Pode-se amar um livro que se esgota com palavras em sentenças de sentidos que angustiam e deprimem o leitor? Há vidas de uma vida que são ciclos de respirações que pontuam, envelhecimentos ou amadurecimentos, ao longo dos túneis que nos descobrem a descoberta de quem se foi, é ou será. Estas foram as sensações que perpassaram por mim, ao ler o livro “Nada” da escritora espanhola Cármen Laforet.
Cármen Laforet nasceu na cidade catalã de Barcelona, em 1921. Dos dois aos 18 anos viveu em Las Palmas, Canárias. No final da Guerra Civil Espanhola, em 1939, regressou a Barcelona com o intuito de estudar Filosofia e Letras. Em 1944, Cármen que já vivia em Madrid inicia o romance que viria a ser publicado em 1945, vencendo com ele, o prémio Nadal.
O romance gira à volta da jovem Andrea que se aloja em casa de familiares, em Barcelona, com o objectivo de prosseguir os seus estudos, família pobre e meia enlouquecida com os anos cruéis da ocupação franquista. Segundo o escritor Mário Vargas LLosa, “Carmen Laforet relata com uma prosa entre exaltada e glacial, onde o que se cala é mais importante do que aquilo que se diz.”
“Estas visões assustadoras perseguiram-me naquele fim de Verão com uma monótona crueldade. Nos fins de tarde sufocantes, nas noites longuíssimas, carregadas de lânguido pesar, o meu coração aterrado recebia as imagens que a minha razão não era suficiente para desterrar.
Para afugentar os fantasmas, eu saía muito para a rua. Corria pela cidade debilitando-me inutilmente. Ia com o meu vestido preto, encolhido pela tinta e que cada vez me ficava mais largo. Corria instintivamente com o pudor do meu atavio demasiado miserável, fugindo dos bairros luxuosos e bem cuidados da cidade. Conheci os subúrbios com a sua coisa de mal-acabada e poeirenta. As ruas velhas atraíam-me mais.”
Cármen Laforet viria a falecer em 28 de Fevereiro de 2004, com 82 anos e na cidade de Madrid.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 06 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 14H19.
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