Acordei com a boca seca. Levantei-me e vesti-me com um rio seco de palavras. São palavras preguiçosas, fazem da preguiça um meio de subsistência e um arauto de incoerências metalúrgicas. Ao calçar os sapatos apercebi-me de que as ideias caminham, lado a lado, com os ritmos asseados de uma valsa interpretada pelo alfabeto das transcendências mundanas. Viro-me de avesso e o avesso oferece-me as notas tradicionais de uma vida sem o amplexo de uma conjuntivite amorosa. Ao mudar-me para o exterior, para a rua da monotonia, deparo-me com o rosto sombrio do tempo. Com gestos simplórios, as palavras traduzem, de imediato, o meu estado de espírito, por um lado, irreverente, por outro, tristonho, esse estado febril de nada ser. Sendo um fantasma, sou um corpo imaginário na concentração das palavras que exploram o silêncio com as basófias das bocas iminentes. Parecem gostar de mim. Espremem-me. Sou um rio sumarento. Afinal, descubro que ao penetrar, profundamente, no alvo do meu diagnóstico, aprendi a salivar as águas saborosas da impertinência juvenil, quando esta idade que me aglutina, transforma uma árvore improdutiva, numa produção de olhares pesquisando os sentidos da selva urbana. Com eles, pinto quadros de natureza morta ou de cânticos Pop que, na sua simplicidade, são sensualidades de corpos cristalinos. As palavras, estas palavras são o carimbo de um existência que desenha, na sua essência, os calos de persistência caudalosa. Exprimem o que expresso, são o expresso para a imunidade dos pensamentos.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 11 de Maio de 2012, às 13H30, na Biblioteca Nacional.
Escrito, diretamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 11 de Maio de 2012, às 13H31, e, concluído, às 14H12
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