quarta-feira, 2 de maio de 2012

CISCOS DIÁRIOS - 02 DE MAIO DE 2012

Ontem, iniciei o dia por ir almoçar à cafetaria-restaurante Quadrante, no Centro Cultural de Belém. A gentileza é apanágio de quem nos atende e a variedade o seu hábito. Depois, entretive-me a ler, no Jornal i, a entrevista com o escritor Mia Couto, a propósito do lançamento do seu mais recente livro "A Confissão da Leoa".  Gostei da entrevista. Gosto da escrita de Mia Couto. A sua linguagem é um fascínio. Os perfumes africanos e moçambicanos envolvem-nos o olfacto do olhar e ilustra-nos o pensamento com as mangueiras e os cajueiros da nossa fome literária. A sua escrita é uma piroga nos rios das palavras e a originalidade do prazer africano habita as palhotas da vida. Leio Mia Couto como me leio a mim próprio. Saibo a luar, saibo ao afogamento da tristeza e descubro, em cada rota do tempo, as trovoadas  e a chuva da minha sede nas picadas do tempo.
Hoje, sou tudo e nada. Consumo os pensamentos que trago à flor da pele e dispo a sua nudez com os trajes da sua natureza inóspita. A chuva é a minha transpiração e, o ritmo dos seus milímetros, a respiração sinuosa da serpente que se move entre o silêncio do nada e o rufar do tudo. O dia caminha para a noite e, eu, caminho para o universo do nada, descobrindo, em cada passo, a urgência de transferir sentimentos para esse mundo vago de sonhos que tudo são e nada valem. Sou um segundo nas asas das horas. Voo sem voar, e encontro-me na fronteira onde o tudo é nada. Assim sou, assim caminho.   
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito, diretamente, no blogue, na Biblioteca Nacional, no dia 02 de Maio de 2012, às 14H59, e terminado, às 15H44

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