de uma ventania mental são arpões de prosa madura que pescam nas águas do inconsciente a sinusite de um canto que realça os contornos macios de uma politiquice desvairada pelos encantos de uma beleza castradora e pelas betonices da carolice pedante. Avalio a sapiência da secura e examino a ignorância da candura com que se vestem os actos ceremoniais da presunção e da castração. Sou imune à divinização. Sou opaco na transparência de quem nada transparece e sou transparente na opacidade de tudo o que envelhece. A resistência é um dardo diário no alvo da decadência, é uma dose reforçada de feijoada proverbial para que os sentimentos de rejeição atinjam os objectivos da objectividade. A ironia pode não ser a linguagem da compreensão, mas é, certamente, a travessia de um deserto onde a mais pequena aragem causa uma tempestade de areia. As dunas reconhecem os seus lacraus e os seus venenos adubam a ventilação das palavras que nascem no oásis das suas idolatrias. Danço sobre os túmulos da vacuidade humana com a mesma galhardia com que se arrufa a vindima dos destinos na petulância dos traços genéricos da genética política. Não me oponho à oposição, mas oponho-me às suas posições, sem nervo, nem estatutos de inteligência que absorvam as tentações da realidade perversa. Serei perverso? Talvez, mas a pervesidade é uma ambiguidade entre as dúvidas que racham e as perguntas que ferem, não por serem pueris, mas porque os seus ritmos adultos alteram as franjas do olhar de rapina. Esqueço-me do tempo, acordei os dedos dos regos diários. Regado por aspersão, afogueado, por absolvição.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 19 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H36.
Escrito, directamente, no blogue, no dia 19 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H38, e, concluído, às 15H43 do dia 19 de Junho de 2012.
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