Não tardou que a chuva, em grossas bátegas, polvilhasse o solo poeirento e o alcatrão da auto-estrada 999. Das vaginas abertas nasciam bisontes que, mal se tingiam com os aromas da liberdade, partiam à desfilada em uma nuvem de poeiras cósmicas e perdiam-se nos corredores profundos da Via Láctea. Os blues da minha harmónica produziam notas que se elevavam na atmosfera e engordavam as bochechas do vento que, em golpes sucessivos, lançavam sobre o solo uma toalha de campos algodoeiros onde homens de capuzes acendiam as fogueiras aos Inquisidores das lascívias humanas que, em um tribunal, julgavam o Manual dos Inquisidores, julgando tratar-se do processo de Joana D´Arc, mas levados ao engano, não se sabe bem por quem, acabaram por ouvir a versão do Leonard Cohen que, sentado na berma da estrada, compunha os versículos de um poema emigrante. Neste lapso de tempo, perdido a destempo, os diabitos rubros, absorvidos pelos iões da ciência adulta, rolavam sobre os seus skates e, demoniacamente, mudavam de cor consoante ouviam, no seu i pod, os discursos mutantes da política veraneante que debutava na auto-estrada 999, onde os buracos são esconderijos de palavras malfeitoras. Mudei de harmónica, agora canarinha, mudei de blues: "See That My Grave Is Kept Clean".
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 21 de Maio de 2012, às 13H58, na Biblioteca Nacional.
Escrito, directamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 21 de Maio de 2012, e, concluído, às 14H41 do dia 21 de Maio de 2012.
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