terça-feira, 5 de março de 2013

O SENHOR PINTADINHO DE FRESCO

O Senhor Pintadinho de Fresco é uma aguarela básica no modelo estonteante de um mural urbano. A sua juventude decadente é um anúncio publicitário a que todos os pimpanelas escarlates fazem vista grossa porque o seu traço fino se revela audacioso e, ao mesmo tempo, pernicioso, na estética de um humor trágico-cómico.  A visão futurista do seu papel, na fantasia acrobática do digitalismo fotográfico, baseia-se na composição hermética de uma idiotice lunática, versão agnóstica que um qualquer pigmalião não desdenharia. O Fresco é uma fatalidade que todos aplaudem, uma vinheta que todos carimbam, uma lombada em que todos reconhecem a beleza automática de um figurino maningue crepuscular.  O cenário burlesco das suas parabólicas demencionais é uma página cromática na orla costeira de uma banda desenhada onde as tiras dos seus episódios basculantes  são relevos emocionais que as bacantes baconianas rejeitariam ao pressentirem, nos seus discursos diretos, as aleivosias dos caroços cuspidos. O Senhor Fresco é uma apoplexia ambulante, é um fracasso do sucesso que todos lambem com a tinta da paranóia mirabolante. Adoram-no quando passa, varrem-no para os confins da ignorância logo que o seu estado é abúlico e tendencialmente prevertido. O Fresco é um gelado no fogo da noite e um marginal nas garras de um monte velho. Pode ser um espanto logo que a língua se solta, mas equivoca-se ao embater nos punhos absurdos da compreensão que, a pastel, argumentam bué de calafrios, em que o auge das suas cenas são vagas teatrais de uma comédia brejeira. O Senhor Fresco gosta de se pôr ao fresco mal se apercebe de que as contingências da vida são apóstolos acariciadores de vernáculo que nem judas se atreveria a desdentar. Há quem desconheça o Senhor Pintadinho de Fresco, mas o tempo que por ele passa reconhece-o em cada pincelada que o moralista do mural o desmoraliza. O Fresco, de fresco não tem nada, a não ser  o resumo itálico do seu pavoneamento colorido.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, diretamente, no blogue, em 05 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional, entre as 13H29 e as 14H34.

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