segunda-feira, 2 de julho de 2012

TENHO DIAS...

Tenho dias que vivo no deserto, entre as areias errantes, as estrelas e o Sol. Quando o vento entoa os seus cânticos de desespero, eu desapareço. Abraço-me ao alfabeto das dunas e não faço perguntas, nem ouço respostas. O vento apesar de ser um concerto de sons que lambem e lamentam toda a solidão que vestem, são o corpo do silêncio que caminha, perdido e cansado, entre a luz ofegante do Sol e a suavidade luminosa das estrelas.
A noite é o camelo que me conduz à lanterna de um oásis, onde o cansaço é um sonho de nunca mais acordar. A simplicidade deste percurso diário, é a arte complicada de não pensar, sugando todo o seu encanto com a realidade das dunas que me povoam e com a eternidade do camelo que se arrasta sem oásis e sem desertos para compreender que a água reservada, não é mais do que um sopro de pérolas que choveram dos olhos, sem luz do dia, sem a luz da noite, porque as dunas apenas lambem o tempo com os lacraus da finidade. Tem dias que esta duna que aparento ser, cobre a razão da luz, esconde no silêncio da sua imobilidade a voz que o silêncio abraça ternamente para que não se ouçam os pingos da chuva que nunca se olham.
Tenho dias que sou o adeus do próprio adeus. Só o vento me acalma, só uma palmeira conhece a sombra da minha sombra.
Tenho dias que entre o deserto e as estrelas, sou a simplicidade do nada, do ninguém.
Tenho dias que é este o hábito que visto na areia solitária de um silêncio.
Biblioteca de Oeiras, 07/12/2009 - Jorge Brasil Mesquita. Jorge Manuel Brasil Mesquita. Recriado e escrito, directamente, no blogue, em 02 de Julho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H52.

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