domingo, 20 de maio de 2012

CISCOS DIÁRIOS - 20 DE MAIO DE 2012

Entrei no Quadrante, escolhi um lugar, coloquei na mesa os jornais que trazia comigo e, em seguida, fui abastecer-me com umas costeletas, batatas, vinho e sobremesa. Sentei-me, à mesa, comi, sem pressas, e dispersei os meus pensamentos pelos ossos intragáveis da vida.  Os olhos, embora vivos, adormeceram nessa Morte de silêncios que nos contorna os escolhos das noites superficiais que, estrategicamente, mais não são do que Gigantes Adamastores ameaçando-nos com os tumultos da instabilidade emocional  e a verticalidade das irrealidades efémeras. Fui comendo, enquanto os meus dentes, dotados de pautas musicais, diluíam, em sinfonias fragmentadas, fráguas de dores que só eu compreendo e componho à doce inevitabilidade das fugas passageiras. Nem Bach as digeriria. Acabei de comer, degustando a monotonia de uma efervescência momentânea. Abri os jornais - o Jornal de Letras e A Bola - domestiquei as palavras do seus artigos e ingeri, de novo, a distância do horizonte que se alarga à feminidade das grutas onde se resguarda a atmosfera dos meus conflitos mentais. A sua utilidade resume-se aos desejos de possuir as identidades secretas dos sonhos que, sonhados, irradiam a surpresa sorridente das pontes que atravesso para alcançar a percepção segura deste corpo inadiável. Acordei a realidade, olhei à minha volta, observei sem observar, levantei-me e abandonei o Quadrante. Colado a fotografias de memórias gastas, esturguei o passo e, na paragem, mesmo junto ao Centro Cultural de Belém, apanhei o Eléctrico 15E, como se apanhasse a universalidade da minha irrelevância, essa realidade que se perde na distância de algaritmos sem alfabeto.     
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, em 20 de Maio de 2012, às 14H00, no Café-Restaurante Quadrante do Centro Cultural de Belém.
Escrito, directamente, no blogue, no Rossio, no dia 20 de Maio de 2012, às 15H29, e, concluído, às 16H18 do dia 20 de Maio de 2012.

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