Há escritores altamente conceituados e há outros que nem por isso. O escritor escolhido é um dos que nem por isso, mas, como já afirmei anteriormente, as escolhas são, acima de tudo, pessoais. Tom Sharpe é um escritor que adoro ler, porque é corrosivo, implacável no cinismo, no sarcasmo e subversivo na forma como arrasa e anarquiza os costumes e outros afins.
Tom Sharpe nasceu, em 1928, em Inglaterra, estudou em Cambridge, cumpriu o serviço militar nos Fuzileiros Navais, partiu para a África do Sul, em 1951, onde trabalhou no Departamento de Assuntos Não Europeus e leccionou no Natal. Manteve um estúdio de fotografia em Pietermantzburgo, entre 1957 e 1961, ano em que foi expulso da África do Sul por motivos políticos. De regresso a Inglaterra leccionou História no colégio de Artes e Tecnologia de Cambridge.
Aconselho os leitores que se queiram iniciar com a escrita de Sharpe, que leiam, primeiro, o livro “Wilt” que os porá ao corrente do estilo de enredos que são habituais em Sharpe.
O livro escolhido intitula-se “Vícios Ancestrais”, cujo tema gira à volta de um tal Lorde Petrefact, último abencerragem de uma dinastia de capitalistas corruptos que decide encomendar a um conceituado académico de esquerda, o Professor Yapp, a história da sua família.
“Walden Yapp viajou até Fawcett em carro alugado. Quando ia a qualquer sítio geralmente ia de comboio, mas a Fawcett House não ficava perto de nenhuma estação de comboio e a consulta de Doris, o computador, tinha apenas confirmado que não havia autocarro, nem nenhuma outra forma de transporte público que ele pudesse usar para chegar até lá. E Yapp recusava-se a possuir carro próprio em parte, porque acreditava que o Estado é que devia possuir tudo, em parte por causa das ideias conservadoras que Lorde Petrefact tão bem tinha diagnosticado, mas acima de tudo, porque Doris tinha chamado a atenção para o facto das 12 a 75 libras necessárias para manter o carro podiam comprar comida e medicamentos suficientes para manter vivas 24 crianças do Bangladesh. Por outro lado ela rebatia este argumento demonstrando que se comprasse um carro estava a dar emprego a cinco trabalhadores britânicos da indústria automóvel, a dois alemães, a um meio japonês, conforme a marca que escolhesse. Depois de uma luta com a sua consciência sobre se devia permitir que cinco trabalhadores britânicos fossem desempregados, Yapp decidira-se por não ter carro nenhum e doar o dinheiro poupado à Oxfam com a triste conclusão de que era mais possível manter dois administradores sentados à secretária do que alimentar os que morrem à fome noutro sítio qualquer.”
Eu sei que os gostos se discutem e este meu é, provavelmente, altamente discutível, mas o humor não é um reconhecimento uniforme entre os que o apreciam, por isso o leitor que se atrever a lê-lo, decidirá, por si, se valerá a pena ou não, a leitura.Oeiras, 07/11/2009 – Jorge Brasil Mesquita
Moinho das Antas, 10/01/2010 - Jorge Brasil Mesquita
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 11 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H40.
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