Palavras
debruçam-se gota a gota
no parapeito do olhar;
espelham a vida absurda
de quem nunca soube amar.
Palavras
que mendigam a arte de nascer
na consciência da morte.
Abro o livro da minha coragem
com a esperança de a conceber,
mas a linguagem difícil de entender
deixa-me num estado de desnorte absoluto.
Caminho vacilante à beira de um abismo
onde o silêncio é a noite do dia
onde as palavras são o mutismo
da melancolia.
Procuro nos escombros da memória falida
uma noção de vida
um gesto puro de energia
que destile a poeira do dia a dia
mas nada sinto a não ser o cansaço
de uma longa e triste monotonia.
Palavras
que me consomem a criação
que me rasgam a ilusão
de não ser mais do que um traço
nos desenhos da razão.
Palavras
que habitam o primitivismo
da minha ciência muda
e vestem o analfabetismo
do meu futuro decadente
com as lágrimas de um medo permanente
medo das páginas em branco
das linhas por intuir
as frases malignas da frustração
medo da sonoridade inclemente
que não me deixa abstrair
dos parágrafos da colisão
entre um sorriso de inocências
e o choro das excrescências.
Palavras
que vestem as sombras da realidade
com os olhos certos da verdade.P.S. Estas "Palavras" foram publicadas no jornal da Universidade Sénior de Oeiras.
Oeiras, 08/05/2005 - Jorge Brasil Mesquita
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Recriado, em 16 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 13H56.
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