O dia dez de Junho é, antes de qualquer outra celebração de vícios, o dia de Camões. Quem terá sido Camões? Um pobre vate que, num dia atravessado pelos rudimentos da razão, se atreveu a construir uma Epopeia. Um poeta a quem meia dúzia de pindéricos ousa besuntar com elogios fúnebres, como se tratasse de um renegado da lírica lusitana. Ora se Camões é um ilustre pregador da Cultura Nacional e o dia dez é, ou deveria sê-lo, para o relembrar, o dia deveria chamar-se o Dia da Cultura Portuguesa, em que se deveria festejar, através de várias manifestações de ídole cultural, o que de melhor se faz na criação cultural portuguesa. Porém sou vilmente enganado pelos poderes públicos que transformaram o dia, num dia de agraciados. Agraciados pela graça divina de tudo serem, menos o de representarem a Cultura Portuguesa. Para o disfarçarem resolveram apelidá-la de o Dia das Comunidades Portuguesas ou qualquer outro nome pomposo, o que vai dar tudo ao mesmo, que é uma faceta jocosa de enganar os tolos e de sabotarem a figura do ilustre vate. Agraciado por um pirilampo sagrado, sugiro, que devem, para descanso das almas penadas que presidem ao dia, agraciar com uma Comenda de uma Ordem qualquer, o poeta Camões, que do seu túmulo ignorado lhes dedicaria um soneto brejeiro, como forma de agradecimento. Pobre Camões!
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 09 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 15H06
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 09 de Junho de 2012, às 15H06, e, concluído, às 15H44 do dia 09 de Junho de 2012.
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